Desafio de Maduro é mostrar ser mais que a sombra de Chávez
8 de março de 2013Passaram-se apenas três dias, mas as frases de efeito e o ritmo dos discursos já tentam ser iguais. O chamativo casaco com as cores da bandeira venezuelana também é o mesmo, assim como o tom desafiador e os devaneios sobre a oposição e os Estados Unidos. Nicolás Maduro não está apenas exercendo de fato a presidência da Venezuela – seguindo a determinação do próprio Hugo Chávez – como parece ter incorporado seu mentor político: "Eu sou Chávez", vem repetindo.
Vice-presidente indicado por Chávez, Maduro fala e age como chefe de Estado, mas, segundo a oposição, não deveria. A Constituição venezuelana diz que, se o presidente eleito morrer antes de assumir o cargo, caberá ao líder da Assembleia Nacional exercê-lo até a realização de novas eleições. Doente e em tratamento em Cuba, Chávez jamais tomou posse para um novo mandato, mas seus partidários argumentam que, como ele já estava no cargo, não seria necessário fazê-lo.
Assim também interpretou em janeiro a Suprema Corte venezuelana, abrindo caminho para que Maduro, como vice-presidente, assumisse o posto. Já nesta quarta-feira (05/03), um dia após a morte de Chávez, Maduro fez sua primeira ação como presidente interino ao assinar o decreto de luto nacional. De mãos atadas, a oposição criticou a manobra, mas não fez disso seu cavalo de batalha.
O foco da oposição já está nas eleições, que ainda não foram convocadas, mas devem ser realizadas em até 30 dias – como determina a Constituição. E suas críticas vêm se centrando no uso do aparato estatal para a propaganda chavista e nas Forças Armadas, que já declararam apoio incondicional a Maduro.
"É inadmissível, inoportuno e inconstitucional", disse o secretário-executivo do bloco opositor Mesa de Unidade Democrática (MUD), Ramón Guillermo Aveledo, em referência às declarações do ministro da Defesa venezuelano, Diego Molero, em apoio ao chavismo. "As Forças Armadas são uma instituição essencialmente profissional, sem militância política e organizada pelo Estado para garantir a independência e a soberania da nação."
Máquina estatal a seu favor
As próximas eleições serão as primeiras em 14 anos em que a oposição não precisará concorrer contra Chávez. O desafio, no entanto, deverá ser igualmente grande. Nas ruas, a vasta maioria dos partidários do chavismo deixava claro que seu voto seria em Maduro. Ao mesmo tempo em que choravam a morte do líder diante do caixão, muitos eram ouvidos prometendo votar no vice-presidente.
Uma pesquisa da empresa privada Hinterlaces, realizada pouco dias antes da morte de Chávez, mostrou que Maduro teria 50% dos votos num eventual confronto com Henrique Capriles, provável candidato opositor. Quando concorreu com Chávez, em outubro, Capriles conseguiu 44% de apoio nas urnas, 10 pontos atrás do então presidente.
Novas eleições são, naturalmente, uma nova chance para a oposição, mas sua convocação dentro de 30 dias pode ser, ao mesmo tempo, uma armadilha. Capriles terá que jogar contra a grande comoção nacional e contra os grandes recursos do Estado, que devem levar novamente os chavistas em peso às urnas. O opositor terá, ainda, que vencer a desconfiança dos seus partidários e convencê-los a sair de casa para participar de uma batalha que muitos têm como perdida. Para as alas mais radicais da oposição, participar de uma eleição no atual contexto seria legitimar um governo inconstitucional.
Maduro, por sua vez, tem a simpatia da esmagadora maioria dos chavistas e, como candidato-presidente, a máquina estatal a seu favor. Ex-motorista de ônibus, desde jovem está envolvido em movimentos de esquerda e conseguiu se aproximar de Chávez pela lealdade e obediência – às vezes com certa subserviência.
Além de se eleger, Maduro tem a missão de levar a economia venezuelana de volta aos trilhos, manter a estabilidade nas Forças Armadas e buscar consenso entre os setores mais radicais do chavismo para evitar instabilidade. Seu desafio agora talvez não seja "ser Chávez", mas, pelo menos até as eleições, mostrar que pode ser mais que uma sombra dele.
Autor: Rafael Plaisant Roldão
Revisão: Alexandre Schossler