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Usinagem

Renate Krieger21 de setembro de 2007

Segurança no setor aeronáutico é secundária, diz fabricante. Sete expositores brasileiros querem aproveitar expansão da usinagem para começar atividades na Europa.

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Máquina da empresa DS Technologie, que fornece para o setor aeronáuticoFoto: Renate Krieger

A firma alemã Dörries Scharmann Technologie é uma das 2.118 empresas com um estande na maior feira mundial de fabricantes de máquinas e utilitários. Durante uma semana, 42 países estiveram representados na EMO, em Hannover, norte da Alemanha. A feira termina neste sábado (22/09).

A DS mostra máquinas que produzem peças para fabricantes da indústria aeronáutica. O representante Michael Schedler fala das vantagens competitivas dos produtos da empresa, que fornece maquinário para a Airbus e para a Embraer no Brasil.

Mas, para além da inovação tecnológica e da expansão internacional – palavras de ordem que concorrem com o barulho das máquinas –, Michael Schedler comenta um assunto que não aparece tanto em feiras como a EMO.

Perguntado sobre a relação entre as máquinas e a segurança na indústria aeronáutica, à luz do acidente com o Airbus A320 da TAM que matou 199 pessoas em 17 de julho último, Schedler salienta que "a indústria aeronáutica prioriza a produtividade, quer saber como produzir uma peça da maneira mais rápida e eficaz".

Segundo ele, "a segurança aparece só numa segunda fase, quando a peça é utilizada. É nesse momento que se testa se ela responde aos critérios da indústria", explica. Mas alerta: "Pela minha experiência, a maioria dos acidentes aéreos acontece por falha humana ou problemas de manutenção. Pode até haver falhas de produção, mas é um percentual muito pequeno dos acidentes".

Brasileiros querem aproveitar expansão do mercado

A indústria alemã de máquinas e utilitários está em plena expansão. Para 2007, os fabricantes esperam um aumento de 15% nos lucros, o equivalente a 12 bilhões de euros. Os números impressionam pelo tamanho relativamente reduzido do setor no país, que emprega 65 mil trabalhadores em empresas de pequeno e médio porte.

Os sete expositores brasileiros presentes na EMO de Hannover querem pegar carona no sucesso dos fabricantes alemães. "Queremos ter um pé na Europa, um pé na Alemanha. Porque a Alemanha é a vitrine da tecnologia européia e do mundo", afirma Arthur Klink, cuja empresa de mesmo nome veio para a EMO pela segunda vez.

Klink é um alemão de Pforzheim, sudoeste do país. Se naturalizou brasileiro e estabeleceu a Arthur Klink em Sorocaba, no Estado de São Paulo, em 1962. Desde então, os 130 empregados da empresa produzem maquinário principalmente para a indústria automobilística. Klink quer abrir uma fábrica em seu país natal em 2008.

Sérgio Cruz, diretor comercial da Boneli, sediada em Piracicaba (SP), concorda com a imagem da Alemanha como líder mundial no setor. "No ramo de máquinas, ferramentas e mecânica, a Alemanha é o país com a tecnologia mais avançada."

Cruz quer distribuir seus produtos em vários países do mundo. Em especial a retífica Centerless, que desenvolveu com o pai, projetista e fundador da empresa. A máquina corrige as imprecisões de peças milimetricamente. "Nossa máquina vai chegar na Europa com um preço 20% menor que o preço da concorrência", explica Cruz, que vende a retífica por 470 mil reais no Brasil.

Dólar fraco pode favorecer brasileiros

Mesmo com a expansão do setor automobilístico – principal cliente de empresas como a Boneli –, o mercado de máquinas não está aquecido. "Muitas das peças usadas nos carros fabricados no Brasil vêm de fora. Por isso, não conseguimos vender todas as máquinas que esperávamos", explica Cruz.

A compensação deverá vir através da expansão internacional. Cruz pretende dobrar o faturamento da Boneli, que hoje gira em torno de seis milhões de reais anuais.

Do ponto de vista conjuntural, um dólar fraco não atrapalha muito os brasileiros. "30% da nossa máquina são componentes importados, o que nos prejudica. Mas já temos vantagem de custo sobre a concorrência, o que pode nos favorecer", diz Cruz.

Na Alemanha, por outro lado, um euro forte que torne os produtos mais caros no exterior pode atrapalhar os fabricantes. A indústria alemã de máquinas e utilitários vende mais da metade de seus produtos no mercado internacional. "Na Europa, a cotação do euro não tem importância. Mas, em mercados importantes como o norte-americano e o asiático, que calculam em dólar, o euro forte nos machuca muito", diz Martin Reuber, diretor de Desenvolvimento da firma alemã SMS Meer.

Renovar mão-de-obra é difícil

Outro problema – não só na Alemanha – é encontrar mão-de-obra qualificada para abastecer o setor. A EMO dedicou um evento especial a jovens estudantes e profissionais, para interessá-los pela indústria de máquinas.

EMO Werkzeugmaschinenbau-Messe in Hannover 2007
Bom negócio: máquinas alemãs crescerão 15% em 2007, com lucros de 12 bilhões de eurosFoto: Renate Krieger
EMO Werkzeugmaschinenbau-Messe in Hannover 2007
Com máquinas 20% mais barata que as européias, a Boneli de Sérgio Cruz quer deixar concorrência para trásFoto: Renate Krieger
EMO Werkzeugmaschinenbau-Messe in Hannover 2007
Artur Klink, alemão naturalizado brasileiro, quer carona no sucesso alemãoFoto: Renate Krieger
EMO Werkzeugmaschinenbau-Messe in Hannover 2007
Michael Schedler, da DS: no setor aéreo, "produtividade vem antes da segurança"Foto: Renate Krieger

"Existe uma grande dificuldade de se encontrar mão-de-obra qualificada", explica Sérgio Cruz. "Os que estão no mercado estão muito bem empregados, ou não têm as qualificações necessárias", afirma.