Empresas alemãs veem Brasil com otimismo
13 de março de 2018O chefe vem nos receber pessoalmente. Pablo di Si nos espera na porta do seu espaçoso escritório em São Bernardo do Campo. A linha de produção e os escritórios da Volkswagen do Brasil ocupam mais de 1 milhão de metros quadrados nesta cidade do interior paulista.
A produção na primeira fábrica da Volkswagen fora da Alemanha começou em 23 de março de 1953. Agora, a empresa está pronta para dar um próximo grande passo, diz Di Si. Até 2020, a montadora alemã planeja investir 7 bilhões de reais no lançamento de 20 novos produtos, 13 dos quais para o mercado interno.
"Estamos muito otimistas em relação à economia brasileira", afirma Di Si. "A inflação está em queda, as taxa de juros estão baixas, os consumidores podem pegar empréstimos baratos – e vão comprar nossos carros."
O argentino está há apenas quatro meses na chefia da Volkswagen do Brasil, mas já mudou significativamente a empresa. Ele aposta na comunicação franca, encontra-se com jornalistas e revendedores, com consumidores e políticos. Ele chama sua iniciativa de "Nova Volkswagen".
"A crise acabou, as coisas estão andando de novo", afirma Di Si, e apresenta números. Em janeiro e fevereiro, a Volkswagen do Brasil vendeu 17% mais carros do que no mesmo período do ano anterior. Isso significa que também vendeu bem mais do que a concorrência.
Porém – e isso é algo sobre o que Di Si não gosta de falar – a crise econômica que afeta o Brasil desde 2013 atingiu em cheio a Volkswagen. A produção em três turnos teve de ser deixada de lado em várias áreas, pois um turno era suficiente para atender à demanda. Milhares de funcionários perderam seus empregos ou tiveram suas horas reduzidas.
Agora eles estão sendo trazidos de volta pouco a pouco. "Ok, não se trata de novos empregos porque eles já existiam antes, mas estamos gerando emprego de novo porque a economia está ganhando ritmo", comenta Di Si.
O risco político
Muitos representantes do setor econômico veem na política brasileira, abalada por sucessivos escândalos de corrupção que criaram um ambiente de incerteza para as eleições deste ano, o único fator de risco para o desenvolvimento econômico.
"Estamos num processo de transição", diz o presidente da Siemens do Brasil, André Clark. Ele se declara cautelosamente otimista. "O Brasil está abrindo seus mercados, e há muitas oportunidades."
Segundo ele, os pedidos estão aumentando, e os clientes da Siemens voltaram a investir. Clark avalia que a expansão da economia brasileira vai durar no mínimo até 2020 e criar novos postos de trabalho. "Acreditamos no Brasil", afirma.
O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK), Thomas Timm, tem um ponto de vista similar e argumenta de forma pragmática. "O Brasil precisa fazer logo investimentos em infraestrutura, no setor de saúde e na digitalização que já estão atrasados", assegura.
Timm vive e trabalha no Brasil desde meados dos anos 1980 e já passou por várias crises. "Esta última foi a pior de todas, ela empurrou muitas pessoas para a pobreza. Mas agora as coisas estão andando de novo."
Ele menciona ainda a tradicional atitude de otimismo dos brasileiros perante as dificuldades. Além disso, Brasil é o maior e mais populoso país da América Latina e tem muito a oferecer. "Considere o número enorme de consumidores. Um mercado como esse interessa a muitas empresas", afirma.