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Perda da biodiversidade cria prejuízos financeiros para a humanidade

27 de dezembro de 2012

Com a extinção de espécies, desaparecem também o valor econômico por elas gerado e inúmeras possibilidades inexploradas para o tratamento e a cura de doenças.

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Foto: AP

A tartaruga-de-couro vive na costa do Suriname, pode chegar a dois metros e meio de comprimento e pesar até 700 quilos – ela é a maior espécie de tartaruga marinha do mundo. Mas o extraordinário tamanho e peso não oferecem nenhuma proteção diante das ameaças das mudanças climáticas.

A reprodução dessas tartarugas gigantes é muito sensível ao aumento da temperatura: se a areia onde ela coloca seus ovos estiver muito quente, nascerão mais fêmeas. Assim, haverá um desequilíbrio na próxima temporada de acasalamento. Além disso, se o nível do mar aumentar, muitos locais adequados para a reprodução serão perdidos.

Diante de tudo isso, a população dessas tartarugas está ameaçada. Esse réptil gigante é um dos muitos animais que fazem parte da lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção, elaborada pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, na sigla em inglês).

Segundo especialistas, se nada for feito para proteger as tartarugas-de-couro, que existem há 65 milhões de anos, eles desaparecerão em poucos anos.

Mudanças climáticas e biodiversidade

Segundo as Nações Unidas, um aumento de até dois graus na temperatura média do planeta implica que uma em cada cinco espécies correrá risco de extinção – a Terra está diante da maior ameaça de extinção em massa desde o desaparecimento dos dinossauros.

Lederschildkröte
A maior tartaruga marinha do mundo – na lista vermelhaFoto: CC/reiner.kraft

A contribuição do aquecimento global para a extinção de animais é tema de amplos debates entre os cientistas. Muitos afirmam que a ameaça de extinção resulta da combinação de diversos fatores, como a poluição – que aumenta os efeitos das mudanças climáticas – ou a caça.

A especialista Wendy Foden, da IUCN, diz que as mudanças climáticas já afetam a vida de muitas espécies, por exemplo alterando os seus hábitos migratórios. "É possível encontrar animais onde eles nunca haviam estado antes", diz Foden. "Algumas espécies estão migrando para regiões mais frias. Na América do Sul, isso significa mais ao sul, ou para as montanhas."

Nemo, o embaixador dos defensores do clima

Já os habitantes dos mares têm poucas chances de escapar: o aumento da quantidade de dióxido de carbono no ar modifica o pH da água do mar, um processo que altera o habitat de inúmeras espécies.

Clownfisch
Até o peixe-palhaço "Nemo" sofre os efeitos da mudança climáticaFoto: CC/Silvain de Munck

Foden usa o exemplo do peixe-palhaço para explicar o efeito dessa mudança na vida marítima. "O dióxido de carbono deixa a água do mar mais ácida e com isso o peixe-palhaço perde seu olfato." Esse sentido auxilia os peixes a distinguir substâncias ao seu redor. Os alevinos se orientam dessa maneira para encontrar um recife seguro.

Agora os especialistas do IUCN querem utilizar a popularidade do peixe-palhaço para conscientizar as pessoas sobre os efeitos das mudanças climáticas. "Todo mundo conhece o peixe-palhaço do filme Procurando Nemo", diz Foden.

Perdas para a humanidade

A perda da biodiversidade afeta também o ser humano. Numa pesquisa realizada na Alemanha, dois terços dos entrevistados responderam que a redução da variedade de espécies afetaria sua vida, mas que esse efeito seria observado, principalmente, nas suas horas de lazer e em atividades na natureza.

Na verdade, os efeitos são bem mais amplos. A iniciativa Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (TEEB, na sigla em inglês), lançada pela Alemanha e pela Comissão Europeia, procura calcular o valor financeiro dos ecossistemas. Ela afirma, por exemplo, que o serviço de polinização feito pelos insetos vale cerca de 110 bilhões de euros.

Porém, o estudo do TEEB não é capaz de determinar com precisão os custos da perda de diversidade, simplesmente porque muitas espécies nunca foram identificadas.

Novos remédios

Cerca de 1,9 milhão de espécies estão catalogadas – apenas uma pequena parte do total existente. Especialistas estimam que cerca de cem espécies são extintas por ano. Como a função delas no ecossistema é desconhecida, os cientistas não podem calcular os efeitos de seu desaparecimento.

Regenwald, Grenada
América do Sul é o continente com a maior a biodiversidade do mundoFoto: CC/peter wankerl

A equipe da pesquisadora alemã Gudrun Mernitz isolou mais de cem substâncias de microorganismos do mar. Agora, o potencial delas para medicamentos está sendo pesquisado. "Algumas delas podem ser úteis para o tratamento de diversos tipos de câncer", diz a bióloga.

Cerca de 6% dos medicamentos descobertos nos últimos dez anos foram desenvolvidos a partir de substâncias naturais, diz Rolf Hömke, da VFA, uma associação de pesquisa da indústria farmacêutica. Essas substâncias podem vir de qualquer lugar, por exemplo do intestino de um percevejo.

Assim, o Triatoma Infestans, conhecido no Brasil como barbeiro, originou um novo remédio para vítimas de enfarte. A biodiversidade esconde inúmeras possibilidades para a medicina. 

Autor: Marion Hütler (cn)
Revisão: Alexandre Schossler