EUA prometem à Alemanha investigar mortes em Guantánamo
12 de junho de 2006Os Estados Unidos asseguraram ao governo alemão um "esclarecimento abrangente e imediato" do suicídio dos três prisioneiros da prisão norte-americana de Guantánamo, em Cuba.
Isso foi o que comunicou um porta-voz do governo em Berlim, remetendo-se a telefonema do conselheiro de segurança da Casa Branca, Stephan Hadley, no último fim de semana. Anteriormente, o governo alemão havia pedido que Washington investigasse as circunstâncias das mortes.
Assim como a União Européia, a Alemanha exige o fechamento da prisão de Guantánamo, onde o governo norte-americano confina prisioneiros supostamente envolvidos com terrorismo. Washington e Berlim estão negociando a libertação de Murat Kurnaz, turco residente em Bremen, encarcerado nessa prisão há vários anos.
Presos sem acusação formal
A Secretaria de Estado em Washington divulgou a identidade dos três prisioneiros que se suicidaram no fim de semana passado em Guantánamo. Trata-se de um saudita de 21 anos, acusado de lutar para o regime talibã; um iemenita de 28 anos, suspeito de envolvimento com a Al Qaeda; e de um saudita de 30 anos, cuja transferência para um terceiro país estava sendo negociada. Nenhum dos três fora julgado pelas autoridades norte-americanas.
Os três prisioneiros se enforcaram em suas celas no fim de semana passado. O fato intensifica ainda mais a pressão internacional para que Washington feche a prisão que viola as normas do direito internacional. Em Guantánamo, os EUA mantêm presos 460 homens pretensamente suspeitos de terrorismo, dos quais apenas dez foram acusados formalmente.
"Conseqüência previsível de Guantánamo"
A imprensa européia comentou que a morte dos três prisioneiros representa um grande golpe para o governo norte-americano. O jornal britânico Times, que considera Guantánamo uma "resposta excepcional a circunstâncias excepcionais", acha que a mera existência da prisão fora das normas legais já acarretou enormes prejuízos à imagem dos EUA. Esta também é a opinião do diário italiano La Stampa, que destacou as crescentes suspeitas de que os prisioneiros tenham sido executados.
O jornal francês Le Figaro ressaltou que os EUA não podem continuar se apresentando como defensores da democracia no mundo, e sobretudo no Oriente Médio, enquanto mantêm um sistema ilegal: "A luta contra o terrorismo tem que ser implacável, mas os fins não justificam os meios". O Libération, de Paris, considera os suicídios uma conseqüência previsível e calculada do sistema de encarceramento de Guantánamo.
O diário londrino The Guardian apontou que a maioria dos prisioneiros de Guantánamo não tem qualquer ligação com o terrorismo, e opina que as três mortes não vão mudar uma situação que até agora não pôde ser revertida através de representativa pressão internacional.