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Atletismo

17 de agosto de 2009

Ameaça de escândalos de doping ronda o Campeonato Mundial em Berlim. A volta de cinco atletas ao Brasil às vésperas do mundial demonstra a eficácia do controle no país.

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Competidores dos 100 metrosFoto: AP

Nas pistas do Estádio Olímpico de Berlim, onde a Federação Internacional de Atletismo (IAAF) está realizando o Mundial de Atletismo, parece correr tudo bem. Além da organização eficiente, da sensação de segurança e do bom tempo que o sol tem proporcionado, também o novo recorde masculino nos 100 m rasos no segundo dia da competição têm sido motivo de alegria para o público e os organizadores.

Fora da pista, porém, escândalos relacionados a casos de doping podem estragar a festa a qualquer momento. Isso ficou claro quando veio à tona, uma semana antes do início do campeonato, a notícia de que nenhum controle de sangue foi feito em 2009 em todo o continente africano e na Rússia.

"Eu não sabia disso, mas a dimensão desse problema já foi discutida com intensidade com a IAAF", comentou o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, na sexta-feira (07/08), durante entrevista coletiva na capital alemã.

Atualmente, a Agência Mundial Antidoping (WADA) tem 35 laboratórios credenciados espalhados pelo mundo – um deles na Rússia, um na Tunísia e outro na África do Sul. Rogge admitiu, entretanto, que ainda há grandes dificuldades tecnológicas para resfriar e transportar as amostras de sangue de países quentes africanos à Europa. Por isso, pediu à WADA que crie mais laboratórios e simplifique os testes.

O vice-presidente da Associação Alemã de Atletismo (DLV, no alemão), Eike Emrich, critica a disparidade de controle entre diferentes regiões do planeta. Para ele, as dificuldades financeiras não são a única razão que dificulta o combate ao doping no atletismo. "Com certeza, também existe a ambição, às vezes, por atletas com performances quase inumanas", conta.

Doping na Alemanha

A própria equipe alemã, porém, também esteve próxima de um escândalo na véspera da abertura do Mundial. Em entrevista ao canal alemão de televisão ARD, o empresário esportivo austríaco Stefan Matschiner denunciou a prática frequente de doping no esporte e afirmou ter fornecido substâncias dopantes a um atleta que se tornou campeão alemão em 2009.

O caso foi abafado depois de um telefonema entre Matschiner e um representante da DLV. Na conversa, o austríaco teria se negado a revelar o nome do atleta envolvido no caso. O presidente da DLV, Clemens Prokp, lamentou: "Tínhamos esperança de conseguir uma pista para que pudéssemos ao menos ajustar nossa rede de controle".

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Prova de dardo no Mundial em BerlimFoto: AP

Brasileiros flagrados

Para a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), a eficácia do controle no Brasil ficou clara depois que os atletas Bruno Lins Tenório de Barros, Jorge Célio da Rocha Sena, Josiane da Silva Tito, Luciana França e Lucimara Silvestre foram flagrados em um exame antidoping. O resultado do exame apontou a presença de uma variação do hormônio sintético EPO (abreviação de eritropoietina), o qual estimula a formação de hemoglobina no organismo.

As amostras foram feitas em um teste surpresa em Presidente Prudente (SP) em 15 de junho, mas os atletas só ficaram sabendo do resultado no início de agosto, quando já se encontravam em Königs Wusterhausen, cidade próxima de Berlim. Dali, eles e os treinadores Jayme Netto Júnior e Inaldo Justino de Sena tiveram de voltar para o Brasil, onde acompanham o campeonato pela televisão enquanto aguardam as decisões da CBAt sobre o futuro de suas carreiras no atletismo.

"Efeito colateral" no esporte brasileiro

Ricardo D'Angelo, treinador-chefe da equipe que representa o Brasil no Mundial, lamentou a perda dos atletas envolvidos no caso, mas disse que, depois da surpresa, o grupo foi capaz de encarar a notícia como uma experiência positiva. "Pelo fato de termos certeza de que o sistema de controle no Brasil está sendo eficaz", explicou D'Angelo.

O treinador Elson Miranda de Souza, também integrante da delegação brasileira em Berlim, comentou: "Foi uma surpresa. Conheço o Jayme há muito tempo e não esperava que ele fizesse isso". Souza encara o episódio como um "efeito colateral" das melhorias que o esporte vem tendo nos últimos anos. "Não existe crise no atletismo brasileiro. Pelo contrário, ele está melhorando tanto que alguns atletas acabam buscando meios mais rápidos de fazer parte do grupo", defendeu.

Segundo a CBAt, 353 testes de controle do uso de substâncias proibidas foram realizados no Brasil entre janeiro e agosto de 2009 como parte do Programa de Combate ao Doping. Desse total, 292 foram feitos durante competições e 61 em outras ocasiões.

Autor: Elton Hubner

Revisão: Roselaine Wandscheer