Europeus propõem levar Irã ao Conselho de Segurança
12 de janeiro de 2006O ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, afirmou que, com a retomada das atividades de enriquecimento de urânio, o Irã encerrou o processo de diálogo com os três países europeus. Por isso, é chegada a hora de levar a questão ao Conselho de Segurança para a adoção de possíveis sanções.
Steinmeier afirmou que será convocada uma reunião extraordinária do conselho da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para que ele tome as medidas necessárias. Para o ministro, o Irã desperdiçou chances importantes com a sua decisão unilateral. "Continuamos dispostos a resolver o problema de forma diplomática e pacífica", reforçou.
Lacre rompido
O governo do Irã, mesmo contra os alertas internacionais, decidiu romper os lacres de uma instalação de enriquecimento de urânio em Natan. O objetivo, segundo Teerã, é retomar as pesquisas com energia nuclear, mas o temor da comunidade internacional é que o país possa vir a produzir armas nucleares.
Alemanha, França e Reino Unido compõem o G-3, grupo criado para discutir com o governo iraniano a questão nuclear. Os ministros das Relações Exteriores do três países se reuniram nesta quinta-feira (12/01) em Berlim para debater o assunto.
A decisão européia vai ao encontro da vontade já expressa pelos Estados Unidos. "É mais provável do que nunca que o Irã seja levado ao Conselho de Segurança", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Sean McCormack.
Sanções difíceis
Mesmo que a questão iraniana seja levada ao Conselho de Segurança, nada garante que as sanções ao Irã venham a ser aprovadas. Para o analista da DW-RADIO, Rainer Sütfeld, que está em Nova York, impor sanções ao quarto maior exportador de petróleo do mundo não é uma questão tão simples. O principal empecilho, lembra Sütfeld, é a China, que já se posicionou contra sanções ao Irã.
Outro obstáculo é o temor crescente, até mesmo nos EUA, de que a imposição de sanções contra o Irã leve à interrupção da produção de petróleo do país, causando uma explosão nos preços do produto.
Além disso, o governo de Teerã não entrou explicitamente em choque com o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares e tem o direito, como todos os outros países, de fazer uso pacífico da energia nuclear, opina Sütfeld.
Esse ponto já foi reforçado de forma clara pelo presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. "Eu acredito que todo ser humano inteligente e saudável deve aproveitar todas as chances para conservar sua liberdade e independência", afirmou. E acrescentou: "Nossa nação tem os meios de defender e manter os seus direitos".
Iranianos opinam
Entre a população iraniana, muitas pessoas não entendem por que seu país não pode fazer uso pacífico de uma tecnologia utilizada por outras nações. Pessoas ouvidas pela redação persa da DW-RADIO nas ruas de Teerã se posicionaram a favor da decisão do governo.
Na opinião de um entrevistado, o número de pessoas no Irã a favor do uso pacífico da energia nuclear é muito maior do que o número dos que são contra. "Já os que são a favor do uso militar são uma minoria. Ninguém aqui quer a guerra", afirmou.
"Eu sou da opinião de que o povo e o governo iraniano têm o direito de fazer o uso pacífico da energia nuclear", opinou outro iraniano. "E nenhuma força neste mundo, sejam os Estados Unidos, seja Israel, irá nos tirar este direito."
Políticos de oposição, como Parwiz Vardjavand, criticam sobretudo o comportamento agressivo do presidente Ahmadinejad, que combina sua defesa do programa nuclear com declarações anti-semitas.
Já o ex-ministro das Relações Exteriores do Irã, Ebrahim Yazdi, disse esperar que, por meio de novas negociações com o europeus, possam ser evitadas conseqüências negativas para o país. "Eu acredito que a capacidade de negociação entre iranianos e europeus ainda não se encerrou."