Falta de medicamentos é problema grave no Irã
24 de maio de 2013O médico Nosrat Firusian relata que, certo dia, ele aplicou um anestésico num paciente. Depois de alguns minutos, o paciente continuava olhando para ele, mas com olhos ainda mais abertos. "Ele não conseguiu adormecer de maneira alguma", afirma Firusian. Desde então, o médico, que vive na cidade alemã de Recklinghausen, enche regularmente uma mala com remédios e a leva para Teerã.
Um ano atrás, Firusian ainda podia comprar produtos originais da Alemanha no Irã. Mas, atualmente, os medicamentos que seus pacientes de câncer precisam para sobreviver estão muito mais caros no Irã. Os preços duplicaram em apenas oito semanas.
Em alguns casos, chegaram até mesmo a triplicar, disse o oncologista que dirige o departamento de terapia contra o câncer no Hospital Elisabeth em Recklinghausen. Colegas de profissão do oncologista no Irã estariam encontrando dificuldades para conseguir medicamentos para crianças com leucemia.
De acordo com Michael Tockuss, da diretoria da Câmera de Comércio e Indústria Irã-Alemanha, a culpa está nas sanções internacionais, também da União Europeia, contra o Irã. O objetivo delas é obrigar o Irã a voltar à mesa de negociações, bem como a abandonar seu programa nuclear.
Medicamentos estão fora das sanções
No entanto, o sistema de sanções contém "medidas para evitar impactos negativos sobre a ajuda humanitária", respondeu o porta-voz da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, em questionamento feito pela Deutsche Welle.
De acordo com o porta-voz, medicamentos ou alimentos, por exemplo, estão excluídos das sanções. Ou seja, podem ser comercializados sem licença especial; nesse caso também estão permitidas transações com bancos iranianos, que normalmente são estritamente proibidas. Em última análise, no entanto, a decisão de negociar com o Irã compete ao setor econômico, afirmou a declaração do escritório de Ashton.
Mas o setor econômico tem dificuldades com tais negócios. Embora existam muitas empresas que queiram negociar com o Irã, são muito poucos os bancos europeus que aceitam pagamentos diretos de instituições financeiras iranianas, afirmou Tockuss. Os bancos menores, explicou, não têm pessoal para lidar com as constantes mudanças nas sanções contra o Irã.
Já bancos maiores, que atuam em nível internacional, temem a pressão dos Estados Unidos, onde as sanções são ainda mais severas do que na Europa.
Pagamentos indiretos elevam os preços
O banco alemão Deutsche Bank já não faz mais negócios com o Irã há cinco anos. Nem mesmo se tratando de produtos permitidos pelas sanções. Para contornar a situação, os negócios são feitos através de outros países, como a Rússia ou o Azerbaijão, revela Michael Tockuss, que viveu sete anos no Irã e assessora firmas alemãs em transações com o país.
Tockuss disse nunca ter imaginado que algum dia se tornaria especialista em negócios bancários do Azerbaijão. Ele se queixa que as taxas de transferência cobradas por bancos estrangeiros são tão altas que muitas vezes o negócio se torna pouco lucrativo.
Além disso, há também as violentas flutuações cambiais: nos últimos meses, a cotação da moeda iraniana, o rial, caiu drasticamente. Segundo Tockuss, a razão está na política monetária do Banco Central Iraniano, que durante muito tempo manipulou o câmbio da moeda.
Medicamentos tornam-se inacessíveis
As sanções e a desvalorização empurram os preços para cima – também os de medicamentos essenciais. "Embora ainda estejam disponíveis no país, eles são tão caros que poucos podem pagá-los", disse o médico Firusian. Quem mais sofre são as camadas desfavorecidas da população, como os aposentados ou as famílias pobres. Quando está no Irã, Firusian atende de 100 a 150 pacientes, na maioria das vezes, gratuitamente.
As tentativas da Deutsche Welle de obter uma declaração oficial do lado iraniano falharam. Um funcionário do Ministério da Saúde disse apenas: "Tudo está caro no Irã, naturalmente, também os medicamentos."
Sem os medicamentos que traz da Alemanha, disse Firusian, seus pacientes dependeriam de importações baratas e de baixa qualidade, vindas da Europa Oriental ou da Ásia. Como os anestésicos que não anestesiam.