Exército dissolve governo em Burkina Faso
30 de outubro de 2014As Forças Armadas de Burkina Faso anunciaram nesta quinta-feira (30/10) a dissolução do Parlamento e a instalação de um governo de transição para conter a onda de protestos no país, iniciada há três dias.
O presidente Blaise Compaoré, porém, disse que continuará no cargo até o fim do período de transição. Ele está há 27 anos no poder e é alvo de uma revolta popular por sua tentativa de mudar a Constituição para estender seu mandato.
"Ouvi a mensagem. Entendi e levo em conta o forte desejo de mudança", afirmou Compaoré. "Estou disposto a um período de transição, após o qual o poder será transferido para um presidente eleito democraticamente."
A decisão dos militares é tomada no dia em que a crise atingiu seu ápice, depois que manifestantes atacaram o Parlamento, destruíram a sede de emissoras pró-governo e incendiaram casas de parentes de Compaoré.
O chefe das Forças Armadas, Honoré Traoré, anunciou que um governo de transição será instalado no poder por 12 meses – até as próximas eleições presidenciais. Ele não indicou, no entanto, quem estará à frente do Executivo no período. Um toque de recolher também foi estabelecido para todo o país.
Compaoré despertou a ira de parte da população ao anunciar que pretende mudar a Constituição para estender seu mandato por mais meia década. A votação sobre a medida seria nesta quinta-feira no Parlamento, mas foi suspensa numa tentativa de acalmar os ânimos.
O presidente ainda declarou estado de emergência e disse que abriria um diálogo com a oposição. A iniciativa, porém, não serviu para conter os manifestantes.
O Parlamento foi o principal alvo das centenas de milhares de burquinenses que foram às ruas. Horas antes da anunciada votação, a sede do Legislativo foi incendiada e saqueada. Sem ação, a polícia abandonou o prédio. Carros de deputados foram destruídos. E o aeroporto da capital está fechado.
"A oposição exige a demissão de Compaoré para permitir que a calma seja restaurada", disse Benewende Sankara, que lidera o Movimento Sankarista, criado em homenagem a um dos mais estimados líderes de África, Thomas Sankara.
O partido de Compaoré, o Democracia e Progresso (CDP), tem maioria no Parlamento, e não teria problemas para aprovar a emenda.
A mobilização contra Compaoré começou na terça-feira, após convocação do líder da oposição Zéphirin Diabré. O principal grito entoado pelos manifestantes é "27 anos são suficientes", em referência ao tempo em que o presidente está no poder.
Compaoré chegou ao poder quando tinha 36 anos, após um golpe de Estado que derrubou seu ex-aliado Thomas Sankara, então primeiro-ministro. Desde 1991, foi reeleito presidente quatro vezes. Em 2005, foi introduzida na Constituição a limitação de mandatos, que Compaoré pretende agora anular.
RPR/afp/rtr