"Críticas mostram que Eduardo é adequado para embaixada"
15 de julho de 2019O presidente Jair Bolsonaro sugeriu nesta segunda-feira (15/07) que não pretende se deixar influenciar pela repercussão negativa da indicação do filho Eduardo para a chefia da embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Segundo o presidente, as críticas mostram que seu filho é a pessoa "adequada" para o cargo.
"Por vezes, temos que tomar decisões que não agradam a todos, como a possibilidade de indicar para a embaixada dos Estados Unidos um filho meu, tão criticado pela mídia. Se está sendo criticado, é sinal de que é a pessoa adequada", disse Bolsonaro durante um evento na Câmara Federal que celebrou o aniversário do Comando de Operações Especiais do Exército. Eduardo, que é deputado, estava entre os presentes na solenidade.
Na última quinta-feira, Bolsonaro disse que pretende indicar o filho para o posto em Washington, que está vago desde abril. O anúncio ocorreu um dia após Eduardo completar 35 anos, idade mínima para ocupar o cargo.
O anúncio provocou imediatamente uma enxurrada de críticas no meio político, diplomático e no Judiciário, que logo acusaram o presidente de prática de nepotismo. "Minha impressão é péssima", disse o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello.
"É uma quebra de padrão diplomático jamais vista na diplomacia brasileira e possivelmente nos anais da diplomacia mundial", disse, por sua vez, o diplomata veterano Paulo Roberto de Almeida, que serviu como ministro-conselheiro na embaixada em Washington entre 1999 e 2003.
O plano do presidente também representa uma quebra sem precedentes na tradição diplomática do país. Nunca na história republicana brasileira um presidente indicou um filho para um cargo de embaixador, ainda mais em um posto tão sensível quanto a representação nos EUA. A prática também é exótica em grandes democracias do mundo. Exemplos desse tipo de indicação só são encontrados em ditaduras – como a Arábia Saudita, o Chade e o Uzbequistão.
A embaixada brasileira em Washington já foi preenchida com indicações políticas no passado, como o ex-governador Juracy Magalhães nos anos 1960 e o banqueiro Walther Moreira Salles na década de 1950, mas nenhum dos indicados tinha relação de parentesco com o presidente da vez.
Ao defender a nomeação, Bolsonaro admitiu que a filiação foi um fator decisivo. Segundo ele, a indicação de um parente possibilitaria um tratamento "diferente de um embaixador normal". O presidente ainda afirmou que o deputado é supostamente amigo dos filhos do presidente americano, Donald Trump, além de saber falar inglês.
"Ele [Eduardo] é amigo dos filhos do Trump, fala inglês, fala espanhol, tem vivência muito grande de mundo", disse. "Fico imaginando o povo americano vendo o presidente do Brasil enviando seu filho. Acredito que a nomeação de alguém tão próximo ao presidente seria visto com bons olhos pelo lado americano."
Falta de experiência
Deputado federal em segundo mandato, Eduardo, que é chamado de "03" pelo pai, é escrivão concursado da Polícia Federal. Não possui nenhuma formação na área internacional, mas é membro da Comissão de Defesa e Relações Exteriores da Câmara e exerce influência sobre a política externa do governo do pai, além de acompanhar o presidente em viagens internacionais, tal como ocorreu no Fórum Econômico de Davos e na cúpula do G20.
Após o anúncio, Eduardo tentou minimizar a sua falta de experiência diplomática. "Não sou um filho de deputado que está do nada vindo a ser alçado a essa condição. Tem muito trabalho sendo feito, sou presidente da Comissão de Relações Exteriores [da Câmara], tenho uma vivência pelo mundo, já fiz intercâmbio, já fritei hambúrguer lá nos Estados Unidos", disse ele na sexta-feira.
Membros do governo também espalharam para alguns veículos da impressa que a indicação de Eduardo poderia gerar uma "troca" com os EUA. Segundo essa versão, Trump poderia nomear um de seus filhos, Eric, para a embaixada americana em Brasília. Só que jornalistas brasileiros baseados em Washington informaram que membros da Casa Branca disseram que desconheciam o assunto.
Eduardo ainda recebeu apoio do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. "É um excelente nome, presidente. Seria ótimo", disse o chanceler. No ano passado, o deputado foi um dos responsáveis pela indicação de Araújo para a chefia do Itamaraty, bem como de Filipe G. Martins para o cargo de assessor de Assuntos Internacionais da Presidência. Martins também apoiou a indicação: "Quem não quer um embaixador forte nos EUA quer um Brasil fraco no concerto das nações", escreveu no Twitter.
Eduardo é também próximo do ideólogo Olavo de Carvalho. Após falar com jornalistas sobre a indicação, o deputado chegou a brincar que poderia aproveitar a proximidade de Washington com o local de residência de Olavo, no estado americano da Virgínia. "Que a gente venha a fazer alguns churrascos e dar uns tiros no quintal dele", disse Eduardo.
Mas a indicação para a embaixada gerou críticas até mesmo de Olavo, que classificou uma possível ida de Eduardo de um "retrocesso". Na visão do guru do governo, seria melhor que o deputado ficasse no Congresso para ajudar a investigar o Foro de São Paulo – uma organização internacional que reúne partidos de esquerda, como o PT, e que é seguidamente denunciada pela extrema direita brasileira por supostamente promover o comunismo.
"O diplomata tem lá as suas obrigações regulamentares e não vai poder nem ficar falando do Foro de São Paulo. Isso seria um retrocesso, seria a destruição da carreira do Eduardo Bolsonaro", disse Olavo em um vídeo no YouTube.
Caso se concretize oficialmente, a indicação de Eduardo para o posto terá que ser aprovada pelo Senado, onde ainda terá que passar por uma sabatina.
JPS/ots
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