Crise de opioides e a ausência de salas de injeção nos EUA
26 de outubro de 2017"Silêncio – Sala íntima", lê-se numa placa de um hospital em Maryland. "Eu não queria ir até lá, porque sabia para que servia aquele quarto", lembra-se Toni Torsch. Mas, finalmente, ela teve que ir e enfrentar o que os médicos tinham para dizer. Foi em 3 de dezembro de 2010, o dia em que seu filho Daniel morreu de uma overdose acidental de heroína.
Ele tinha 24 anos e era dependente de opioides [drogas com efeitos semelhantes à morfina], um vício que havia desenvolvido sete anos antes. Um médico lhe prescrevera o analgésico oxicodona para ajudar a aliviar a dor de uma lesão ocorrida quando jogava futebol. Foi quando começou o que ele chamava de "problema de pílulas".
Depois do tratamento, ele continuou comprando o medicamento nas ruas ou na escola. Mais tarde, ele recorreu à heroína, que era mais barata e mais fácil de encontrar.
"Para ele, era vergonhoso e constrangedor", disse Torsch à DW. "Ele não queria que ninguém soubesse." Ao longo dos anos, contou a mãe, ele tentou superar o vício várias vezes seriamente – mas não conseguiu acalmar a "fera", como ele chamava a sua dependência de opioides.
Poupando vidas e dinheiro
Histórias como a de Daniel tornaram-se muito comuns nos EUA, onde uma epidemia de opioides está devastando famílias e municípios. No ano passado, por volta de 50 mil pessoas morreram por overdose de opioides, incluindo a heroína e o ainda mais forte fentanyl, segundo dados oficiais preliminares. Isso corresponde a um número dez vezes maior que em 2000.
Diante desta epidemia, o presidente Donald Trump declarou nesta quinta-feira (26/10) a crise de opioides como emergência de saúde pública. A medida facilita que recursos governamentais sejam redirecionados para combater esse problema.
"Essa epidemia é uma emergência de saúde pública nacional. Como americanos, não podemos permitir que isso continue", disse Trump, durante um discurso na Casa Branca.
O presidente afirmou ainda que a crise não está poupando nenhuma parte dos EUA.
O país está procurando maneiras de reduzir as mortes por abuso de drogas e ajudar as pessoas a sair do seu vício. Uma ideia que está sendo discutida de forma controversa é o estabelecimento de salas para injeção supervisionada ou SIFs (Safe Injection Facilities).
Esses são espaços onde os viciados em opioides podem usar drogas que adquiriram em outros lugares, sem medo de perseguição legal. Isso ajuda a evitar mortes por overdose, pois há uma equipe médica no local para intervir em caso de emergência.
Críticos dizem que as SIFs iriam basicamente legalizar, tolerar e até mesmo incentivar o uso de heroína. Em outros países, principalmente na Europa, tais salas já existem há muito tempo. A primeira foi aberta em Berna, na Suíça, em 1986. Nos EUA, apesar do aumento das mortes por overdose, não existe nenhuma.
"Isso tem que acontecer", disse Torsch, falando a favor das SIFs. "Eu não quero lutar para que as pessoas consumam mais heroína. Eu só quero lutar para salvar vidas." Após a morte de seu filho, ela e sua família criaram uma fundação que ajuda famílias afetadas pelo vício de opioides na região de Baltimore, Maryland.
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Aqui, dois estudos deram um argumento forte para o estabelecimento das SIFs na cidade. Um deles estima que uma única sala poderia evitar seis mortes por overdose a cada ano. Além disso, os autores da pesquisa afirmam que as SIFs poderiam gerar 6 milhões de dólares anuais – porque, por exemplo, reduziriam o número de chamadas de ambulâncias e as visitas de emergência.
Essas estimativas são baseadas em dados da Insite em Vancouver, Canadá – que é até agora a única sala de injeção supervisionada na América do Norte. Com mais de 3,6 milhões de injeções desde que abriu em 2003, o projeto canadense não registrou uma só morte por overdose desde então.
Em Maryland, assim como nos EUA como um todo, o tema é controverso. No início deste ano, um deputado na Assembleia Legislativa do estado do leste americano apresentou um projeto de lei que abriria o caminho para o estabelecimento de SIFs em Baltimore. Não foi aprovado.
Na época, o governador Larry Hogan chamou a proposta de "absolutamente insana" e "idiota". Seu gabinete não respondeu a um pedido da DW, perguntando por que ele se opôs às SIFs.
"Nenhuma varinha mágica"
Em outras cidades, como Nova York e São Francisco, também há debates sobre a abertura ou não de SIFs. Na região de Seattle, os legisladores já concordaram em estabelecer duas salas piloto, mas até agora nenhuma abriu. Muitas cidades da região, no entanto, até proibiram SIFs em seu território.
Um grupo chamado I-27 tem feito campanhas para eliminar a ideias das salas como um todo e, em vez disso, se concentrar no tratamento tradicional. Na semana passada, um juiz derrubou os planos da iniciativa para que as pessoas decidissem sobre o assunto.
O líder do grupo, Joshua Freed, afirmou que ele e seus companheiros iriam continuar lutando contra as SIFs. "Acho que, em vez de continuar permitindo o uso, uma sociedade atenciosa diz: 'vamos encontrar um lugar onde você possa ser ajudado'", defendeu.
Para Torsch, uma SIF seria exatamente esse tipo de lugar. "Não vai ser uma varinha mágica. Mas se trata de mais um espaço, de mais uma oportunidade para pessoas com essa doença", afirmou. "Temos a esperança de que possamos ajudar outras famílias a evitar a dor com que convivemos."
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