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Estrangeiros na telinha

(ms)8 de julho de 2003

Qual a participação dos estrangeiros nas emissoras de TV da Alemanha? Eles ainda são poucos e, quando aparecem, desempenham papéis que reforçam os clichês, salvo algumas raras exceções.

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Os apresentadores Jessica Schwarz e Mola AdebisiFoto: presse

O italiano é o amante de sangue quente; o polonês, o trabalhador ilegal que quer tirar vantagem do país; o turco é aquele cara que adora usar corrente dourada larga no pescoço, bem ao estilo malandro, meio delinqüente. Já os africanos são bandidos ou traficantes enquanto os gregos e espanhóis levam a vida numa boa, sem maiores compromissos. Será isso mesmo?

Assim como no Brasil os atores negros quase sempre desempenham papéis subalternos na TV, na Alemanha os estrangeiros normalmente são chamados para interpretar personagens exóticos que correspondam aos clichês. O pior é que, em vez de parecer pitoresco, tal postura causa certa confusão na cabeça das pessoas, especialmente na dos jovens.

Um estudo realizado com crianças de 9 a 14 anos revelou que a maioria acredita que os estereótipos apresentados exprimem a mais pura realidade. Além das novelas, os programas de entretenimento que tratam de casos de Justiça reforçam a idéia de que os estrangeiros são seres destoantes da boa postura alemã.

"Como o formato desses programas tenta se aproximar ao máximo da vida real, as crianças têm dificuldade em discernir a ficção da realidade", explica Katrin Echtermeyer, pedagoga especializada em mídia. O resultado é preocupante: quase todos os baixinhos entrevistados não têm dúvidas de que cada estrangeiro corresponde a um determinado clichê.

Na TV, com música

Erol Sander
O ator Erol SanderFoto: AP

Alguns estrangeiros já conseguiram um lugar ao sol no fechado meio televisivo alemão. O ator Erol Sander, de origem turca, é astro de uma série policial onde desempenha o papel de comissário com todas as características típicas do alemão: senso de justiça, determinação e fidelidade aos princípios.

O canal de TV Viva, especializado em música, possui três apresentadores de origem e visual nada alemães. Collien Fernandes, húngara e indiana; a turca Gülcan Karahanci, e Mola Adebisi, alemão de descendência africana dão um toque especial à programação e são figuras que conquistaram a simpatia do público.

Mola Adebisi
O apresentador do canal VIVA, Mola AdebisiFoto: AP

A presença deles nesse tipo de emissora "não fica ruim", afinal, a maioria das músicas são cantadas em inglês e os clips são internacionais. Mas onde estão os estrangeiros nos noticiários e programas de política?

A grande exceção

O alemão de origem indiana Ranga Yogeshwar pode ser considerado a grande exceção da TV alemã. Ele conseguiu chegar lá onde outros estrangeiros nem se atrevem a sonhar. Yogeshwar é apresentador e co-produtor de um programa de ciência de muito sucesso, Quark & Co. A competência para esclarecer assuntos complicados é a principal característica de seu sucesso. Isso não significa, porém, que ele seja aceito sem restrições.

Range Yogeshwar
O premiado apresentador Ranga YogeshwarFoto: AP

"Quando apresento meu programa de ciência, os outros não vêem o estrangeiro que há dentro de mim. Isso muda totalmente quando eu faço um comentário político. Aí passo a receber cartas de telespectadores com críticas, algumas bem fortes do tipo: 'você não devia se meter nisso'. Nessa hora percebo que sou aceito como estrangeiro esclarecedor, mas não como um estrangeiro crítico", revelou Ranga Yogeshwar.

Mais discussão para uma mudança de postura

A verdade é que a presença dos estrangeiros na TV alemã ainda é praticamente inexistente num país onde vivem mais de 7,5 milhões destes, sem contar com os que já receberam a cidadania alemã. A porcentagem é alta, de quase 10% da população. A TV seria um canal ideal para contribuir para a integração, aceitação e respeito mútuo entre os que moram na Alemanha.

Para Ranga Yogeshwar, o assunto precisa estar constantemente em pauta até que haja uma maior harmonia, ou melhor, até que ninguém mais faça distinção entre o alemão e o estrangeiro. O processo é difícil e lento, mas não impossível.