Egito busca um novo recomeço em meio a confrontos violentos
28 de julho de 2013Quem são os protagonistas dos recentes choques violentos no Egito?
Na rua, as frentes parecem bem definidas: de um lado, estão os fundamentalistas islâmicos, adeptos do presidente deposto Mohammed Morsi; do outro, os adversários dele, de orientação predominantemente secular.
Os manifestantes pró-Morsi recrutam-se principalmente entre as fileiras da Irmandade Muçulmana. Foi como candidato deste grupo político que Morsi venceu em 2012 as primeiras eleições presidenciais livres da história do país.
A frente contrária é bem mais diversificada. Ela inclui liberais, socialistas, ativistas da democracia, defensores do regime anterior sob o comando de Hosni Mubarak e, claro, os militares. Nem todos são laicos: os salafistas ultraconservadores do Partido Nur (da Luz) também queriam Morsi fora da presidência. Foram as Forças Armadas que, em 3 de julho de 2013, derrubaram o então presidente do poder após dias de protestos de massa e evocando o desejo do povo.
O que une essas facções é, sobretudo, a rejeição a Morsi e à Irmandade Muçulmana. Politicamente, elas têm pouco em comum.
O que a Irmandade Muçulmana quer?
O retorno do presidente eleito, Mohammed Morsi, ao poder. A Irmandade classifica sua queda como "golpe militar" e rechaça qualquer colaboração com o governo interino designado pelos militares.
Ela também se negou a participar de uma conferência de conciliação promovida pelo governo de transição no dia 24 de julho. "Nós nos recusamos a dar nosso reconhecimento ao atual governo", declarou um porta-voz da organização. Seu líder, Mohammed Badie, no entanto, ressalta o caráter pacífico da resistência contra a deposição de Morsi dizendo: "As honoráveis massas egípcias defenderão pacificamente seus direitos".
Badie está foragido: o Ministério Público do Egito ordenou sua prisão e a de pelo menos outros 15 líderes fundamentalistas, acusados de incitação à violência. Numerosos membros da Irmandade Muçulmana estão presos. O presidente Morsi foi mantido durante semanas em local desconhecido, sem mandado de prisão e sem contato com o mundo externo. A Justiça egípcia só expediu o mandado de prisão nesta sexta-feira (26/07) com a acusação de conspiração para "execução de atos hostis": Morsi é acusado de haver colaborado com o Hamas palestino na execução de diversos atentados contra a polícia egípcia.
A organização de direitos humanos Anistia Internacional classifica de "ilícita" a detenção de Morsi sem mandado, além de acusar as forças de segurança de empregar "violência excessiva" contra os adeptos do ex-presidente durante as manifestações. Desde sua queda, cercada de 200 pessoas foram mortas, a maioria adeptos de Morsi.
No sábado, confrontos violentos nas ruas do Cairo entre apoiadores da Irmandade e grupos contrários deixaram mais de 70 mortos e centenas de feridos.
Como evoluiu a situação de confrontos desde a queda de Morsi?
Piorou sensivelmente. Além da violência quase diária dos choques entre ativistas pró e contra Morsi, atentados têm sido frequentes. A situação é especialmente crítica no norte da Península do Sinai, onde militantes fundamentalistas têm atacado regularmente postos militares e policiais. Até agora houve pelo menos 30 mortos.
Há muito a região é considerada sem lei: ainda durante o regime Mubarak, as forças de segurança perderam o controle sobre partes do Sinai. Há anos o território é dominado por beduínos discriminados pelo Estado e radicalizados, jihadistas associados ao Al Qaeda e quadrilhas de contrabandistas.
Mas atentados também ocorrem em outras partes do país. Na quarta-feira, na cidade de Almançora, no Delta do Nilo, uma bomba explodiu na frente do quartel-general da polícia, ferindo 19 pessoas. Agora, cresce o medo de que o terrorismo se alastre.
Que papel desempenha o chefe militar Abdel Fattah al-Sisi?
Numerosos observadores creem que Al-Sisi – que acumula as funções de chefe do Exército, ministro da Defesa e vice-primeiro-ministro – seja o novo "homem forte" do país. Foi ele que fez Morsi cair e que, na última quarta-feira, convocou os cidadãos a irem às ruas, a fim de lhe "darem o mandato e o poder para acabar com a violência e o terrorismo".
Al-Sisi não mencionou diretamente a Irmandade Muçulmana, porém órgãos de imprensa ligados ao Estado têm divulgado que a organização estaria por trás do terrorismo no Sinai. Assim, seus membros temem que o chefe militar passe a agir contra eles com dureza ainda maior, fortalecido pelas demonstrações de massa.
No entanto, não está claro se os militares pretendem se apossar de forma definitiva do poder. Al-Sisi tem sublinhado repetidamente que o governo deve ser entregue a um presidente eleito o mais rapidamente possível.
Importante lembrar que logo após a queda do ditador Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011, o Egito foi temporariamente governado por um conselho militar. Durante esse período, cresceu consideravelmente o descontentamento da população em relação aos militares.