Críticas aos EUA na conferência antiterror em Madri
"O terrorismo é uma ameaça à vida, uma afronta aos direitos fundamentais e a negação da liberdade", salientou o príncipe Felipe, herdeiro da coroa espanhola, na abertura da Conferência Internacional sobre Terrorismo, Democracia e Segurança em Madri, nesta terça-feira (08/03).
O encontro de três dias reúne 200 peritos em segurança, representantes de mais de 50 países e 23 políticos que já foram ou ainda são chefes de governo, além do encarregado da União Européia para Política Externa e de Segurança, Javier Solana e o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan. Nos atentados a bomba contra dois trens em 11 de março do ano passado, em Madri, morreram 191 pessoas e 1500 ficaram feridas.
As autoridades espanholas pediram aos participantes do encontro medidas para o reforço efetivo da cooperação internacional e agradeceram a solidariedade recebida após os atentados do ano passado. O príncipe Felipe presidiu a cerimônia de abertura ao lado da esposa, a princesa Letícia.
Ele salientou que iniciativas como esta "confirmam que na comunidade internacional não faltam vontade, força e recursos para combater o terrorismo" e desejou que os trabalhos permitam "um reforço efetivo da cooperação internacional para conseguir a sua total erradicação".
Agenda de Madri reunirá os resultados
A conferência foi aberta pelo ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, que preside o Clube de Madri, organizador do encontro. O Clube de Madri reúne 44 antigos chefes de Estado e de governo, entre os quais Bill Clinton e Mikhail Gorbatchov.Fernando Henrique referiu-se ao terror de 11 de março como "um atentado contra a vida humana, mas também contra a paz e a segurança internacional" e acrescentou que "o melhor tributo que podemos prestar às vítimas é redigir uma Agenda de Madri firme e convincente, com medidas concretas para a promoção do consenso e a cooperação, indispensáveis para uma luta que é global".
Uma potência como os Estados Unidos não pode falar em liberdade e democracia e ao mesmo tempo enfraquecer as Nações Unidas, salientou o ex-presidente brasileiro, numa crítica direta à Casa Branca. "A unilateralidade enfraquece o sistema internacional e aumenta a sensação de insegurança. Uma guerra como a do Iraque não pode se repetir", salientou.
Zapatero quer pacto contra o terror
Até quinta-feira, peritos em segurança internacional discutirão questões como as causas da violência terrorista, de que forma a sociedade pode ser protegida de grupos radicais, as armas políticas e militares para combater o terror, formas de impedir o financiamento do terrorismo, as relações entre segurança e direitos civis, o papel da imprensa e as conseqüências do terror para o turismo.A troca de idéias resultará num catálogo de medidas, há muito reivindicado pelo premiê espanhol José Luis Zapatero: "Sugiro um pacto das forças sociais, políticas e democráticas contra o terrorismo internacional. Este pacto servirá de motivação e de modelo à comunidade internacional. Nós, espanhóis, estamos aptos a tomar esta iniciativa", salientou Zapatero.
O fim da conferência, na quinta-feira, dia 10, coincidirá com a cerimônia de rememoração às vítimas do atentado de um ano atrás. Embora não esteja confirmada a presença de líderes políticos do calibre do presidente norte-americano, nem do presidente francês ou do chanceler federal alemão, o ato terá a participação do ministro alemão do Exterior e de outras autoridades internacionais que participam da conferência.