Estudo comprova que fóbicos veem mais rápido o que temem
28 de janeiro de 2014A aranha é um animal pequeno, mas ainda assim um verdadeiro monstro para quem sofre de aracnofobia. E o cérebro dificulta a vida dessas pessoas. Aracnofóbicos percebem imagens de aranhas muito mais rápido e por mais tempo do aqueles que não sofrem desse medo, mostra um estudo da Universidade de Mannheim.
"Nós conseguimos provar que estímulos relevantes para a fobia controlam o processamento visual no cérebro", afirma Georg Alpers, um dos psicólogos responsáveis pela pesquisa. Assim, pessoas que sofrem de alguma fobia não exageram seu medo, independentemente de quão irracional sua reação possa ser. A descoberta não vale somente para quem tem medo de aranhas, mas também para gatos, cachorros, cobras e todos os tipos de medo.
Para entender melhor como a fobia controla o cérebro, os cientistas usaram um aparelho chamado estereoscopio de espelho. Duas fotografias eram mostradas ao mesmo tempo. Um dos olhos da pessoa testada via uma imagem em escala de cinza alterando triângulos escuros e claros, e o outro olho via uma aranha ou uma flor.
"Não é possível perceber permanentemente duas imagens ao mesmo tempo. Elas competem entre si e o cérebro decide a favor de uma delas", conta Alpers. Mas essa decisão não é controlada conscientemente, completa o psicólogo. Às vezes o cérebro se decide por uma, às vezes por outra.
O cérebro de aracnofóbicos se decidia duas vezes mais pela imagem da aranha do que o cérebro de pessoas que não sofrem desse medo. No decorrer do experimento, a percepção podia mudar, e os participantes viam a imagem cinza. Só que, no caso dos que tinham medo de aranha, essa mudança de percepção demorava o dobro de tempo para acontecer. Com a imagem da flor, isso não ocorria.
"Entre os aracnofóbicos, a fotografia da aranha ganhava a competição da percepção contra a imagem neutra mais rapidamente e com mais frequência", afirma a pesquisadora Antje Gerdes.
Percepção seletiva
Para Dieter Best, vice-presidente da Associação Alemã de Psicoterapeutas, o estudo comprova algo já conhecido, ainda que com uma abordagem diferente. "Diante da quantidade de estímulos à percepção, uma escolha precisa ser tomada", afirma. Assim, sentimentos e principalmente medos parecem ter um papel fundamental nessa decisão do cérebro.
Segundo Alpers e Gerdes, a evolução, provavelmente, agiu para que estímulos ameaçadores fossem processados primeiro. Porém, no caso dos fóbicos, o tiro sai pela culatra: eles não conseguem simplesmente ignorar o que lhes causa medo.
Possivelmente, algumas conexões nervosas no cérebro são as responsáveis por essa reação. A amígdala cerebelosa – o centro do medo no cérebro – talvez esteja ligada diretamente à parte visual do córtex cerebral – a região que processa o que vemos e decide o que deve ser percebido.
Quando os olhos veem algo que tememos, essas ligações nervosas ativariam a parte visual do córtex cerebral, para ele não deixar passar algo assustador. Mas essa relação ainda precisa ser comprovada pelos cientistas.