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"Cúpula legitima o regime norte-coreano"

Charlotte Voss av
12 de junho de 2018

O encontro entre Trump e Kim Jong-un é festejado como sucesso. Em entrevista à DW, especialista desaconselha excesso de entusiasmo e alerta para "dano colateral" para os direitos humanos.

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Sorrisos de líderes norte-coreano e americano em Cingapura
Sorrisos de líderes norte-coreano e americano em CingapuraFoto: Reuters/The Straits Times/K. Lim

Finalmente transcorreu, nesta terça-feira (12/06), o tão esperado encontro entre os líderes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Coreia do Norte, Kim Jong-un, classificado como histórico e incluindo a assinatura de um termo de compromisso com a desnuclearização da Península Coreana e garantias de segurança.

A DW entrevistou Janka Oertel, associada transatlântica do programa para a Ásia do German Marshall Fund. Para ela, o diálogo é indiscutivelmente melhor do que as ameaças de guerra nuclear, mas um "dano colateral" para os direitos humanos.

Ela chama a atenção para a brutalidade demonstrada pelo ditador e adverte: "Temos que ser muito cuidadosos em não fazer de Kim um 'astro do rock', só porque ele é uma pessoa esquisita com um corte de cabelo esquisito e anda assim por Cingapura. Não devemos ser hipócritas."

Deutsche Welle: Nós vimos as fotos de Donald Trump e Kim Jong-un assinando a declaração conjunta. Eles se agradeceram reciprocamente pelo encontro e por tudo o que deve vir no futuro. Até que ponto isso beneficia o líder da Coreia do Norte no palco internacional?

Janka Oertel: Um encontro com o presidente dos Estados Unidos é a melhor legitimação que se pode ter. A cúpula legitima este regime norte-coreano. Pode dizer que se trata de dano colateral. Eles estarem se falando é melhor do que se ameaçar mutuamente ou começar uma guerra nuclear, mas é dano colateral para os direitos humanos. Não se pode esquecer: esse ditador tem um balanço apavorante em termos de direitos humanos.

Mas a Coreia do Norte está em processo de transformação. Há jovens que assistem as telenovelas sul-coreanas em pen-drives contrabandeados para o país. Vai se desenvolvendo um espécie de economia de mercado: hoje quase 50% do PIB nacional são alegadamente obtidos no mercado, através de mecanismos econômicos. Então está havendo uma transformação, e por isso Kim precisa de mais legitimação externa, pois não tem como obtê-la através de prosperidade, como é o caso da China.

Por falar em legitimação: Trump foi muito criticado por possibilitar esse encontro a Kim sem concessões reais em troca, sobretudo em relação à desnuclearização. Agora, depois do primeiro diálogo, é melhor deixar por isso mesmo?

Em muitos aspectos, é um jogo de azar. A abordagem usada até então com a Coreia do Norte não funcionou, os EUA tentaram durante anos. Talvez esse caminho inusual tenha agora ajudado. E devemos agora simplesmente reconhecer que ele tem vantagens, conseguiu-se travar um diálogo com o país. Ainda há pouco nós estávamos à beira da guerra atômica, o presidente dos EUA definitivamente pensou em alternativas militares na Península Coreana, que teria causado milhões de mortes. A conversa é, portanto, independente de quanto teatro e circo também seja, melhor do que uma guerra.

No passado a Europa se manteve antes reticente em relação a um engajamento na Coreia do Norte. Mas a percepção de Kim Jong-un pelo público mudou nos últimos meses. Como os europeus veem essa cúpula de Trump e Kim.

Acho que temos que ser muito cuidadosos em não fazer de Kim um "astro do rock", só porque ele é uma pessoa esquisita com um corte de cabelo esquisito e anda assim por Cingapura. Devemos ser muito cuidadosos com essas imagens e realmente falar sobre a substância do encontro, e não sobre o show, pois isso só ajudaria Kim Jong-un. Não devemos ser hipócritas.

É preciso tomar cuidado com a afirmação de que a Europa se manteve antes reticente em relação ao conflito da Coreia do Norte. Os europeus estão presentes em Pyongyang, há relações diplomáticas com o país; a Alemanha tem relações diplomáticas, mantemos uma embaixada lá; os suecos cuidam no momento de todas as questões consulares dos EUA.

Portanto há muitas oportunidades e caminhos para os europeus participarem da aproximação. Mas, naturalmente, até agora não tentou se apresentar como parceira de negociações, pois o conflito não afeta tanto sua segurança quanto a dos países na região ou dos EUA.

Também no acordo com o Irã os europeus mostraram que são capazes de participar de processos sérios assim. E diversos especialistas creem que um possível acordo com a Coreia do Norte será muito semelhante ao com o Irã – do qual, é verdade, Trump acaba de se retirar. Mas talvez ele vá prezar mais um acordo com Pyongyang, pois ele mesmo o terá assinado.

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