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Retrospectiva cibernética

21 de dezembro de 2010

Tecnologias de comunicação e informática cada vez mais avançadas impulsionam continuamente a revolução da informação. Mas ela também tem uma face militar, que ficou bem visível para o mundo neste ano de 2010.

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Neste ano, a internet alcançou uma nova dimensãoFoto: picture-alliance/dpa

Se há um nome que define o atual processo de militarização do espaço cibernético, esse nome é Stuxnet. Em meados de 2010, este malware apareceu de repente, provavelmente depois que já tinha feito o seu trabalho, que era sabotar o programa nuclear do Irã e, mais especificamente, o complicado processo de enriquecimento de urânio.

O que deixou os especialistas de informática boquiabertos foi o fato de o Stuxnet ter sido projetado especialmente para a manipulação de sistemas de controle industrial. Seus criadores, que continuam desconhecidos, também conseguiram equipar o verme cibernético com poderosas ferramentas para infecção de redes com alto poder de proteção.

Stuxnet – o "míssil de cruzeiro digital"

Agora, todos os prognósticos sobre possíveis ameaças devem ser reconsiderados, já que os sistemas de controle industrial atacados pelo Stuxnet são utilizados em todo o mundo, em instalações como usinas, indústrias químicas e refinarias.

O especialista em segurança de dados Stefan Ritter, do Departamento Federal de Segurança em Tecnologia de Informação da Alemanha, localizado em Bonn, se diz preocupado, porque o Stuxnet comprova a viabilidade de ataques a infraestruturas críticas. "Não se trata mais de uma ameaça fictícia. É uma ameaça real de grande porte e extremamente sofisticada", avalia.

O perigo vindo do ciberespaço também chegou até a Otan. Na sua cúpula em Lisboa, em novembro, a aliança adotou uma nova estratégia. A organização considera os ataques cibernéticos como uma das três maiores ameaças da atualidade, além do terrorismo e das armas de destruição em massa.

EUA criam "Cyber Command"

As autoridades militares dos EUA criaram o "Cyber Command", cuja missão é a conquista do ciberespaço. Os "guerreiros cibernéticos" são comandados pelo general Keith Alexander, que também é chefe da poderosa agência NSA (sigla em inglês para Agência Nacional de Segurança), parte do Departamento de Defesa dos EUA. Em junho último, Alexander descreveu as funções do "Cyber Command".

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Alemães exigiram pixelização de casasFoto: Screenshot google.de

Além da integração e sincronização de todas as atividades cibernéticas do Departamento da Defesa, Alexander afirmou que a nova unidade é responsável pela execução de "todo o espectro de operações militares cibernéticas".

O significado concreto disso foi explicado no início de novembro pelo Washington Post, três dias depois de o "Cyber Command" entrar em operação. De acordo com o diário norte-americano, o "cibergeneral" Keith Alexander deseja para si o direito de atacar redes de computadores em qualquer lugar do mundo, em defesa dos interesses americanos.

WikiLeaks, o serviço secreto do povo

Caso o "Cyber Command" pudesse, faria de tudo para tirar do ar o portal WikiLeaks. A organização, especializada na revelação de dados sigilosos pela internet, se tornou conhecida do mundo ao publicar no final de julho quase 80 mil documentos secretos dos EUA a respeito da guerra no Afeganistão. Os relatos de soldados, oficiais de inteligência e oficiais de embaixadas pintavam um quadro sombrio da situação no país e provocaram uma maior discussão sobre o significado da guerra e sobre uma retirada rápida das tropas.

As autoridades militares dos EUA espumaram de raiva. O secretário de Defesa, Robert Gates, acusou o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, de ter causado sérios danos. O militar afirmou que "a publicação dos documentos pode trazer consequências potencialmente graves e perigosas no campo de batalha para as tropas dos EUA e de seus parceiros, além de prejudicar a reputação e as relações dos EUA nesta importante região".

Sem desanimar com os violentos ataques sofridos, o WikiLeaks apresentou em 22 de outubro mais uma série de quase 400 mil documentos secretos que lançavam nova luz sobre a guerra no Iraque. Nunca antes foram revelados tantos documentos militares secretos dos EUA. O Departamento da Justiça norte-americano analisa agora se Assange não violou as leis de espionagem do país. Aparentemente, o Departamento de Defesa não conseguiu dar conta de proteger seus dados segredos.

Maior golpe veio em novembro

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WikiLeaks começou revelando segredos de guerraFoto: AP

Mas o maior golpe dado pelo WikiLeaks veio em 29 de novembro. Cerca de 250 mil mensagens confidenciais e secretas de representações diplomáticas norte-americanas ao redor do mundo foram disponibilizadas ao público. Os telegramas diplomáticos com, entre outras informações, avaliações sinceras feitas pelos diplomatas norte-americanos sobre diversas autoridades estrangeiras afetaram um dos pontos mais delicados da diplomacia norte-americana, que é a confiança que ela gozava entre seus parceiros.

Os diplomatas norte-americanos ficaram ocupados por semanas com a amenização dos danos causados. Enquanto a Suécia tenta conseguir a extradição de Julian Assange, por conta de acusações de estupro, uma guerra estourou por causa do WikiLeaks. Provavelmente sob a pressão do governo dos EUA, prestadores de serviços de internet tiraram o WikiLeaks de seu servidor, prestadores de serviços financeiros não encaminharam mais as doações destinadas à plataforma.

Enquanto isso, simpatizantes do portal atacaram os sites de empresas e departamentos públicos que consideravam inimigos do WikiLeaks. Ao mesmo tempo, o governo dos EUA tentou tirar as lições do vazamento de dados e, para melhor proteger os seus segredos, separou as redes de dados que eram compartilhadas pelas Forças Armadas e pelo Departamento de Estado. De qualquer forma, segundo estimativa da mídia norte-americana, cerca de 2,5 milhões de pessoas possuem acesso aos dados confidenciais.

Alemães também discutem sobre dados privados

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General Keith AlexanderFoto: AP

Na Alemanha, a defesa de dados privados ocupou a opinião pública de outra forma. Desde janeiro de 2008, companhias de telecomunicações alemãs eram obrigadas a guardar, por motivo de segurança, dados das chamadas telefônicas e do tráfego de internet dos seus usuários durante seis meses. No dia 2 de março, o Tribunal Constitucional Federal definiu, no entanto, que esse armazenamento de dados é incompatível com a Lei Fundamental do país.

A briga em torno do novo serviço do gigante da internet Google, Street View, mostrou o quanto a proteção de dados privados é algo sagrado para os alemães. Desde meados de novembro, qualquer pessoa pode explorar pela internet as primeiras 20 cidades alemãs escaneadas pelo Google. Antes do lançamento do serviço, porém, houve uma discussão acalorada em torno do tema proteção da privacidade. No final, cerca de 250 mil cidadãos obrigaram a companhia a pixelizar as fachadas de suas casas no Street View.

Entretanto, eles não sabem o que estão perdendo. A interpenetração entre mundo físico e mundo virtual já produziu os seus primeiros heróis reais. Um deles é Bob Mewse. O inglês de 56 anos, residente na cidade de Bristol, se tornou famoso em novembro. Ele ficou tão decepcionado com sua aparência após se ver no Street View que passou a se alimentar de forma mais saudável e a praticar exercícios. Como consequência, perdeu um terço de seu peso.

Autor: Matthias von Hein (md)
Revisão: Carlos Albuquerque