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Da foto para o livro, do livro para o museu

Sarah Judith Hofmann (mas)25 de agosto de 2014

Museu do Livro de Fotografia, em Colônia, reúne 30 exposições individuais para mostrar que, compiladas em livros, imagens podem contar histórias numa linguagem universal.

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Instalação do fotógrado japonês Daido Moriyama no Museu do Livro de FotografiaFoto: DW/S. Hofmann

Um salão do antigo complexo industrial Carlswerk, em Colônia, exibe 5 mil metros quadrados de charme industrial, luzes fluorescentes, teto de vidro e piso de concreto. No início do século 20, o primeiro cabo telefônico transatlântico, que ligou o norte da Europa à América, foi produzido no local. Hoje, conectar o mundo também é um dos objetivos do Museu do Livro de Fotografia, inaugurado em agosto no Carlswerk, por ocasião dos 175 anos da fotografia.

"Quando ouvem falar num Museu do Livro de Fotografia, a primeira coisa que vem à cabeça das pessoas são quatro mil vitrines com preciosos e caros livros, que elas podem observar à distância", diz Markus Schaden, idealizador do projeto. "Mas aqui é diferente. Queremos mostrar que em um museu de livros de fotografia, se fala uma língua que todos podem entender, no Japão, no Brasil ou em qualquer outro lugar."

Schaden não é um desconhecido na cena da fotografia de Colônia, no oeste da Alemanha. Sua loja de livros de fotografia, que leva seu nome, tornou-se uma instituição na cidade, e hoje existe apenas online. Com sua editora, ele já lançou mais de cem livros de fotografia e, agora, o Museu do Livro de Fotografia.

O museu compreende 30 exposições individuais, separadas por contêineres e biombos. O percurso começa com um livro numa vitrine: um simples álbum de fotografias. Schaden chama o objeto de um "aperitivo" para quem está apenas começando a descobrir o mundo dos livros de fotografia.

Ausstellung des Photobook Museum
Jiang Jian, famoso na China, ganhou destaque na mostraFoto: DW/S. Hofmann

O mestre Jiang e os órfãos

O artista chinês Jiang Jian, chamado de "mestre Jiang" em sua terra natal, é uma celebridade na cena da fotografia chinesa. No Museu do Livro de Fotografia, há caixas penduradas na parede com diferentes fotos de seus ensaios.

O primeiro trabalho mostra órfãos em imagens de corpo inteiro, fotografados contra um fundo preto. Ao lado das imagens, uma ficha do orfanato com os dados da criança: quando ela nasceu, de onde ela veio, quando ela chegou ao orfanato, quem são seus pais. As crianças não sorriem ou posam para a câmera, mas olham sobriamente para o espectador. Ainda assim, elas são reconhecidas como crianças, como indivíduos, para além do que está escrito na ficha de dados. Jang tem o olhar sóbrio de sociólogo.

"Ele é o August Sander da China", diz Schaden, mostrando que o Museu do Livro de Fotografia não exibe apenas fotos dos grandes mestres como o alemão August Sander, famoso por trabalhos como Homens do Século 20.

O mestre Jiang não é muito conhecido fora da China. Ele é violinista e, durante a Revolução Cultural Chinesa, foi enviado, assim como outros intelectuais, para viver numa aldeia. No remoto vilarejo, ele teve uma câmera de formato médio nas mãos pela primeira vez e começou a fotografar seus companheiros.

Markus Schaden Photobookmuseum
Schaden, idealizador do museu, é dono de uma conhecida loja de livros de fotografia em ColôniaFoto: Damian Zimmermann

Além dos órfãos, o Museu do Livro de Fotografia também exibe fotos que Jiang fez das famílias camponesas de Henan, uma das províncias mais pobres da China, e uma série feita com uma classe de uma escola para meninas. Jiang pediu às mulheres, reunidas numa foto de formatura em 1966, que posassem da mesma maneira 40 anos mais tarde. Ele mostra todas as mulheres em fotos 3x4 de 1966 e de 2006.

