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Executivos alemães: a velha guarda se despede

Johannes Beck (sv)3 de agosto de 2005

Os altos escalões das empresas alemãs vão dando adeus ao palco econômico. E seus lugares estão sendo tomados por representantes de uma nova geração: menos devota de hierarquias rígidas e mais aberta ao diálogo.

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Renovação de pessoal na diretoria das grandes empresasFoto: BilderBox

As ações da DaimlerChrysler subiram nada menos que 10% após o anúncio de que o presidente do grupo, Jürgen Schrempp, deixaria o cargo. O mercado de ações reagiu com otimismo, ao assistir a retirada de um executivo que, nos últimos anos, brincou sem pudores com as finanças do grupo.

Primeiro em 1992, quando a Daimler-Benz Aerospace (DASA) incorporou a fabricante holandesa Fokker, que já ia mal das pernas, pela soma nada ínfima de dois bilhões de euros. Depois vieram as dispendiosas fusões com a Chrysler e com a Mitsubishi. Ambas aventuras na casa dos bilhões de euros.

Saída nada triunfal

Galerie Jürgen Schrempp Vorstandsvorsitzender der DaimlerChrysler AG
Jürgen SchremppFoto: AP

Por essas e por outras, a prorrogação do contrato de Schrempp para mais quatro anos no posto, assinada no ano passado, deixou muita gente boquiaberta. E agora, mesmo assim, ele anuncia que sai no fim de 2005 e, atente-se para o detalhe: sem receber a gorda indenização de praxe nem os salários até o fim previsto do contrato.

A mudança na DaimlerChrysler deixa entrever que algo essencial pode estar acontecendo nos bastidores empresariais da Alemanha: uma saída nada triunfal da velha guarda. Ou seja, o mau gerenciamento, de repente, passa a ser observado e levado às últimas conseqüências. Uma tendência que tem suas raízes na postura dos novos acionistas.

"Alemanha Sociedade Anônima"

Galerie Josef Ackermann
Josef AckermannFoto: AP

Antes, as empresas alemãs eram em sua maioria interligadas, num país que se auto-intitulava "Alemanha Sociedade Anônima". Um exemplo clássico é o do triângulo financeiro de Munique entre a Münchner Rück, a Allianz e o HypoVereinsbank. Uma forma de proximidade que acabou, no mais tardar, com a incorparação do HypoVereinsbank pelo italiano Unicredito.

Um outro exemplo é a participação do Deutsche Bank na DaimlerChrysler: tradicionalmente o banco indicava o presidente do conselho fiscal da montadora. Depois da posse do suíço Josef Ackermann na presidência do Deutsche Bank, no entanto, a intimidade entre a instituição financeira e a fabricante de carros virou coisa do passado. Tanto que o banco aproveitou a escalada da DaimlerChrysler na bolsa, após o anúncio da renúncia de Schrempp ao cargo, vendendo ações do grupo no valor de 1,4 bilhão de euros.

Sobriedade se torna in

Ulrich Schumacher Infineon
Ulrich SchumacherFoto: AP

No lugar da "Alemanha Sociedade Anônima" de então, surgem investidores financeiros internacionais, como seguradoras, fundos de pensão ou grupos de investimento. Todos interessados, em primeiro plano, nos lucros. Executivos esbanjadores como Ulrich Schumacher – ex-presidente da fabricante de chips Infineon, que costumava fazer estardalhaços na bolsa de valores – hoje só incomodam o sóbrio mundo dos investidores financeiros.

Além disso, é hoje comum executivos receberem um puxão de orelha, quando os grupos empresariais começam a registrar prejuízos. Uma prática rara entre os conselhos fiscais dos tempos da "Alemanha Sociedade Anônima". Afinal, estes acionistas dependem menos de ligações pessoais do que os membros dos "clubes" de então.

Salários à mostra

Offenlegung von Managergehältern Symbolbild
Quanto ganham os executivos alemães?Foto: Bilderbox

A pressão sobre os altos escalões das empresas vem não apenas dos acionistas, mas também da legislação alemã, que se torna mais rígida. O Estado obriga as empresas, a partir deste ano, a divulgar os salários de seus executivos. O que faz com que as relações sejam mais transparentes e proporciona aos acionistas avaliar melhor se um presidente está merecendo ou não seus altos salários.

Resumindo: os cintos, para os executivos alemães, estão se apertando um pouquinho. Mais controle por parte da opinião pública e mais pressão interna. O que não deixa de ser positivo. Pois quando executivos causam prejuízos bilionários em conseqüência de um ou outro espírito aventureiro, quem paga a conta são as empresas.

Na fila do restaurante

Zetsche
Dieter ZetscheFoto: DW-TV

O novo presidente da DaimlerChrysler, Dieter Zetsche, parece ter aprendido a lição. Na presidência da Chrysler, ele adotou uma postura de simplicidade e proximidade dos funcionários, não se poupando nem mesmo de ficar na fila do restaurante da empresa na hora do almoço. Pequenos detalhes, mas que podem ser o prenúncio de um novo modelo de executivo, que passa a ser "um entre os outros", não se envergonhando de conversar com qualquer trabalhador e tendo os pés firmes no chão.

Pôr um fim na era do país formado por "famílias de empresas", dando início a um cenário que tem como protagonistas executivos menos habituados a hierarquias e mais "normais" em suas formas de comportamento vai certamente fazer bem ao país.