Eleição é decisiva para o futuro da Itália
24 de fevereiro de 2013Com dois dias de votação, as eleições na Itália chamam a atenção de toda a Europa. Trata-se de um dos pleitos nacionais observados com maior atenção, tendo em vista que o governo eleito terá como tarefa tirar a Itália da recessão, contribuindo também para solucionar a crise econômica que afeta a zona do euro como um todo.
As urnas permanecem abertas neste domingo (24/02) e segunda-feira (25/02), com resultados a serem divulgados na manhã da terça-feira (26/02). Aproximadamente 47 milhões de italianos estão convocados a votar. No domingo, o número de eleitores se manteve baixo, sobretudo no norte do país, devido ao mau tempo, com neve e chuvas.
Complexidade do "porcellum"
A lei eleitoral na Itália tem um nome sui generis: "Porcellum", que significa algo como "porcaria". O nome não foi cunhado por eleitores decepcionados, mas sim por cientistas e políticos, quando a lei foi criada, quase dez anos atrás. A "porcaria" referida é a sua complexidade: quase ninguém é capaz de compreender de imediato o sistema de divisão de cadeiras nas duas câmaras do Parlamento.
Na Câmara dos Deputados, o partido mais forte recebe automaticamente uma maioria absoluta de cadeiras, mesmo que tenha apenas 30% dos votos. No Senado, os assentos são divididos por listas regionais. "Há uma maioria muito confortável graças a esse Porcellumna primeira Câmara, o que não vale de forma alguma para a segunda, ou seja, para o Senado. E isso pode exercer uma influência muito grande sobre a capacidade de governar do vencedor", explica Lutz Klinkhammer, especialista em assuntos italianos do Instituto Histórico Alemão em Roma.
Caso no Senado a maioria política seja diferente da da Câmara, o futuro chefe de governo terá que enfrentar uma coalizão com diversos pequenos partidos. Como no Parlamento haverá representação de até 20 facções, o resultado pode ser uma aliança bem pouco estável. Seja como for, uma estabilidade como a ansiada pela União Europeia e pelos mercados financeiros para a altamente endividada Itália, é muito pouco provável.
Beppe Grillo: novos ventos
Tais artimanhas táticas pouco interessam aos 47 milhões de eleitores italianos. A maioria deles está cansada dos antigos políticos. Uma exceção neste cenário é o comediante e ator Beppe Grillo, que obteve muito sucesso com seu movimento de protesto Cinco Estrelas.
Com suas tiradas bem humoradas de ataque ao sistema, ele atraiu milhares de pessoas aos comícios nas cidades italianas, nos quais canta um rap com o texto: "Somos cidadãos e basta". O comediante de 61 anos é admirado principalmente pelos eleitores urbanos mais jovens, muitos dos quais desempregados, apesar do diploma universitário na mão.
Berlusconi: campanha eleitoral eterna
O ex-premiê Silvio Berlusconi, por sua vez, já demonstrou sua habilidade de comunicador na campanha eleitoral. Dezesseis meses atrás, aos 76 anos, ele foi obrigado a deixar o governo do país e entregá-lo a Mario Monti, uma vez que não estava conseguindo manter a crise econômica e de endividamento sob controle.
Agora, Berlusconi usa peças publicitárias sóbrias para se apresentar como estadista, que defende a restituição dos impostos recém-criados ao bolso do contribuinte. Dependendo dos resultados do pleito, Berlusconi poderá se unir à Liga Norte, de extrema direita, e, com maioria no Senado, trazer dores de cabeça ao próximo governo.
Como Beppe Grillo obteve muito sucesso com seu "movimento", Berlusconi declarou que seu partido assume a partir de agora também o status de movimento – no caso, um bastião contra a arbitrariedade do sistema judicial italiano. Um bastião do qual o próprio Berlusconi pode precisar, pois se sente "perseguido pela Justiça" do país, que move três processos contra ele. Depois das eleições, deverá ser declarado o veredicto de um deles, onde é acusado de ter tido relações sexuais com uma menor.
Os delitos de Berlusconi causam repúdio sumário no exterior, mas não necessariamente dentro da Itália, analisa o especialista Klinkhammer. "Ele incorpora o sonho italiano do self-made mane do sedutor. Ele ainda pode fazer pontos. Um ano de governo Monti já bastou para fazer com que a população esquecesse o que foram os anteriores dez anos de governo Berlusconi", acrescenta Klinkhammer.
"Culpa de La Merkel"
E uma coisa Berlusconi e Grillo têm em comum, apesar de se rejeitarem mutuamente: eles delegam a Bruxelas e à Alemanha, especialmente à chanceler federal Angela Merkel, a culpa pela crise de endividamento e pela recessão na Itália. Segundo Berlusconi, foi a chefe de governo alemã que deu ordens a Mario Monti para apertar o cinto.
"A Alemanha exerce um papel importante nessa campanha eleitoral. No caso, como bode expiatório. Quando se ouve o que Berlusconi tem a dizer, a conclusão é a de que tudo o que é ruim vem do norte. Tam´bem com Beppe Grillo se pode ler isso, nas entrelinhas", diz Lutz Klinkhammer.
Fato é que todos os políticos italianos rejeitam conselhos de Bruxelas ou de Berlim. Supostas declarações da premiê alemã a respeito de uma predileção de Berlim por Monti no cargo de chefe de governo na Itália renderam manchetes no país durante dias a fio. "Isso é compreendido como uma interferência na política interna italiana. Não tem muita influência sobre a campanha eleitoral, mas não beneficia, a meu ver, nem Mario Monti, nem a posição alemã".
Autor: Bernd Riegert (sv)
Revisão: Augusto Valente