EUA passam de 5 milhões de casos de covid-19
9 de agosto de 2020Os Estados Unidos superaram a marca de 5 milhões de infectados pelo novo coronavírus desde o início da epidemia no país, segundo dados divulgados neste domingo (09/98) pela Universidade Johns Hopkins, que monitora os avanços da covid-19 nos EUA e no mundo.
Além de possuir o maior número de infecções em todo o planeta, o país também contabiliza a maior quantidade de mortes em razão da doença. Até este domingo, segundo a Johns Hopkins, eram mais de 162 mil óbitos no país, quase o triplo do total oficial de americanos mortos na guerra do Vietnã.
Autoridades americanas de saúde afirmam que o número real das infecções no país seria 10 vezes maior do que o oficial, o que significaria um total de 50 milhões de pessoas infectadas. Essa subnotificação se explicaria pela baixa testagem na população e pelo fato de que em torno de 40% dos portadores do coronavírus não apresentam sintomas.
A Itália, onde o coronavírus surgiu pela primeira vez na Europa, teve 35 mil mortes em razão de uma epidemia violenta que paralisou o país.
Os italianos foram pegos de surpresa pela doença, mas conseguiram controlar a situação após a imposição de um rígido lockdown de 10 semanas, adotado juntamente com medidas para rastrear o surgimento de novos surtos. Soma-se a isso a ampla aceitação das medidas preventivas por parte da população – como o uso de máscaras de proteção e o distanciamento social.
Muitos europeus se dizem espantados com a situação atual da doença nos EUA, uma vez que os americanos tiveram tempo para se preparar para a chegada do vírus, ao contrário do que ocorreu na Europa. O país poderia ter se beneficiado da experiência e conhecimento médico adquirido nos meses anteriores pelos europeus, antes dos pacientes infectados começarem a lotar as UTIs americanas.
Ao invés disso, o governo americano adotou a estratégia de negar ou minimizar a extensão da doença, o que pode ter contribuído para o aumento dos casos e das mortes, assim como diversas outras atitudes tomadas pela Casa Branca.
O ministro italiano da Saúde, Roberto Speranza, criticou o fato de os Estados Unidos suspenderem suas contribuições financeiras á Organização Mundial de Saúde (OMS) em meio a maior crise sanitária dos últimos 100 anos, e se disse impressionado com as decisões tomadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
O líder americano se recusou durante meses a usar máscaras de proteção e chegou a colocar em dúvida alertas de saúde dos próprios especialistas do governo. Ao mesmo tempo, o país vive um processo de politização da resistência ao uso das máscaras e ao confinamento, o que, segundo especialistas, amplifica o risco de contaminação.
Casos aumentam na Europa
Os altos índices da covid-19 nos EUA levaram as nações europeias a bloquear a entrada de cidadãos americanos, juntamente com outros países considerados de alto risco, entre estes, o Brasil, que atingiu a triste marca de 100 mil mortos pela doença neste sábado.
A Europa também cometeu erros ao lidar com a doença, como na demora de alguns países para impor lockdowns, falhas nas medidas de proteção aos idosos em casas de repouso, além da falta de testagens mais amplas e de equipamentos de proteção, observadas em algumas partes do continente.
O vírus ainda atinge com força algumas nações dos Bálcãs. Em Berlim, na semana passada, milhares de pessoas com os rostos descobertos participaram de um protesto exigindo o fim das restrições impostas pela covid-19, apesar de a Alemanha ter realizado um amplo relaxamento das medidas restritivas em meados de junho, a tempo das férias de verão no hemisfério norte.
Assim como ocorre na Espanha e na França, a Alemanha vê o ressurgimento da doença em níveis preocupantes, com mais de mil casos nas contagens diárias mais recentes. Na Itália, foram 500 novos casos na última sexta-feira. Já o Reino Unido tem média diária de 3,7 mil novas infecções.
Mas, apesar do aumento das preocupações em toda a Europa, os números do continente são ainda modestos se comparados aos dos EUA, que tem média de 54 mil novas infecções por dia – no Brasil, foram mais de 49 mil novos casos neste sábado, segundo fontes oficiais.
Mesmo que os números americanos estejam abaixo do pico de mais de 70 mil novas infecções em um dia registrado em meados de julho, a luta contra o coronavírus ainda está longe do fim. Quase 20 estados relatam aumento de casos, com os óbitos também em ascensão na maioria destes.
Enquanto o coronavírus surgia nos EUA, Trump dizia se tratar de uma farsa e que o vírus desapareceria rapidamente com a chegada do calor no verão do hemisfério norte.
"Não há estratégia nacional"
O americano já compartilhou nas redes sociais e até em suas coletivas de imprensa uma série de notícias falsas, inclusive ao sugerir o uso da hidroxicloroquina no tratamento da doença, sem oferecer provas da eficácia do medicamento. Em dado momento, ele chegou a sugerir a injeção de desinfetantes para conter o coronavírus.
Trump, que prega a reabertura da economia do país temendo possíveis ameaças à sua reeleição nas eleições de novembro, culpou a China pela pandemia e chegou a insinuar que o vírus teria sido criado em laboratório no país asiático.
Trump chegou a pedir a redução dos testes na população, afirmando que, quanto maior a testagem, mais casos aparecerão nas estatísticas. Ele se queixa com frequência da maior autoridade no país no combate à epidemia, o Dr. Anthony Fauci, um especialista em doenças infecciosas bastante respeitado na Europa.
O Dr. David Ho, que coordena uma equipe de cientistas da Universidade de Columbia, nos EUA, que desenvolvem tratamentos contra a covid-19, critica com veemência a forma como o governo americano vem lidando com o problema.
"Não há estratégia nacional, não há liderança e não há um pedido para que a população haja de forma unificada e obedeça em conjunto as medidas ", alertou Ho. "Estamos completamente abandonados como nação", lamentou.
Ao mesmo tempo, muitos na Europa se vangloriam de seus sistemas de saúde, que, em muitos casos, proveem testagens e tratamentos gratuitos, ao contrário do que ocorre nos EUA. Para muitos americanos, a situação é agravada pelas desigualdades raciais e de renda, que dificultam o acesso ao sistema de saúde.
RC/ap/afp
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