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Faísca alemã no fogo brasileiro

Marcio Weichert e Neusa Soliz28 de maio de 2003

Mais tradicional grupo do Carnaval de Colônia desfila em Salvador, dá show no Rio ao lado da escola de samba do Salgueiro e fica encantado com o Brasil. Viagem do Rote Funken pode render intercâmbio carnavalesco.

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Rote Funken atravessou ruas do PelourinhoFoto: Márcio Costa/Correio da Bahia

Vestidos de soldados, como manda o figurino desde sua fundação há 180 anos, 70 integrantes dos Rote Funken (Faíscas Vermelhas) desembarcaram no Brasil para mostrar como se brinca carnaval em Colônia. Em apresentações em Salvador e no Rio, com apoio do Instituto Goethe e dos governos locais, conquistaram muitos aplausos, mas terminaram sobretudo conquistados.

"Foi uma experiência fantástica, da qual jamais esqueceremos. O país é impressionante e diversificado. Tem um povo alegre, cordial e aberto, do fundo de sua alma. Nós, europeus, temos muito que aprender desta mentalidade e deste prazer de viver. Em nenhum momento há monotonia. Este país merece se desenvolver", derramou-se em elogios Heinz Günther Hunold, presidente dos Rote Funken, em conversa com a DW-WORLD.

Desfile no Pelourinho

Em Salvador, a tropa vermelho-branca desfilou pelas ruas do Pelourinho no dia 16, acompanhada pela banda de Fred Dantas e por alunos da escola de música da Universidade Federal da Bahia. A regência ficou a cargo do maestro alemão Horst Schwebel, radicado na capital baiana há mais de 40 anos.

Dentro de sua tradição, os carnavalescos alemães distribuíram balas, chocolates e amostras da água de Colônia original. "Nunca vi nada parecido. Eles parecem o Filhos de Gandhi alemão", surpreendeu-se a vendedora ambulante Maria de Jesus dos Santos, comparando o grupo com um dos afoxés mais famosos da Bahia.

Sátira ao militarismo

Fundado como sociedade carnavalesca em 1823, mesmo ano da oficialização do Carnaval de Colônia, o Rote Funken é um dos grupos da cidade renana criados para parodiar o militarismo – em especial o prussiano. Daí uniformes como figurino e marchas como música e coreografia. "Parece quartel. Todo mundo de soldado e marchando certinho", avaliou Gilberto Silva, diretor de harmonia da escola de samba do Salgueiro, que encerrou o show alemão na Sociedade Germânia, no Rio, no dia 24.

Rote Funken in Brasilien
A apresentação do casal Funkmariechen e Tanzoffizier mistura dança e ginástica acrobáticaFoto: Márcio Costa/Correio da Bahia

De fato, devido aos uniformes, ao ritmo musical e a marcha em fileiras, os elementos da sátira dos Rote Funken correm sempre o risco de passar despercebidos. Entre eles, armas enfeitadas com flores e penduradas no ombro de cabeça para baixo, marcha relaxada, coreografias coletivas debochadas (como o irreverente passo bumbum com bumbum) e do casal de balizas (Funkmariechen e Tanzoffizier, o equivalente à porta-bandeira e mestre-sala das escolas de samba).

Coração coloniano bate agora pelo Rio

Consultor de impostos, o presidente do Rote Funken ficou maravilhado com tudo o que viu na "festa extasiante" na Sociedade Germânia, desde a "esplendorosa decoração" em vermelho e branco (cores tanto do grupo alemão quanto do Salgueiro) à "apresentação de tirar o fôlego" dos sambistas brasileiros, passando pelo "entusiasmo" do público. Hunold disse ter sentido "erotismo" nas mulheres brasileiras ao receberem os tradicionais e ingênuos beijinhos de seus soldados.

Perguntado por DW-WORLD se trocaria a folia de Colônia pela brasileira, o carnavalesco alemão surpreendeu: "Do ponto de vista emocional, evidente que sim." Uma resposta que soa a confissão de pecado diante da tradicional paixão (e fidelidade) dos colonianos por seu carnaval. Entretanto, Hunold ressalta que a troca não é possível devido a seus compromissos como presidente dos Rote Funken, entre outros.

Intercâmbio carnavalesco

Mesmo assim, o novo sonho do alemão pode vir a se tornar realidade. Em conversa com o prefeito do Rio, César Maia, o grupo renano foi convidado a apresentar-se no Sambódromo no Carnaval de 2005, no desfile das escolas de samba campeãs. Hunold preocupa-se entretanto com o figurino. "Nossos uniformes são muito grossos, em comparação com as invejáveis fantasias dos brasileiros", diz ele, pensando no calor.

Por outro lado, discutiu-se várias propostas para levar uma amostra da folia carioca a Colônia. Enquanto ainda não se sabe como viabilizar legítimos representantes cariocas na capital do carnaval alemão, os Rote Funken já têm algo para antecipar. Hunold e sua tropa retornou à Alemanha com fantasias de índios na bagagem, compradas em Manaus, onde também estiveram a passeio.