Estudo alerta para riscos da superpopulação de pombos
13 de abril de 2013As semelhanças entre o cérebro de um pombo e o de um ser humano foram tema da última edição do Futurando. O lado esquerdo do cérebro dos pombos funciona melhor que o lado direito, da mesma forma como acontece na espécie humana. Mas apesar das eventuais semelhanças, a convivência entre pombos e pessoas pode ser problemática. Embora possam parecer aves inofensivas, os pombos são um problema de saúde pública. No Brasil, uma pesquisa indica que essas aves podem transmitir até 60 doenças para os seres humanos.
Segundo a bióloga e pesquisadora Margarete Teresa Gottardo de Almeida, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP), a Famerp, os pombos são fontes de infecção e transmissão de várias doenças, como a criptococose, salmonelose, histoplasmose e até a meningite. O contágio se dá principalmente pela via respiratória, quando se inalam os fungos encontrados nas fezes das aves. Se o organismo da pessoa que entra em contato com os excrementos estiver debilitado, aumentam as chances da propagação de doenças.
A professora coordena uma pesquisa sobre pombos há três anos. No início, a grande quantidade de pombos em locais como praças públicas, no mercado municipal e nas portas de igrejas da cidade de São José do Rio Preto chamou a atenção. Sabendo que as fezes de pombos têm bactérias e fungos que podem causar doenças, ela começou a coletar fezes dos animais para saber se as aves estavam contaminadas. Das amostras coletadas em 40 bairros na cidade, somente uma delas não apresentou o fungo causador de Criptococose (doença que afeta principalmente as vias respiratórias), área de pesquisa da professora.
Contaminação pelo ar
O vento torna-se um facilitador na propagação e dispersão do fungo, que já foi encontrado pela professora inclusive em frutas nas árvores. O trabalho mostrou que animais também estão sendo vítimas de infecções causadas por este fungo. Foram encontradas espécies de calopsitas e canarinhos contaminadas.
A pesquisa da Famerp não terminou com a divulgação dos primeiros resultados. O trabalho segue agora com a intenção de estender o estudo para as fezes de outras aves, inclusive galinhas, para ver se há alguma relação com doenças causadas aos seres humanos. Quanto aos pombos, já se sabe que em áreas silvestres eles deixam de ser um problema.
"Existe aquele estigma de que a ave é 'bonitinha', é o símbolo da paz, então as pessoas acabam alimentando os pombos, deixando-os em ambiente doméstico." Ela explica que o certo é os pombos ficarem nas florestas, em ambiente silvestre, e sugere um controle rigoroso da propagação da espécie. O primeiro passo é não alimentar a ave. Assim, ela vai começar a procurar por outros lugares. "Mas a conscientização da população é complicada", lamenta.
De acordo com a pesquisadora, há uma lei municipal em São José do Rio Preto (SP) que impede as pessoas de alimentarem pombos e define uma multa para quem infringir a norma. Segundo ela, há casos na cidade de quem alimente os animais à noite, em dias e horários alternativos, para fugir de um possível flagrante.
Problema mundial
A multiplicação desenfreada de pombos é um problema mundial, principalmente nos grandes centros urbanos. A pesquisadora lembra que em países como a Itália, campanhas buscam controlar a natalidade dessas aves não apenas pelos riscos apresentados à saúde, mas também pelo mau cheiro em pontos turísticos, em função do excesso de fezes das aves.
"Como bióloga, falo sempre a favor da vida. Existe uma importância deste ser vivo no convívio humano. Estando na origem deles, na área silvestre, eles são benéficos, comem insetos e contribuem para o controle de pragas. Há benefício quando eles estão no ambiente correto. O problema é saírem desse ambiente”, destaca Almeida.
A bióloga considera os pombos um problema de saúde pública. "Os pombos passam a ter importância na cadeia epidemiológica de várias doenças". Ela é taxativa em dizer que "onde há muitas aves, há muitas fezes, onde há muitas fezes, há muitos fungos, que são respirados, assim os pombos se manifestam como agentes de infecção."
Autora: Magali Moser
Revisão: Francis França