Diplomata diz que pressionou Ucrânia por ordem de Trump
21 de novembro de 2019O embaixador dos Estados Unidos na União Europeia, Gordon Sondland, afirmou nesta quarta-feira (20/11) que o presidente Donald Trump ordenou, por meio de seu advogado pessoal, Rudy Giuliani, o "quid pro quo" – expressão que significa o popular "toma lá, da cá" –, em relação à Ucrânia, condicionando a ajuda militar ao país a uma investigação contra a família de um rival político, o ex-vice-presidente Joe Biden.
"Giuliani estava expressando os desejos do presidente dos EUA, e sabíamos que essas investigações [sobre Biden] eram importantes para o presidente", contou Sondland durante testemunho no Congresso dentro da investigação liderada pelos democratas para abrir um processo de impeachment contra Trump por abuso de poder no caso da pressão sobre a Ucrânia. "Nós seguimos as ordens do presidente."
Sondland também reconheceu na audiência pública a existência do "canal paralelo" que este ano redefiniu a política de Washington em relação a Kiev, formada por ele, pelo secretário de Energia, Rick Perry, e pelo enviado especial à Ucrânia, Kurt Volker. O eixo é conhecido como "os três amigos" e, seguindo as ordens de Trump, coordenou a política em relação a Kiev com Giuliani.
"O secretário Perry, o embaixador Volker e eu trabalhamos com Rudy Giuliani em assuntos ucranianos, sob a direção expressa do presidente dos EUA", afirmou. "Houve 'quid pro quo' com relação à chamada solicitada da Casa Branca e da reunião da Casa Branca? A resposta é sim."
Sondland, um empresário milionário do setor hoteleiro e que fez doações para a campanha de Trump em 2016, disse ainda que o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, estava ciente e "apoiava totalmente” seus esforços na Ucrânia. Essas declarações surpreenderam a bancada republicana, que esperava que o testemunho de Sondland protegesse os interesses de Trump.
A expectativa pelo testemunho de Sondland aumentou nas últimas semanas. Inicialmente, ele negou qualquer irregularidade em um primeiro depoimento a portas fechadas ao Congresso. Posteriormente, ele fez uma retificação escrita aos investigadores afirmando que outros testemunhos tinham "revigorado sua memória" e reconheceu que ele próprio comunicou em setembro ao governo ucraniano que os EUA não entregariam ajuda até que investigassem os democratas.
As audiências estão transmitidas pela televisão, diante da expectativa gerada entre a opinião pública e dentro da marcada polarização política no país. Segundo pesquisas da Reuters/Ipsos, 46% dos norte-americanos apoiam o impeachment, enquanto 41% se opõem.
As investigações da Câmara dos Representantes buscam determinar se Trump bloqueou intencionalmente a entrega de uma ajuda militar de quase 400 milhões de dólares à Ucrânia para pressionar Kiev a investigar Joe Biden e os negócios de seu filho, Hunter Biden, naquele país. O filho do democrata é membro do conselho de uma empresa de gás ucraniana.
Os democratas acusaram Trump de congelar a ajuda e de manipular o desejo do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, por uma reunião no Salão Oval, da Casa Branca, para pressionar um aliado vulnerável dos EUA a criar um constrangimento judicial contra adversários políticos do atual mandatário americano. Trump está buscando se reeleger no ano que vem.
O escândalo estourou em setembro, após a imprensa americana revelar a existência da denúncia de um agente envolvendo uma conversa telefônica entre Trump e Zelenski que ocorreu no final de julho. No telefonema, Trump pediu repetidamente para que o ucraniano tomasse providências para investigar os Biden. Uma transcrição da conversa confirmou que Trump abordou o caso de Biden com Zelenski.
Trump vem negando qualquer irregularidade e chamou o inquérito de "caça às bruxas". Ele também atacou publicamente algumas das testemunhas, incluindo assessores da Casa Branca.
A investigação pode levar a Câmara a aprovar acusações formais contra Trump – chamadas de artigos de impeachment – que seriam enviadas ao Senado controlado pelos republicanos para um julgamento sobre a sua destituição.
O líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, disse na terça-feira que é "inconcebível” que dois terços do Senado, que é controlado pelos republicanos votem pela condenação de Trump.
FC/efe/rtr/ap/afp
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