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Escolha de patrocinadores dos Jogos Olímpicos gera polêmica

29 de julho de 2012

O que têm a ver Coca-Cola, McDonald's, BP e Dow Chemical com sustentabilidade? Ambientalistas e ativistas dos direitos humanos colocam em xeque "Olimpíadas mais verdes de todos os tempos".

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London,Tower Bridge ,li:Tower,Olympische Ringe,Nachtaufnahme,Stadtansicht,Bruecke, Themse,Fluss,river Thames,Nachtaufnahme,Stadtansicht,26.07.2012. Olympische Sommerspiele 2012 in London vom 27.07. - 12.08.2012 in London/ Grossbritannien.
Foto: Reuters

"A sustentabilidade foi a base de todas as decisões em torno dos Jogos Olímpicos de Londres, desde que vencemos a concorrência em 2005." Esta frase consta dos comunicados de imprensa do comitê organizador das Olimpíadas de 2012. Embora não corresponda exatamente à verdade.

Sem dúvida: o East End londrino se transformou, de paisagem desolada de galpões industriais em decomposição e terrenos baldios, num verdejante Parque Olímpico. Duas mil árvores e 300 mil arbustos foram plantados, 2 milhões de toneladas de solo contaminado foram tratadas. A utilização das instalações esportivas depois das Olimpíadas também já está assegurada.

"Estes são, sem dúvida, os Jogos mais sustentáveis que já existiram", exulta Shaun McCarthy, chefe da Comissão por uma Londres 2012 Sustentável, falando à DW. "Não está perfeito, mas somos mais verdes do que Sydney e vamos deixar um legado mais sustentável do que Barcelona."

Teoria e prática

Mas o que têm a ver com sustentabilidade a Coca-Cola, o McDonald's, o conglomerado petrolífero BP, a companhia de mineração Rio Tinto ou a gigante da indústria química Dow Chemical?

Revestimento do Estádio Olímpico trará logo da Dow Chemical
Revestimento do Estádio Olímpico trará logo da Dow ChemicalFoto: picture-alliance/dpa

Estes são apenas alguns dos abastados patrocinadores com os quais o Comitê Olímpico Internacional (COI) fechou contratos de vários anos, os quais chegam a somar centenas de milhões de dólares. A Dow Chemical, por exemplo, financiou as estruturas têxteis que formam o revestimento externo do Estádio Olímpico, com permissão para promover seu próprio logotipo.

Ambientalistas e ativistas dos direitos humanos mostram-se indignados. "Acusamos o COI de não ter verificado os fatos", ataca Michael Gottlob, especialista em Índia no braço alemão da ONG Anistia Internacional. "Os Jogos Olímpicos de Londres se gabam de ser os mais sustentáveis. E aí é espantoso que entre os patrocinadores se encontre uma empresa envolvida em uma das maiores catástrofes ambientais do mundo."

Inferno de Bhopal

Na metrópole industrial indiana Bhopal, em 3 de dezembro de 1984, cerca de 40 toneladas de gás pesticida altamente tóxico vazaram da fábrica da norte-americana Union Carbide, atualmente pertencente à Dow Chemical.

Estimativas falam em 8 mil mortos imediatamente após a catástrofe. Mais de 15 mil pessoas morreram por consequências posteriores, e pelo menos 100 mil ficaram cronicamente doentes. Muitos sofreram danos no cérebro e em outros órgãos, ficaram cegos, recém-nascidos apresentaram má-formação.

"Enfurecedor é os organizadores simplesmente adotarem a posição da Dow Chemical", diz Michael Gottlob em entrevista à Deutsche Welle. O conglomerado se exime de qualquer responsabilidade, por só ter assumido a Union Carbide 16 anos após o desastre químico, e rechaça qualquer compromisso de indenizar as vítimas ou recuperar o terreno, contaminado até hoje.

Survivors of the 1984 Bhopal gas tragedy shout slogans outside the residence of Indian Olympic Association President Vijay Kumar Malhotra during a protest against Dow Chemicals sponsorship of the London 2012 Olympics, in New Delhi, India, Tuesday, April 10, 2012. The deadly 1984 gas leak at a Union Carbide plant in Bhopal, central India, killed an estimated 15,000 people and injured half a million. Dow bought Union Carbide in 2001 and says legal claims from the disaster have been resolved. (Foto:Manish Swarup/AP/dapd)
Sobreviventes da tragédia de Bophal, em 1984, protestam contra patrocínio da Dow ChemicalFoto: AP

"Mas justamente a esse respeito há uma ação judicial em andamento. Simplesmente adotar a posição de uma das partes não é admissível", critica Gottlob.

Em 1989, o governo indiano e a Union Carbide chegaram a um acordo, declarando cumpridas todas as reivindicações e excluindo futuras ações por parte das vítimas. No entanto, dois anos mais tarde, o Supremo Tribunal da Índia declarou inválido esse acordo. E há mais de 20 anos a Promotoria Geral do país processa os responsáveis dos EUA, que permanecem impunes até hoje.

Dinheiro na frente dos princípios

A ex-presidente do Comitê de Sustentabilidade dos Jogos Olímpicos Meredith Alexander também expressa indignação. "Não aceito o argumento do COI de que não haveria outros patrocinadores. Como marca, os Jogos Olímpicos são algo único e muito atrativo."

Em protesto contra a Dow Chemical, ela renunciou ao cargo no início do ano. Londres 2012 é certamente mais verde do que Pequim, Atenas ou Barcelona. Mas sustentabilidade "não tem só a ver com árvores e ursos panda, mas também com pessoas e suas necessidades", declarou Alexander à DW.

Beschreibung ist Meredith Alexander, ex-member of Commission for a Sustainable London 2012. Zugeliefert am 25.7.2012 durch Nicole Goebel. Copyright: Meredith Alexander
Meredith Alexander pediu demissão do COI em protestoFoto: Meredith Alexander

E tem a ver também com os princípios estipulados na Carta do Movimento Olímpico, ressalta Michael Gottlob. "Lá, não se fala apenas de esporte como um direito humano: também se trata de justiça e solidariedade. Nesse ponto, certas firmas simplesmente não servem como patrocinadores."

E conclui: ao que tudo indica, para o COI foi mais importante angariar verbas do que respeitar os próprios princípios.

Autoria: Mirjam Gehrke / Nicole Goebel (av)
Revisão: Francis França