990 rostos

Retratos são o tema principal do trabalho de Hans Jürgen Raabe. Num período de dez anos, o alemão fotografou 990 pessoas em 33 lugares diferentes. Em cada localidade, ele fez 30 retratos e 10 fotos, as quais mostravam detalhes sobre o lugar onde elas foram feitas, sem serem óbvios à primeira vista. Papua Nova Guiné, o santuário de Lourdes, a Torre Eiffel, o Portão de Brandemburgo e muitos outros lugares foram registrados pelo fotógrafo.

"Eu quero captar uma imagem do meu tempo, e isso é, naturalmente, uma imagem global. Para isso, não é necessário ir muito longe, ir até o Portão de Brandemburgo já é suficiente", diz Raabe. Mesmo que, à primeira vista, não se reconheça, Papua Nova Guiné também é um "caldeirão de culturas", que une diferentes tribos e línguas. Raabe quer mostrar que a globalização já aconteceu há muito tempo e que, nesses lugares que ele visita, a coexistência dessas pessoas funciona muito bem.

Hans Jürgen Raabe 990 Faces
Na série "990 rostos", o alemão Hans Jürgen Raabe retratou pessoas em 33 lugares do mundoFoto: Hans Jürgen Raabe

Raabe começou seu projeto em 2010, e até agora, já fez 300 retratos e detalhes, que podem ser vistos agora no Museu do Livro de Fotografia. Numa grande instalação de LED, os enormes retratos tomam conta do salão no Carlswerk. E os livros de fotos também estão presentes: para cada lugar que visitou, Raabe publicou um livro, que pode ser folheado pelos visitantes da mostra.

O objetivo do museu é que o público interaja com o que vê. Além dos contêineres e biombos, cada um dedicado a um fotógrafo, há um quarto escuro, uma câmera escura, uma sala de leitura, uma livraria e um bar, que é uma réplica do Café Lehmitz – uma referência ao fotógrafo sueco Anders Petersen, que retratou o café em Hamburgo com o mesmo nome em 1978.

Colônia ontem e hoje

No porão do Carlswerk, há uma homenagem ao fotógrafo Chargesheimer, um dos grandes nomes da fotografia de Colônia. Em seu mais famoso livro, Köln 5 Uhr 30 (Colônia 5h30) , ele documentou sua cidade nos anos 1970. Aparentemente sóbrio, mas ao mesmo tempo com um olhar melancólico, Chargesheimer – cujo nome real era Karl-Heinz Hargesheimer – retratou uma cidade deserta, que, a seu ver, foi novamente destruída com a arquitetura da reconstrução depois dos bombardeios da Segunda Guerra Mundial. Uma triste declaração de amor à cidade. Para a exposição Chargesheimer Reloaded – Köln 5 Uhr 30, os moradores de Colônia foram convidados a enviar fotos da cidade, mais uma vez vazia e deserta.

Carlswerk, Köln Photobookmuseum
Contêineres abrigam 30 exposições individuais do Museu do Livro de FotografiaFoto: Daniel Zakharov

Muitos podem achar que os livros de fotografias não são relíquias do passado, perguntando-se se ainda há quem compre esses pesados e caros objetos em tempos em que as imagens podem ser vistas online. Schaden diz que sim, afirmando que, na última década, mais livros de fotografia foram publicados do que nos 170 anos anteriores. Além disso, não há mais nenhuma feira de fotografia que não tenha uma sessão dedicada aos livros de fotografia, destaca.

Grandes instituições – como a Tate Modern, em Londres, e o Museu de Belas Artes, de Houston – adquiriram grandes coleções de livros de fotografia nos últimos anos. Mas um museu dedicado exclusivamente a eles ainda não existe.

Por enquanto, o Museu do Livro de Fotografia é apenas uma exposição temporária, em cartaz no Carlswerk até 3 de outubro. No fim da mostra, os contêineres azuis serão empacotados e poderão ser vistos em outros lugares. Mas Schaden pretende encontrar um espaço em Colônia para abrigar o Museu do Livro de Fotografia permanentemente.