Dilma se emociona e encerra visita como "presidente búlgara do Brasil"
6 de outubro de 2011Dilma Rousseff chegou a perder a fala na tarde desta quinta-feira (06/10) diante da população de Gabrovo, cidade onde seu pai nasceu. A presidente búlgara do Brasil, como é chamada no país europeu, confessou que aquele foi o momento mais emocionante da sua visita. "Eu engasguei, não conseguia falar, não conseguia articular", explicou à imprensa brasileira depois do discurso.
Aplausos, lágrimas e gritos de "bravo" eram as reações da plateia que lotou a escola onde Pedro Rousseff concluiu o ensino médio, em 1918. A cidade de 66 mil habitantes parou para ver Dilma passar, e a presidente reagiu com acenos, sorrisos e repetidos "obrigada" no idioma local.
"Saibam vocês que uma parte de Gabrovo e da Bulgária mora, reside e é presidente do Brasil", disse Dilma aos moradores. Essa foi a única ocasião da visita de dois em que a líder brasileira falou sem script, mostrou-se menos como dirigente de Estado e mais como uma filha de imigrante que busca conhecer as origens do pai.
Modelo de integração
Para o presidente búlgaro, Georgi Parvanov, Dilma é "uma das políticas contemporâneas de maior êxito no mundo". Ele acompanhou a líder brasileira até Gabrovo e disse ao público: "Em dez anos no governo, nunca tinha recebido uma visita que tenha sido tão aclamada, com tanto calor humano e lágrimas nos olhos." Parnavov exerce o segundo mandato presidencial, que na Bulgária tem duração de cinco anos, e deixa o poder no fim de 2011.
A presidente é a primeira chefe de Estado brasileira a visitar a Bulgária, e quis transmitir aos moradores as melhores impressões da nação que seu pai escolheu como destino, há 80 anos. "O Brasil é um país que permite que uma pessoa, filha de imigrante de primeira geração, se eleja presidente da República", disse. E acrescentou: "Talvez poucos países do mundo tenham isso."
Aclamado como bem-sucedido, modelo de desenvolvimento com liderança mundial pelos búlgaros e demais europeus, o Brasil de Dilma adquiriu outra dimensão ao longo da história. "É um país do futuro no sentido que dá uma mensagem de solidariedade humana e de integração."
Porto de partida
Uma pequena exposição inaugurada pela líder brasileira em Gabrovo conta a trajetória do "clã Rousseff". Quadros, cartas, a certidão de nascimento de Pedro Rousseff, fotos da presidente com um ano de idade estão à mostra.
Tzanca Kamenova, prima búlgara de Dilma, cedeu à exposição algumas imagens que guardava em seu arquivo pessoal. Ela acompanhou a parente brasileira em alguns momentos da visita à Bulgária. "Conversamos, falamos sobre a família, foi interessante para mim e para ela, porque são dois lados bem diferentes. Em comum, os brasileiros e búlgaros têm o sentimentalismo", disse Kamenova à Deutsche Welle.
Quem também ajudou a montar o quebra-cabeça do passado de Pedro foi Rúmen Stoyanov. Professor de estudos latino-americanos em Sófia e tradutor, Stoyanov conheceu o meio-irmão da presidente, Lyuben–Kamen Rousseff, morto em 2008 e enterrado na capital. Fluente em português, o professor traduziu cartas do irmão para Dilma. "Foi emocionante recebê-la aqui hoje, um ato de muita alegria", contou à Deutsche Welle em Gabrovo. "Dilma é a esperança do Brasil e o orgulho da Bulgária", resumiu.
Febre de Brasil
Bandeiras verde-amarelas estendidas por Gabrovo, estampadas em camisetas ou as cores combinadas nas roupas deram à cidade do interior da Bulgária uma cara de Brasil nesta quinta-feira.
A passagem de Dilma foi acompanhada por todas as televisões nacionais – e muitos jornalistas búlgaros arriscavam falar português. O idioma, inclusive, vai virar matéria de estudo na escola Vasil Aprilov, onde a presidente folheou o livro que guardava registros de seu pai.
Boriana Frances, búlgara professora de português em Sofia, diz que o aumento do interesse pela língua é visível. "Eu tenho muito mais alunos de um ano para cá. As pessoas querem aprender a falar português porque acham que as portas podem se abrir no Brasil, que elas podem arrumar um bom trabalho e fazer a vida lá", contou.
Autora: Nádia Pontes, de Gabrovo
Revisão: Roselaine Wandscheer