Crise no Paquistão
4 de novembro de 2007De expressões diplomaticamente construídas de parceiros internacionais na luta contra o terrorismo a denúncias exaltadas de opositores nacionais, as reações à instauração do estado de mergência pelo presidente paquistanês Pervez Musharraf foram praticamente uniformes ao redor do mundo.
No domingo (04/11), o chefe da diplomacia da União Européia, Javier Solana, expressou sua preocupação a respeito da declaração do estado de emergência no país, ressaltando que o abandono do processo democrático não é o caminho para derrotar o terrorismo.
"Reconheço as atuais dificuldadas enfrentadas internamente pelo Paquistão com relação à situação política e à segurança", disse Solana. "No entanto, acredito que desviar-se do caminho democrático não pode ser a solução. Peço às autoridades no Paquistão que dêem continuidade às preparações para as eleições gerais, conforme previsto".
Também o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, expressou preocupação e pediu o retorno do país "o mais rápido possível à ordem constitucional". Steinmeier acrescentou ainda que "governo civil, respeito ao princípio da separação de poderes, independência da Justiça e liberdade de imprensa são de extrema importância para nós".
Constituição suspensa
Em uma declaração televisiva à população, Musharraf disse ter instaurado o estado de emergência em virtude da crescente influência do terrorismo, ao mesmo tempo em que o Paquistão estaria sofrendo uma espécie de "semiparalisia" em virtude do comportamento da Suprema Corte.
"A situação está mudando muito rapidamente. Terrorismo e extremismo estão no limite", disse Musharraf, citando uma série de explosões recentes, incluindo uma em Karachi que deixou 139 mortos. Como chefe do exército, é a segunda vez que Musharraf suspende a Constituição desde que assumiu o poder através de um golpe em 1999.
A medida também parece pretender evitar que o Judiciário decida contra sua reeleição nas controversas eleições presidenciais de outubro. Apesar de ter sido o ganhador disparado, o resultado vinha sendo questionado pela Justiça, já que a Constituição não permite que oficiais militares disputem cargos políticos.
Europa e EUA condenam atitude
O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Miliband, reforçou a necessidade de o Paquistão fazer valer "o poder da democracia e da lei para alcançar objetivos como a estabilidade e o desenvolvimento, combatendo o terrorismo". A atual medida, no entanto, apenas impediria o país de atingir tais objetivos.
O ministro francês do Exterior também reforçou a importância de "manter o domínio da lei". A França quer "um diálogo entre todas as forças políticas paquistanesas para garantir a estabilidade e a democracia neste grande país que é um parceiro e amigo", consta de um comunicado do governo em Paris.
Também o porta-voz da Casa Branca, Gordon Johndroe, considerou o fato "muito decepcionante". "O presidente Musharraf precisa manter suas promessas de organizar eleições livres e justas em janeiro, e de renunciar ao seu cargo de chefe do Exército antes de prestar novamente o juramento presidencial."
Segundo a secretária de Estados dos EUA, Condoleezza Rice, "aconteça o que acontecer, encorajamos o Paquistão a retornar rapidamente à ordem constitucional, a manter o compromisso de organizar eleições livres e justas e que seja mantida a calma entre as partes".
No entanto, o Pentágono já avisou que Washington não tem planos de suspender a ajuda militar ao Paquistão.
Mais perto de casa
Na Índia, vizinho e rival nuclear, a reação foi mais silenciosa. Seu ministro do Exterior apenas expressou seu "pesar" diante da atitude de Musharraf. "Desejamo-lhes estabilidade e que haja condições para que a democracia seja restaurada no país", disse o vice-ministro Anand Sharma.
O partido de oposição BJP (Partido do Povo Indiano), no entanto, cobrou uma resposta mais enérgica de Nova Délhi. "Musharraf mostrou sua verdadeira face como um ditador militar e a instauração do estado de emergência terá conseqüências não só no Paquistão, mas em toda o sul da Ásia", advertiu seu porta-voz, Rajiv Pratap Rudy.
Políticos paquistaneses de oposição a Musharraf tampouco pouparam críticas. A ex-primeira ministra Benazir Bhutto disse à emissora de televisão Sky News que seu país estaria regredindo a uma ditadura ainda maior sob o governo de Musharraf. (rr)