Design de interiores alemão tenta ultrapassar imagem prática e funcional
2 de outubro de 2013Carros, cerveja e salsicha. Esses três produtos são sinônimos de Alemanha em todo o mundo. E não importa se é o último modelo da BMW ou se a cerveja foi fabricada seguindo rígidas regras de pureza: os produtos alemães têm a fama de serem projetados sistemática e metodicamente, com um enfoque rigoroso e refinado na qualidade.
A Bauhaus – famosa escola de design concentrada na ideia de criar uma obra de arte "total" – foi estruturada da mesma maneira. O estilo Bauhaus se tornou uma das mais influentes correntes do design do século 20 por unir refinamento artístico e precisão industrial.
Porém, para especialistas, criar um interior agradável que diga algo sobre as pessoas que moram no local e unir essa atmosfera a uma estética inteligente é algo que ainda falta no design de interiores na Alemanha.
Além da Bauhaus
Quando se trata da "montagem teatral" de um ambiente interior, a Alemanha desaparece na sombra de países como Itália, França, Reino Unido e Estados Unidos. E existe pouca tradição de procurar um especialista para decorar a casa.
"Na Alemanha, o mais comum é cada um criar seu próprio conceito de lar. As pessoas não pedem a opinião de decoradores", diz o arquiteto e designer de interiores Gisbert Pöppler. Atualmente, ele exibe e vende peças de design, arte e artigos de luxo para decoração no antigo e dilapidado prédio na Wallstrasse 85 em Berlim, um dos favoritos dos aficionados por arquitetura na capital alemã.
"Em Nova York, você tem o seu terapeuta e o seu decorador", ri Pöppler que, ao lado de Erik Hofstetter, especialista na comercialização de mobiliário vintage, é responsável pela exposição Between Time. O showroom temporário em Berlim é uma suntuosa coleção de peças que passeia pelas tendências do design no século 20, de tapetes chineses de art déco a peças dos melhores fabricantes italianos.
A ideia por trás da mostra é trazer a arte e o refinamento do design de interiores para o público alemão. O país é, sem dúvida, precursor na produção, mas as marcas de design alemão ainda estão longe de criar tendências. O design de interiores do país também ainda não atingiu um reconhecimento internacional.
"Os famosos designers de interior dos Estados Unidos, da Inglaterra e da Itália se concentram mais no interior como um todo. Na Alemanha, o design de interior, ou arquitetura de interior, é algo totalmente diferente porque estamos muito concentrados nos objetos – nas peças de mobiliário, como um sofá ou uma prateleira", explica Andrej Kupetz, gerente geral do Conselho Alemão de Design. "O objetivo principal é sempre saber como produzir móveis de uma maneira industrial", completa.
A melhor cadeira do mundo
O design de interiores na Alemanha sempre foi pensado em torno do artesanato. A Bauhaus introduziu uma abordagem industrial no design. "Hoje, o problema para os jovens designers que tentam ingressar no mercado do design de interiores é que eles ainda são treinados para serem designers industriais", explica Kupetz.
Sem nenhum ícone ou legado, "muitos dos designers ou arquitetos de interiores acabam em lojas de móveis fazendo o planejamento de cozinhas ou sistemas porque os alemães gostam da ideia de sistematizar seu mobiliário", afirma Kupetz. Ele usa como exemplo os minimalistas sofás Conseta. Fabricado desde os anos 1960, o Conseta ainda é um dos mais bem sucedidos modelos de sofás na Alemanha.
"A ideia que sua casa possa ser um palco para expressar seu estilo de vida é um conceito com o qual os alemães não estão familiarizados. O arquiteto de interiores na Alemanha não é um decorador", diz Kupetz.
Termo protegido na Alemanha
A Segunda Guerra Mundial paralisou o desenvolvimento do design industrial na Alemanha. E só é possível retraçar a tradição do design de interiores a partir de 1950, com a reconstrução do país. Depois da guerra, os prédios destruídos precisavam ser reerguidos. Não poderia haver melhor oportunidade de implementar novos conceitos de design em uma sociedade que estava se encontrando novamente.
"O design de interiores como uma disciplina própria, concentrada na qualidade dos interiores, além de sua arquitetura, começou a ser discutido cedo", relembra Rudolf Schricker, vice-presidente Associação Alemã dos Arquitetos de Interiores, fundada em 1952.
Nos anos 1970 e 1980, as universidades alemãs ofereciam especialização ou mestrado em design de interiores. Hoje, o certificado ainda é um requisito na indústria, além de experiência prática. Nesse ramo, o objetivo é se tornar membro de uma associação profissional.
Como a Innenarchitektur (arquitetura de interiores) é um termo legalmente protegido na Alemanha, nem todo designer de interiores pode ser chamado de arquiteto de interiores se não completar o processo de formação exigido. Essa é a razão pela qual um grande número de profissionais se autodenomina designer, e não designer de interiores.
Design socialmente responsável
Rudolf Schricker diz que o design de interiores vem lutando há muito tempo por uma reputação independente no país – para poder sair da sombra da arquitetura. "O design de interiores na Alemanha está se emancipando", afirmou.
Hoje, o objetivo do design de interiores é ser relevante para a sociedade, com uma nova geração de designers buscando encontrar um significado mais profundo em seus projetos, aplicando-os aos contextos sociais. Os designers de interiores alemães foram grandes responsáveis pelo desenvolvimento de ambientes que aumentam a qualidade de vida de deficientes físicos e idosos.
"Hoje, agir de forma responsável é algo essencial, mais do que passar uma imagem glamourosa", diz Schricker. "Quase parece que há um desenvolvimento, semelhante ao triunfo do design universal no mundo todo: um design próximo das pessoas, que não é superficial, mas significativo, honesto, durável e importante para cada pessoa", completa.