Exército da ex-Alemanha Oriental chega às telas
4 de outubro de 2005Pela terceira vez, Leander Haussmann, conhecido por sua trajetória como diretor de teatro, se lança no cinema. O assunto escolhido pelo cineasta são as Forças Armadas "menos atraentes de todos os tempos": o Exército Popular Nacional (Nationale Volksarmee – NVA, da ex-Alemanha Oriental), no qual o próprio Haussmann passou um ano e meio ou, como ele mesmo fala, "desperdiçou um ano e meio" de sua vida.
Expostos ao ridículo
O cenário é o "Quartel Fidel Castro", no final dos anos 80, em algum lugar da antiga Alemanha Oriental: o jovem sonhador Henrik Heidler é obrigado a servir ao Exército Popular Nacional do país. Além de ter que deixar seu chique boné de lado, duros tempos esperam o manso rapaz.
Ele é obrigado a cortar as madeixas de um outro recruta, porque seus superiores chamam-se Coronel Frio, Capitão Perneta ou Servo da Ração. E são ignorantes e brutais. Existem também, entre os demais rapazes, hábitos rígidos e uma hierarquia rigorosa. Há, por exemplo, a mal-afamada jukebox: um soldado é trancado em um refrigerador, onde é obrigado a cantar.
Para fugir da dureza do dia-a-dia do quartel e do isolamento de um grupo exclusivamente masculino, os homens escapam em devaneios eróticos, já que não têm permissão para tirar férias facilmente. Hendrik dispõe de sua Eva para estas ocasiões e escreve-lhe cartas saudosas: "Querida amada, Eva. São quase 22 horas e observo sua foto... Você quer salame? Cerveja?"
Hendrik conta os dias até que se encontrem novamente: "Com certeza, em breve, vamos sair de férias juntos, mas, de qualquer maneira, o juramento vai acontecer daqui a quatro semanas e então você poderá me visitar. Até lá, só posso escrever o quanto lhe gosto e espero uma carta sua, em que você me fale do quanto me ama."
"Não" às marchas militares
Com uma mistura incomum de imensa ingenuidade e roupas amarrotadas, Leander Haussmann ensaia um retrato cinematográfico da antiga Alemanha Oriental, aos moldes de seu filme anterior, Alameda do Sol (1999). Do roteiro assinado em parceria com Thomas Brussig, não escapa quase nenhum lugar-comum. Um arrivista fiel ao regime encara um teólogo crítico, um gordo pode ser bem intencionado, mas também um pouco burro, e todos os oficiais são completos idiotas.
Somente a seleção musical é completamente americana. Leander Haussmann sabe o porquê: "para mim, nunca foi tão difícil escolher a trilha sonora de um filme. A primeira idéia foi usar marchas militares. Isso tornaria, porém, o filme chato desde o início. As pessoas conhecem bem este tipo de música e justamente quando se trata de uma comédia pastelão do Exército, usa-se muito o gênero. Nós, alemães, não precisamos mais ver aquilo, que já conhecemos."
Infelizmente, Leander Haussmann escolheu o caminho mais fácil. Seu retrato da antiga Alemanha Oriental fica escondido atrás de uma ostalgia (neologismo que mistura os vocábulos nostalgia com Osten, o termo em alemão para Leste) cômica e uma candura tola.
Haussmann dá a entender que ninguém realmente acreditava nem naquele Estado nem naquele Exército e não consegue se decidir entre a diversão inocente e uma pontada crítica aqui e ali. Mas, o que ele quer realmente? "Trata-se de uma comédia romântica rodada em locações militares. Mas eu prefereria chamá-la de uma comédia romântica", explica Haussmann.
Nível de discoteca do interior?
Enfileiram-se então, uma após a outra, as doces aventuras do soldado Henrik: manobras estúpidas, festas aborrecidas de natal com os "camaradas" tagarelas, além de sucessivas bebedeiras. E tem também o personagem Krüger, que tem sorte com as mulheres, deixa o regimento e vai se divertir na discoteca da cidadezinha.
Usado pelos chefões do partido para servir de exemplo, ele é mandado para a colônia de reclusão de Schwedt e volta acabado. Aqui, também, o diretor esquece de explicar o que Krüger realmente fez de errado. Mas nada deve atrapalhar o final feliz com a queda do Muro, desertação em massa, um bando de "vira-casacas", que de repente se transformam em "democratas novos" numa Alemanha reunificada, além de um Krüger novamente em forma.
O filme de Leander Haussmann – NVA – promete mais do que pode oferecer. Mesmo que aqui e ali haja momentos bem encenados. O diretor se sai bem principalmente quando conta histórias de amor, contando com o charme de Jasmim Schwiers como a nova paixão de Hendrik.
Também os coadjuvantes Detlev Buck, Katharina Thalbach ou Ignaz Kirchner cumprem bem a função. Somente Kim Frank, antigo vocalista da banda Echt, não consegue convencer. Também, por isso, sobra do longa nada mais do que uma colcha de retalhos. E isso é muito pouco para o cinema de autor alemão, que tem a pretensão de unir qualidade e diversão.