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Eleição no Iraque ensaia democracia

Peter Phlipp (sv)15 de dezembro de 2005

O Iraque vai às urnas escolher um legislativo que deverá se manter em atividade durante os próximos quatro anos. Embora as eleições sejam secretas e livres, participar delas pode ser perigoso, analisa Peter Philipp.

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Votação sob vigilância cerrada das forças de ocupaçãoFoto: AP

Tomando as últimas eleições do início do ano no país como parâmetro, os iraquianos parecem mais dispostos desta vez a comparecer às urnas. Ao todo são 226 agrupamentos políticos ou partidos, concorrendo com pelo menos sete mil candidatos às 275 cadeiras no Parlamento.

Nas ruas do país, os muros estão cobertos com cartazes de propaganda política, a televisão transmite uma série de peças publicitárias caras e quem possui um celular recebe com freqüência torpedos de todos os lados.

Seria quase possível dizer que George W. Bush teria razão ao falar de uma mudança radical no país em direção à democracia. Se não estivesse presente, como antes, a ameaça da Al Qaeda e de outros grupos terroristas, que combatem as eleições como se estas fossem uma obra diabólica ocidental e antiislâmica.

O receio dos sunitas

A mesma coisa já havia acontecido antes das últimas eleições no país. Os iraquianos, porém, não se deixaram abater e participaram do pleito. Apenas os sunitas continuaram optando pela abstenção. Ou porque estiveram sob forte pressão das milícias armadas ou porque não acreditaram num andamento correto das eleições.

Muitos sunitas temeram – tanto nas últimas eleições parlamentares quanto no plebiscito para a aprovação da Constituição do país – serem reduzidos a uma minoria insignificante, que acabaria mais cedo ou mais tarde desaparecendo.

Distritos eleitorais "reais"

Parlamentswahlen im Irak
Iraquiana vai às urnasFoto: AP

No mais tardar após o referendo para a aprovação da Constituição, a situação mudou. Hoje, grupos sunitas vão às urnas conscientes de seu papel na sociedade. Uma das razões desta mudança de comportamento está na divisão do país em distritos eleitorais abolindo o distrito único como o existente nas eleições do último 30 de janeiro.

Cada distrito eleitoral tem agora um número fixo de mandatos, o que garante a presença de deputados sunitas no parlamento. Vários grupos sunitas se uniram agora à União Iraquiana, que por sua vez recebe apoio de outros agrupamentos, até mesmo dos Irmãos Muçulmanos.

Legenda xiita

Os vencedores nas urnas não serão, porém, os sunitas, mas os xiitas, que, bem ou mal, perfazem bons 60% da população do país. Sunitas e curdos formam um contingente de, no máximo, 20% cada um. Os xiitas concorrem por uma legenda com alto número de candidatos – a Coalizão Iraquiana Unida ou Lista 555, como é chamada hoje.

Esta é formada por 18 grupos xiitas, tendo sobrevivido, apesar de todas as previsões em contrário, às últimas eleições parlamentares. Ao contrário dos últimos pleitos, porém, a "coalizão" não irá receber o apoio do grande aiatolá Ali Sistani, que desta vez simplesmente recomenda a votação, sem indicar um outro grupo.

Parceiros de coalizão

Outros grupos xiitas são, por exemplo, o do ex-premiê interino Iyad Allawi e o do antigo protegido da CIA Ahmad Chalabi. Estes são grupos xiitas ocidentais, cujos líderes iraquianos viveram muito tempo no exílio, e certamente não conseguirão aglutinar muitos votos nestas eleições.

Mesmo assim seus candidatos asseguram que, se o atual premiê Ibrahim Jaafari não conseguir atingir uma maioria de dois terços do parlamento, então ele será obrigado a selar coalizões com outros parceiros. O que pode colocar os xiitas em condições de fazer maiores exigências.

Curdos

Os curdos vão às urnas no Iraque sem maiores preocupações em relação ao futuro. Os dois agrupamentos que no passado eram inimigos – o Partido Democrático do Curdistão e a União Patriótica do Curdistão – se candidatam desta vez por uma única legenda.

Assim, eles podem ter a certeza de que, favorecidos pela Constituição e pela criação dos novos distritos eleitorais, deverão continuar desempenhando um papel importante no país.

Sob ocupação

Irak Wahlen Iraker wählen in Deutschland Köln
Iraquianos no exílio votam em Colônia, na AlemanhaFoto: DW

Vozes críticas às eleições insistem em argumentar que sob ocupação estrangeira não é possível a realização de eleições livres em um país. O líder radical xiita Moqtada al Sadr polemiza durante a campanha eleitoral fazendo uso de um discurso contra a ocupação.

A maioria dos representantes dos grandes partidos, porém, é realista o suficiente para enxergar que sem a ocupação nunca iriam acontecer eleições livres no país. E que eleições são o melhor caminho rumo a uma normalização que um dia permitirá exigir dos ocupadores que deixem o país.

Terroristas

"Normalização" ainda é, no entanto, uma palavra que incomoda os ouvidos dos terroristas e de grupos rebeldes. Estes anunciaram que pretendem atrapalhar o andamento das eleições – razão mais que suficiente para que os departamentos responsáveis pela segurança do país adotem medidas ainda mais rígidas.

Há dias, por exemplo, está proibida a entrada no país de qualquer cidadão não-árabe iraquiano, ínstituiu-se o sinal de recolher à noite e não são permitidas viagens longas dentro do país. O controle aos arredores dos locais de votação se tornou ainda mais rígido, da mesma forma que a segurança pessoal de candidatos e políticos.

Durante os ataques terroristas ocorridos durante a campanha eleitoral foram mortos, apenas nas últimas duas semanas, mais de uma dezena de iraquianos que apoiavam a legenda de Ilyad Allawi ou a legenda única curda.