Eleições no Congo sob proteção européia
7 de março de 2006No encontro de dois dias, realizado na cidade austríaca de Innsbruck, os ministros da Defesa dos países europeus reiteraram mais uma vez a disposição de seus países de enviar tropas ao Congo.
A pedido das Nações Unidas, a União Européia deverá enviar um contingente de até 1500 soldados, a fim de garantir que o resultado das eleições presidenciais de junho próximo seja cumprido. Eles servirão de apoio aos 16 mil capacetes azuis da ONU já instalados no país.
Apesar da incerteza na forma de atuação conjunta dos europeus, os ministros da Defesa da Alemanha, da França e do Reino Unido reafirmaram, em Innsbruck, o interesse de seus países em participar da missão.
Pobre apesar de rico
A República Democrática do Congo, antigo Zaire, é um dos países africanos mais ricos em matérias-primas. Devido a anos de má administração, corrupção e guerras civis, o país centro-africano é um dos mais pobres do planeta.
Após oito anos de guerras envolvendo mais de 200 diferentes tribos, cerca de 3,9 milhões de pessoas já morreram e a renda média anual dos 60 milhões de congoleses não ultrapassa os 120 dólares.
Depois da morte de Laurent Kabila em um golpe de Estado, o Congo é governado, desde janeiro de 2001, por Joseph Kabila, que tenta continuar as reformas do pai. Ele assinou tratados de paz com os países vizinhos Uganda e Ruanda e promulgou uma nova constituição para a nação de mais de dois milhões de quilômetros quadrados.
Desde sua independência da Bélgica em 1960, estas serão as primeiras eleições democráticas da República do Congo. Kabila espera legitimar a sua posição de presidente por via democrática.
Muitos chefes de milícias, entretanto, pertencem ao atual governo e não têm chances de ganhar o pleito. O perigo de estes chefes milicianos tentarem, através da violência, continuar no poder é grande e justifica a atuação das forças da ONU nas eleições.
Soldados alemães contra soldados crianças?
Ulrich Delius, da Sociedade para Povos Ameaçados, comenta a problemática levantada por políticos, caso soldados alemães se confrontem com soldados crianças.
Delus afirma que isto não deverá acontecer, pois, caso os alemães participem da força-tarefa da ONU, está previsto que eles se concentrem somente na área da capital Kinshasa, vigiando o aeroporto e assegurando a evacuação de observadores europeus e funcionários da ONU, em caso de emergência.
Os exércitos de crianças soldados se encontram no Leste do país, onde forças da ONU tentam manter a paz. A missão dos soldados franceses, prevista para fora da capital Kinshasa, poderá ser bem mais perigosa, afirma Delius.
Alemães impõe condições de participação
Em entrevista à emissora Deutschlandfunk, o ministro alemão da Defesa, Franz Josef Jung, não descartou a possibilidade de a Alemanha chefiar a missão européia da ONU na República do Congo. Para isso, Berlim exige uma ampla solidariedade dos seus outros parceiros.
Para sua participação, o governo federal alemão impõe quatro exigências: o Congo tem que fazer um pedido claro às Nações Unidas, a ONU teria que outorgar um mandato às tropas européias, a intervenção alemã deverá se restringir à capital Kinshasa e ter uma duração de no máximo quatro meses.
Até agora, não existem resoluções e a França e o Reino Unido não se sentem aptos a chefiar a missão. Além dos dois países, somente a Alemanha teria condições de comandar intervenções internacionais através da central de comando em Potsdam.
Javier Solana, alto representante para a Política Externa e de Segurança Comum da União Européia, deve agora esclarecer, perante o governo da República Democrática do Congo, por quanto tempo e em que regiões as tropas européias deverão ficar estacionadas, além de elucidar a forma de cooperação com as tropas da ONU estacionadas no país.