Empresas alemãs se unem no combate a roubos de cabos metálicos
31 de julho de 2012Eles vêm geralmente à noite, quando todos dormem. Sob o manto da escuridão, procuram estradas de ferro, retiram cabos de postes de eletricidade e de semáforos ou levam fios de cobre de provedores de telecomunicações. Os ladrões procuram também outros tipos de metais, num negócio lucrativo. Uma tonelada de cobre pode valer até 10 mil dólares. Com preços assim, não é de se espantar que os ladrões estejam empreendendo uma verdadeira caçada a essas matérias-primas.
E entre as empresas que mais sofrem com isso está a ferroviária alemã Deutsche Bahn. Somente em 2011, cerca de 11 mil trens chegaram atrasados ao seu destino, num total de 150 mil minutos de atraso – segundo a empresa, uma consequência dos furtos. O prejuízo foi de cerca de 15 milhões de euros.
Mas os furtos afetam também empresas de telecomunicações, fornecedoras de energia e comerciantes de metal. Por isso a Deutsche Bahn, a gigante alemã das telecomunicações Deutsche Telekom e a empresa de energia RWE se uniram à associação alemã dos comerciantes de metal para combater o problema.
Sistema para troca de informações
"Nos últimos quatro a cinco anos, os casos de furto aumentaram drasticamente e vemos também que os roubos de fios de cobre se tornaram mais profissionais. O problema já está entrando claramente na área de crime organizado", afirma o porta-voz da Deutsche Telekom, Philipp Blank.
A empresa registrou no ano passado 320 casos, que somaram um prejuízo de cerca de 820 mil euros, sem contar os prejuízos que os clientes tiveram com perdas de dados e linhas de telefone mudas. "Queremos estabelecer um sistema de alerta, para que possamos trocar informações mais rapidamente. Muitas vezes, os roubos se concentram numa região e atingem não apenas uma empresa."
As empresas querem combater os furtos marcando seus cabos com DNA artificial e empregando helicópteros no rastreamento de criminosos. A Deutsche Bahn é a que mais enfrenta dificuldades para assegurar seu patrimônio, já que dispõe de uma rede ferroviária de 34 mil quilômetros na Alemanha, o que corresponde a uma volta e meia em torno da Terra. "Caçamos os ladrões com uma equipe composta de 3.700 agentes de segurança e usando câmeras térmicas", diz Jens-Oliver Voss, diretor de segurança corporativa da Deutsche Bahn.
Nenhum perigo para os passageiros
Voss ressalta, no entanto, que os roubos não apresentam riscos para os passageiros. "Nesse tipo de incidente, todos os sinais ficam vermelhos e todos os trem param." O dano real é percebido pelos passageiros quando chegam atrasados ao trabalho ou perdem o voo de férias. "Isso é uma coisa particularmente irritante", comenta.
A Deutsche Bahn já vem há algum tempo usando DNA artificial na batalha contra os ladrões, marcando trilhas e cabos com a substância. Ela permite que a propriedade roubada e os criminosos possam ser identificados mais facilmente. Até agora, o DNA artificial foi utilizado em trechos onde existe a maior ocorrência de roubos, como no leste e no norte da Alemanha e no estado de Renânia do Norte-Vestfália. "A Telekom também está cogitando empregar esse método", afirma Blank.
Áreas de segurança máxima
Comerciantes de metal estão investindo pesado em equipamentos de segurança para darem conta do problema. "Nossas empresas têm investido uma quantidade enorme de dinheiro em novos sistemas de segurança", diz o presidente da associação dos comerciantes de metal, Ralf Schmitz.
Muitas empresas instalaram sistemas vigilância por vídeo, contrataram empresas de vigilância e melhoraram suas cercas de segurança. "A maioria das instalações já está parecendo áreas de segurança máxima", compara Schmitz.
Os ladrões não atacam somente de noite, garante ele. Nos últimos tempos, os criminosos começaram a usar de violência durante o dia. "Há pouco tempo, funcionários de um de nossos associados foram espancados e roubados. Num outro caso, homens armados amarraram funcionários e levaram grandes quantidades de cobre." Especialistas acreditam que a maioria dos metais roubados acaba indo parar na Europa Oriental e na Ásia.
Seguros se tornam inviáveis
Devido ao elevado número de furtos, os seguros contra roubos ficam cada vez mais caros para as empresas. "Os custos de seguro subiram entre 300% e 400%", diz Schmitz. A nova parceria pretende também avisar os pontos receptores de metal, para tentar dificultar a venda das mercadorias roubadas.
Entretanto, a nova parceria de segurança não deve ser interpretada como uma resposta a um mau trabalho da polícia. "Por parte da polícia, o único problema é o federalismo. Na Alemanha, não há um escritório central que lide com esse tipo de crime, em cada estado há uma distribuição distinta de responsabilidades", reclama Schmitz.
A RWE diz ainda não ter detectado problemas de abastecimento de seus clientes por causa de roubos de metal. Mas a empresa apela aos criminosos com outro argumento. "Quem tenta roubar cabos de uma subestação elétrica arrisca a própria vida", diz um porta-voz.
Autor: Arne Lichtenberg (md)
Revisão: Alexandre Schossler