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Em teste com ratos, droga para câncer ajuda a conter covid

29 de janeiro de 2021

Experimento pré-clínico mostra que medicamento plitidepsina, desenvolvido por farmacêutica espanhola, interrompe propagação do coronavírus nos pulmões. Próxima fase é teste com humanos.

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O medicamento Aplidin, desenvolvido pela farmacêutica PharmaMar
O medicamento Aplidin, desenvolvido pela farmacêutica PharmaMarFoto: David Fernandez/Agencia EFE/imago images

O medicamento Aplidin (plitidepsina), originalmente desenvolvido para combater o câncer, apresentou resultados promissores em testes pré-clínicos em conter a replicação do novo coronavírus nos pulmões, segundo um estudo divulgado pela renomada revista Science.

A divulgação do estudo fez as ações da empresa espanhola PharmaMar dispararem, mas exige cautela. O resultado fala apenas "em potencial eficácia pré-clínica", ou seja, a eficácia da droga em combater a covid-19 só foi testada em ratos e ainda precisa ser examinada em humanos.

O estudo, realizado in vitro e in vivo por uma equipe de cientistas em Nova York, São Francisco e Paris, mostrou que o Aplidin (nome de mercado da droga) leva a uma redução da replicação do coronavírus, com uma diminuição de 99% das cargas virais nos pulmões dos animais.

O medicamento, aprovado na Austrália para o tratamento do mieloma múltiplo, bloqueia uma proteína associada com o vírus da covid-19. Segundo a empresa, a toxicidade do medicamento é bem conhecida, e as doses utilizadas nos ensaios da covid-19 são toleradas em humanos.

"Quando infectamos animais e os tratamos com a dose adequada de plitidepsina, uma redução extraordinária da carga viral foi produzida", disse Pablo Aviles, chefe de toxicologia não clínica e farmacologia da PharmaMar, à agência de notícias Reuters. "É como se o vírus na célula infectada precisasse usar uma fotocopiadora para se copiar e criar novas partículas, e a plitidepsina bloqueasse essa fotocopiadora."

Reguladora europeia não deu aval 

O Aplidin foi originalmente desenvolvido com o ingrediente ativo plitidepsina em combinação com dexametasona contra o mieloma múltiplo, uma forma de câncer de medula óssea.

O ingrediente ativo é extraído do Aplidium albicans, animais marinhos que parecem plantas e têm aberturas em forma de tubo com as quais eles sugam e expulsam água. Por isso, leva o nome popular de esguicho marinho. Diz-se que a substância natural plitidepsina tem efeitos antivirais, antitumorais e imunossupressores.

Na Austrália e no Sudeste Asiático, o Aplidin é aprovado como um medicamento contra o câncer. Entretanto, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) rejeitou o pedido de aprovação duas vezes - em dezembro de 2017 e março de 2018.

A razão da decisão foi que os resultados de pacientes com mieloma múltiplo que sobreviveram após uso da plitidepsina não convenceram a autoridade reguladora da UE. Os benefícios da droga, segundo a entidade, não compensariam os riscos.

Isso porque ocorreram graves efeitos colaterais - mais frequentemente com a combinação de plitidepsina e dexametasona do que com o uso apenas de dexametasona.

Promissor contra a covid-19

Desde o início da pandemia, a plitidepsina está em discussão. Não é raro que medicamentos destinados a um propósito específico mais tarde, ou em combinação com outras substâncias ativas, mostrem um efeito diferente e inesperado. Outros medicamentos também estão sendo testados quanto à sua eficácia em relação à covid-19.

Houve resultados positivos na Fase 1 em março de 2020, seguido por dados confirmatórios da Coreia do Sul em julho. Pelo menos sob condições de laboratório, a eficácia contra o Sars-CoV-2 tem sido animadora até agora, e isso é agora confirmado pelo artigo da revista Science, que defende a expansão para ensaios clínicos após a revisão dos resultados dos testes.

O medicamento bloqueia uma proteína associada ao coronavírus. Ao fazer isso, a plitidepsina não visa uma proteína específica no vírus - como muitas outras drogas - mas sim uma proteína nas células do paciente. Isso significa que, se a droga for bem-sucedida em humanos, o vírus não poderá se tornar resistente simplesmente por mutação.

A PharmaMar diz estar em conversações com várias agências reguladoras. A mais avançada é com os reguladores espanhóis e britânicos para iniciar os ensaios da Fase 3 para testar a segurança e a eficácia do medicamento em um grande grupo de humanos. Atualmente estão sendo tomadas decisões sobre o número de participantes a serem inscritos no teste.

"Inicialmente, não estamos visando pacientes de terapia intensiva, mas pacientes que estão sendo tratados no hospital. Os médicos estão trabalhando conosco para identificar as diferentes fases pelas quais uma pessoa doente passa e em quais se concentrar, idealmente, para obter os melhores resultados com a plitidepsina", disse Aviles.

Fabian Schmidt
Fabian Schmidt Jornalista especializado em Ciência, com foco em tecnologia e invenções.