Difícil acesso impossibilita ajuda em regiões das Filipinas
11 de novembro de 2013Três dias após a passagem do supertufão Haiyan, localmente conhecido como Yolanda, que atingiu diversas regiões das Filipinas, a dimensão dos estragos está apenas começando a aparecer. Mesmo as estimativas oficiais de até 10 mil mortos provavelmente serão superadas, pois algumas das partes mais remotas do país ainda estão inacessíveis. O furacão, que atingiu a região central do país, também criou 600 mil deslocados internos.
Várias partes das Filipinas – as ilhas Leyte, Samar e o norte da ilha de Cebu, mais a oeste – que estavam no caminho da tempestade ainda não puderam ser acessadas totalmente. Organizações humanitárias têm relatado caos generalizado e a dificuldade de comunicação em todo o país.
Um leitor da DW da cidade de Presidente Roxas, na província de Capiz, escreveu na rede social Facebook sobre as dificuldades de comunicação no arquipélago. "No momento, nós não temos eletricidade, pois todas as redes estão danificadas. Eu não consigo contato com a minha família", disse.
"Durante toda a minha vida nunca ocorreu uma tempestade como esta, que devastasse a cidade de Iloilo tão rapidamente", disse uma mulher a um voluntário norte-americano da organização Mercy Corps. "Nós estamos habituados a tempestades. Acontecem 20 ou mais por ano. Elas sempre causam alguma destruição. Mas, nos meus 53 anos, Iloilo nunca foi tão atingida", acrescentou a mulher.
Obstáculos logísticos
A devastação tem tornado os esforços de ajuda extremamente difíceis. Com as estradas bloqueadas e os aeroportos danificados, até mesmo as viagens mais curtas se tornaram quase impossíveis. Integrantes da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) informaram que equipes de socorro foram enviadas a Ilha de Cebu no sábado, dia 9 de novembro.
"Eles ainda não foram capazes de avaliar a extensão das necessidades. O acesso às áreas afetadas pelo tufão Haiyan é extremamente difícil", relatou a organização em seu comunicado. "O aeroporto [da cidade] de Tacloban foi destruído, muitas das estradas estão bloqueadas e é quase impossível fazer chamadas telefônicas", acrescentou.
Além do pessoal por terra, a Médicos Sem Fronteiras também está enviando aviões de carga que transportam 200 toneladas de produtos, incluindo kits médicos, barracas e vacinas contra tétano, que devem chegar nos próximos três dias as Filipinas.
A Cruz Vermelha do país também enviou três equipes para Samar, Leyte e Capiz, além das equipes de busca e resgate na água que foram deslocadas para Olongapo. Porém, a organização enfrenta sérias dificuldades. "Até a manhã desta segunda-feira, as linhas de comunicação em Leyte ainda estavam danificadas e a inundação na região chega perto dos 10 metros de altura", afirma o comunicado distribuído pelo centro de operações da Cruz Vermelha local.
Erros do passado
Muitos especialistas compararam a destruição causada pelo tufão Haiyan ao tsunami de 2004, no Oceano Índico, que causou a morte de 275 mil pessoas em toda a Indonésia, Sri Lanka e Tailândia. Os analistas também afirmam que algumas lições podem ser aprendidas a partir de comparações com o passado.
Martin Mulligan, pesquisador-chefe de um projeto de pesquisa de ajuda humanitária da organização australiana AusAID, disse que, embora as organizações sejam preparadas para fornecer ajuda no curto prazo, o exemplo do tsunami de 2004 mostra que os esforços de reconstrução são os mais problemáticos. "Eu não estou convencido de que as organizações de ajuda humanitárias aprenderam as lições sobre como reconstruir as comunidades devastadas", disse Mulligan à agência de notícias AFP.
Alguns observadores também apontam que a corrida desesperada para enviar ajuda pode se transformar em um grave problema. "Normalmente, os esforços bem-intencionados das comunidades ao redor do mundo geram um fluxo incontrolável de mercadorias nas zonas de desastre. Isso cria um congestionamento nos portos e aeroportos, o que dificulta o socorro", explicou à AFP Paul Arbon, diretor da instituição australiana Torrens Resilience.
Outra preocupação de especialistas é a má administração dos recursos financeiros e a corrupção com o dinheiro enviado por governos e instituições de caridade, além da diminuição do interesse internacional.
"As organizações humanitárias têm muito a aprender com as histórias de sucesso pós-tsunami sobre como trabalhar dentro das comunidades atingidas, com o objetivo de garantir que a entrega das mercadorias seja eficaz e bem-direcionada", acrescentou Mulligan.