Exílio californiano entre celebridades
13 de fevereiro de 2013Michael Meyer, professor aposentado de História na Califórnia, lembra-se com brilho nos olhos de seu "tio Rudy": "Ele era um cara legal e impressionante". Quando adolescente, Meyer era levado pelo tio, que na verdade havia sido advogado em Magdeburg, no leste alemão, para cuidar dos jardins de celebridades na Califórnia. A família do historiador sobrevivera à guerra e ao regime nazista.
Ele e um irmão foram mandados pelos pais para os EUA, a fim de verificar as possibilidades de vida na Califórnia. O encontro com Rudy Bruch nunca mais sairia da memória de Meyer.
Granja e literatura
Rudy Bruch era um sionista convicto. Na verdade, depois de fugir do regime nazista ele queria, de fato, ter migrado para a Palestina. Para isso, estudou Agronomia na Suécia. Mas, pressionado pela mulher, ele acabou mudando os planos e migrou com ela para os EUA.
Em Los Angeles, os dois compraram uma casa com granja e pomar. Ou seja, o advogado alemão Rudy Bruch acabou se transformando no jardineiro norte-americano Rudy Brook, embora tenha mantido estreitas ligações com a cultura alemã. Na ampla biblioteca de sua casa havia livros de Heine, Goethe, Schiller, Kant e outros clássicos.
Jardineiros cantores
Meyer lembra-se como "tio Rudy" cantava junto com um colega de trabalho, também imigrante judeu europeu: no caminhão com as ferramentas de jardineiro, de volta do trabalho, os dois cantavam em alto e bom som, com suas vozes maravilhosas, árias de óperas alemãs e francesas.
Fora isso, o tio sempre foi uma pessoa impressionante, relembra o sobrinho. Entre outros, ele conhecia os nomes latinos das plantas, o que deixava seus clientes de jardinagem impressionados. A vida do então jovem Michael Meyer também acabou sendo muito influenciada pelos diversos contatos e atividades dos imigrantes judeus nos EUA.
Em Los Angeles e nos arredores da cidade foi se reunindo espontaneamente uma elite cultural ligada à cultura alemã: os escritores Lion Feuchtwanger, Thomas e Heinrich Mann, Bertolt Brecht, Alfred Döblin, o compositor Arnold Schönberg e o regente Bruno Walter. Ao lado do tio Rudy e de sua esposa, Michael frequentava concertos e saraus desses artistas alemães. Ali também se reuniam outros imigrantes de língua alemã, menos conhecidos. Nessas vivências e encontros estão as raízes da profissão que Michael Meyer viria a escolher no futuro: a de pesquisador especializado no tema exílio.
Os artistas e seu público
Suas pesquisas se concentraram especialmente na história da fuga de advogados, médicos, professores, psicoterapeutas e operários da Alemanha nazista. Foi quando Meyer detectou, como que de súbito, o quanto essas pessoas haviam sido importantes para as celebridades entre os imigrantes: também como público para as apresentações de artistas exilados.
"Comecei a perceber que próximas a essas pessoas famosas havia uma espécie de classe média cultural. Judeus e não judeus, mas em sua maioria judeus. Eles eram muito cultos e interessavam-se por temas culturais. Quando Thomas Mann, por exemplo, lia partes de seus livros em público, ele precisava de pessoas que entendessem alemão. Era uma convivência interessante", analisa Michael Meyer.
Jardineiros de Billy Wilder
Rudy nunca demonstrou nenhuma espécie de rancor diante do fato de sua formação como advogado não ter sido reconhecida na Califórnia, lembra-se Meyer. Com muito esforço e perseverança, ele evoluiu de jardineiro a paisagista durante seus anos de exílio californiano, tendo trabalhado para, entre outros, Billy Wilder, Fritz Lang, os Irmãos Gershwin e o regente Bruno Walter. Sua mulher obteve uma formação como terapeuta e massagista.
E ambos conseguiram subir na vida. Rudy acabou se tornando, por fim, corretor de imóveis. O casal vendeu a granja com pomar e construiu uma casa nas colinas do Pacific Palisades, de atmosfera mediterrânea – mais precisamente no Paseo Miramar, a poucos metros da mansão dos Feuchtwanger, com uma magnífica vista para o Pacífico.
A personalidade marcante de Marta
Marta, mulher de Feuchtwanger, cuidava com dedicação do jardim da família, decorando a paisagem romântica entre pés de eucalipto e pessegueiros. A paixão pela jardinagem era um ponto em comum importante nas conversas entre ela e Meyer. Quando Lion Feuchtwanger morreu, em dezembro de 1958, a enérgica Marta assumiu a posição de agitadora cultural em Los Angeles. E jamais apenas a de imigrante. A viúva era vista correntemente na cidade tanto nos concertos oficiais quanto nos particulares. E participava também ativamente da vida política. Michael Meyer lembra-se como ela, nos anos 1970 e 1980, desencadeava acaloradas discussões quando o assunto era o período nazista, a avaliação do papel dos comunistas e a ascensão de Hitler ao poder.
Michael Meyer vive até hoje na bela casa próxima ao antigo domicílio da família Feuchtwanger, que hoje tem o nome Aurora e é residência de artistas. Para o professor aposentado, o passado continua vivo. E também aspectos da cultura alemã: Meyer toca violino com paixão e encontra a família e amigos em concertos de música de câmara.
Também sob o aspecto geográfico é mantida a ligação com a Alemanha: o casal Meyer mantém um apartamento no bairro Charlottenburg, em Berlim.
Autora: Kerstin Zilm (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer