1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Morte sem julgamento

(as)11 de dezembro de 2006

Imprensa européia e governo francês lembram os crimes cometidos durante o regime militar chileno e lamentam que o ex-ditador tenha morrido sem ter sido levado a um tribunal.

https://p.dw.com/p/9Vca
O ex-ditador chileno Augusto Pinochet, que morreu neste domingoFoto: AP

A imprensa européia classificou como "assassino", "tirano" e "símbolo do mal" o ex-ditador chileno Augusto Pinochet, que morreu neste domingo (10/12) vítima de problemas cardíacos. Várias publicações européias lamentaram ainda que Pinochet tenha morrido sem ter sido julgado pelos inúmeros crimes cometidos durante seu governo.

Também o governo francês lamentou que Pinochet tenha morrido sem ser julgado pelos crimes cometidos em seu nome. "Virou-se uma página trágica da história chilena", disse o primeiro-ministro Dominique de Villepin.

"Mas lamentamos que não tenha havido uma sentença dando a todos os que sofreram o martírio durante o governo Pinochet a possibilidade de encerrar esse capítulo", completou.

Na Inglaterra, a ex-primeira-ministra Margareth Tatcher foi a única apoiadora de Pinochet a lamentar a sua morte. Já o governo britânico louvou o empenho do povo chileno em construir uma democracia "aberta, estável e próspera", nas palavras da ministra das Relações Exteriores, Margaret Beckett.

Imprensa

Leia a seguir o que escreveram alguns jornais e revistas da Europa:

Der Spiegel (Alemanha): Morte de um tirano. No domingo, o ex-ditador chileno Augusto Pinochet morreu no convívio de seu círculo de familiares. Às suas milhares de vítimas, isso não foi permitido: muitos morreram torturados e foram jogados ao mar. Para o Chile, a morte do velho ditador significa o fim de um pesadelo de 33 anos.

Süddeutsche Zeitung (Alemanha): O legado do general assassino. O ex-ditador Augusto Pinochet dividiu o Chile até hoje. Ele morreu aos 91 anos num hospital militar - sem punição e sem nenhum remorso. Mas Pinochet não terá um funeral de chefe de Estado.

Guardian (Inglaterra): Seguidores de Pinochet acreditaram durante muito tempo que o processo contra ele era uma conspiração política num país mal-agradecido. Sua desilusão somente começou quando, no curso da guerra contra o terrorismo, a corrupção de Pinochet tornou-se por acaso conhecida com as investigações de contas secretas suspeitas. Ao final, ele tinha apenas uma meia dúzia de apoiadores. Pinochet viveu o suficiente para ver como o Chile voltou à normalidade e como a filha de um homem que foi torturado até a morte durante a sua ditadura foi eleita presidente do Chile.

Corriere della Sera (Itália): Augusto Ugarte y Pinochet, que foi presidente do Chile a partir de 1973, se tornou logo, para a maior parte das democracias ocidentais, o pior de todos os tiranos [da América Latina]. E a lista de acusações era longa. Mas entre um tirano vivo e um morto há uma clara diferença. O vivo deve ser criticado e combatido. O morto deve ser visto dentro de um contexto histórico e, se possível, explicado. Talvez tudo se torne mais fácil quando o caixão estiver fechado.

La Repubblica (Itália): Pinochet morreu numa cama, não no colchão de uma cela ou morto por uma bala vingativa. Mas o Chile não tem motivos para se sentir amaldiçoado. O homem que deixou 3 mil prisioneiros políticos serem chacinados se foi sem ter sido punido, mas ao menos cercado pela execração pública.

Libération (França): Não é um exagero concluir que, há quatro décadas, Pinochet representa um símbolo do mal. As lembranças dos prisioneiros no estádio de Santiago, dos desaparecidos e da tortura da era Pinochet não desaparecerão com ele. Sua morte natural soará para nós como algo intolerável. Ela apenas faz lamentar que esse homem, que nunca externou o menor arrependimento pelos crimes cometidos em seu nome, não tenha sido levado a julgamento.

Basler Zeitung (Suíça): A época dos extremos na América Latina parece estar desaparecendo junto com Pinochet e Fidel Castro.