Dilma "simplifica" ao culpar crise internacional e seca
9 de março de 2015A presidente Dilma Rousseff aproveitou o pronunciamento nacional que fez neste domingo (08/03), por ocasião do Dia Internacional da Mulher, para falar sobre os problemas enfrentados pela economia brasileira.
A presidente culpou "a grave crise internacional" e a "maior seca da história do país" pela situação econômica. Especialistas ouvidos pela DW Brasil dizem que Dilma está certa ao citar esses dois aspectos, mas erra ao reduzir as causas dos problemas econômicos apenas a eles.
"Em princípio essa afirmação não está errada, pois tanto a economia global enfraquecida como os fatores climáticos são fundamentais para a conjuntura estancada no Brasil. Mas é muito simplista relacionar a forte desaceleração econômica somente a fatores externos, fora do alcance do governo brasileiro", afirma a economista Simone Schotte, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em Hamburgo.
De acordo com Schotte, o crescimento econômico brasileiro nos últimos anos foi baseado não somente na descoberta do Pré-sal e na alta internacional dos preços das commodities, mas também no estímulo ao consumo interno. "Esse modelo de crescimento voltado à demanda chegou ao seu limite, principalmente porque não houve investimentos suficientes no desenvolvimento da infraestrutura e no aumento da produtividade", reforça.
O cientista político Peter Birle, do Instituto Ibero-Americano, de Berlim, também não exclui o argumento da crise mundial. "Com certeza é mais fácil culpar as condições internacionais adversas pela crise econômica brasileira. Elas, de fato, trazem dificuldades, mas reduzir os problemas econômicos brasileiros a isso não é correto", afirma.
Para ele, fatores internos, como a forte dependência das exportações de commodities, o custo Brasil (que abrange as dificuldades burocráticas e econômicas), além da infraestrutura deficitária e a falta de investimento em inovação, também são responsáveis pela atual situação.
Crise política
No discurso, Dilma admitiu que o Brasil enfrenta problemas, mas disse que a atual crise nem de de longe tem as dimensões "que dizem alguns", pois os fundamentos do país "continuam sólidos", o que é "muito diferente" das crises do passado, que "quebravam e paralisavam" o país.
Para o economista Manfred Nitsch, da Universidade Livre de Berlim, Dilma tem razão. "Apesar de haver insegurança e incerteza entre os investidores e de o clima não estar bom, a crise não é tão grande como alguns tentam pintar a partir do escândalo de corrupção", afirma.
Birle concorda que a situação econômica não é tão dramática, mas acrescenta que a grande crise no momento é a política. Para o especialista, a presidente está numa situação bem difícil, pois, mesmo com maioria na Câmara dos Deputados e no Senado, muitos políticos da coalizão estão contra o governo.
Segundo Birle, os grandes desafios de Dilma no momento são conseguir o apoio que ela precisa dentro do Congresso para governar e poder realizar as medidas planejadas, além de conquistar a compreensão da população. "A presidente precisa relacionar as políticas de ajustes com uma perspectiva positiva para o povo", diz.
Schotte também destaca a importância do Congresso. "As medidas anunciadas no pronunciamento de domingo foram formuladas, conscientemente, de modo vago, e sua forma concreta depende da aprovação do Congresso. Resta, portanto, esperar como serão as medidas concretas a serem aprovadas e adotadas", reforça Schotte.