Espanha aguarda com apreensão eleições na Catalunha
26 de setembro de 2015As eleições na Catalunha deste domingo (27/09) podem marcar o início da separação da região do resto da Espanha. No pleito, os 7,5 milhões de habitantes da comunidade autônoma localizada a nordeste do país ibérico escolherão os representantes de seu parlamento. Contudo os políticos nacionalistas, liderados pelo presidente da Generalidade da Catalunha, Artur Mas, estão tratando as eleições como uma espécie de plebiscito sobre a independência.
Artur Mas formou uma coalizão separatista com políticos de sua base e candidatos de apelo popular. Caso os nacionalistas consigam 68 ou mais assentos no parlamento catalão, o plano é iniciar um processo de secessão com conclusão até 2017.
"Frente a todas as pressões e poderes que estão se alinhando para frustrar essa operação de liberdade e democracia, temos que mostrar que a voz e a decisão do povo catalão vale mais do que todo o poder que Madri está mobilizando", declarou Mas a seus simpatizantes na cidade de Manresa.
A oposição do governo espanhol aos movimentos de independência tem levado o país a passar por uma das mais severas crises políticas dos últimos anos. O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, prometeu que apelará aos tribunais para impedir a iniciativa, valendo-se do argumento de que a independência catalã iria contra a Constituição.
"Nós somos a Catalunha"
"Vocês têm que sair e votar para dizer a Mas: 'Você não é a Catalunha, nós somos a Catalunha'", instou Rajoy num comício realizado na cidade de Reus. O primeiro-ministro acrescentou que há "uma maioria de catalães que amam sua terra e seu povo, e não querem ser amputados".
Aqueles que querem a independência argumentam que o Estado espanhol não investe o suficiente na região, a mais rica do país, e que o idioma e a cultura catalães têm sido reprimidos.
"Estamos esperando conseguir uma maioria para que o governo espanhol nos conceda a independência e nos deixe ser um país independente", afirma o metalúrgico Juan Roura Sánchez, que esteve nos protestos em favor da independência. As manifestações em Barcelona, em 11 de setembro, Dia da Catalunha, contaram com centenas de milhares de participam.
"Sentimos raiva e impotência, parece que estamos num país seguindo rumo à ditadura. Já tivemos uma antes e não queremos outra."
Eleições sem precedentes
As pesquisas de boca de urna dão uma pequena vantagem na disputa legislativa à coalizão independentista Juntos pelo Sim, da qual Mas é um dos líderes. Caso essa previsão não se concretize, os separatistas precisarão do apoio do partido de esquerda Candidatura de Unidade Popular (CUP), também a favor da independência. O CUP, porém, está reticente em apoiar o conservador nacionalista Mas para outro mandato na presidência da Catalunha.
"Essas são eleições sem precedentes", explica o sociólogo Josep Lobera, da Universidade Autônoma de Madri, em entrevista à DW. "A única questão sendo debatida nessas eleições é se deve ou não haver uma independência. A situação chegou a tal ponto que todas as outras questões foram deixadas de lado, ninguém fala de outra coisa."
O Juntos pelo Sim anunciou que, se vencer, vai embarcar imediatamente na secessão, iniciando o processo de criação de novas instituições catalãs e de uma Constituição própria para a região. De acordo com esse cronograma, a Catalunha se tornaria independente entre seis e 18 meses a partir da eleição deste domingo.
Um movimento nessa direção com certeza desafiaria as cortes que, segundo se espera decidiriam contra qualquer tipo de separação da Espanha. Porém, em novembro de 2014, Mas ignorou uma sentença do Tribunal Constitucional e organizou um referendo extra-oficial sobre a independência. Na ocasião, cerca de 80% dos votantes apoiaram a separação, apesar de o comparecimento às urnas ter sido pequeno, devido ao status ilegal da consulta pública.
Risco financeiro
Além das questões jurídicas, críticos apontam diversos obstáculos para o projeto de independência, incluindo a possível exclusão da Catalunha da União Europeia. Na última terça-feira, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, confirmou esse cenário em resposta ao deputado conservador do Parlamento Europeu Santiago Fisas.
"Nenhum parlamento regional pode contradizer a Constituição nacional", confirmou Juncker. Antes, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, também tinham feito declarações nesse sentido.
Com a campanha chegando ao fim, as repercussões econômicas de uma secessão catalã têm sido examinadas. O presidente do Banco da Espanha, Luis Maria Linde, já alertou que, além de impactos na política monetária, uma retirada da região da União Europeia poderá ter outros efeitos financeiros.
"A saída da Catalunha da zona do euro seria automática", disse Linde, em debate realizado em Madri. "Se houvesse tensões sérias, poderia haver um congelamento dos depósitos, como vimos na América Latina e na Grécia."
Esses comentários vieram logo após duas associações, representantes de vários bancos espanhóis, publicarem um comunicado conjunto sobre os riscos da independência da Catalunha. Entre eles foram citados a saída da zona do euro, a insegurança judicial e a falta de crédito.
Alarmismo econômico
O político Mas acusou o presidente do Banco da Espanha e outros em Madri a fazer alarmismo em prol do governo espanhol. "Estamos no século 21, não na Idade Média. Eles sabem perfeitamente que isso é mentira, eles apenas querem manter o status quo e assustar as pessoas, influenciando o voto delas."
Com eleições nacionais esperadas para dezembro, os resultados da votação de domingo ganham importância adicional. As pesquisas mostram que a tendência é o Partido Popular (PP), do primeiro-ministro Rajoy, perder diversos assentos no parlamento catalão. Por outro lado, a legenda Cidadãos, rival e pró-união, deve crescer consideravelmente no governo regional.
Paralelamente, o novo partido antiausteridade Podemos fará sua estreia nas eleições da Catalunha numa coalizão com outras forças da esquerda. Denominada "Catalunha Sim Nós Podemos", a aliança é a favor de um referendo negociado para a região, mas não apoia a independência.