1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

"Crise com Indonésia pode afetar comércio com Ásia"

Larissa Sartori 1 de março de 2015

Recentes desavenças diplomáticas podem prejudicar as relações comerciais brasileiras com Asean, um dos blocos que mais cresce no mundo, opina a especialista em relações internacionais Danielly Silva Ramos Becard.

https://p.dw.com/p/1EilJ
Dilma Rousseff se recusou a receber as credenciais do embaixador da Indonésia e irritou líderes políticos do país asiáticoFoto: Reuters/U. Marcelino

As relações diplomáticas entre Brasil e Indonésia vêm se deteriorando desde a execução do brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, no dia 17 de janeiro. Em represália, o governo brasileiro se recusou a receber as credenciais do embaixador da Indonésia. O país asiático retaliou com a ameaça de cancelar a compra de 16 aviões da Embraer.

O que começou como uma desavença bilateral pode ter consequências mais amplas para o Brasil, opina a especialista em relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Danielly Silva Ramos Becard.

Em entrevista à DW, ela explica que a atual situação da política externa brasileira poderia desencadear reações econômicas nas negociações com países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). Os acordos econômicos entre o Brasil e Asean cresceram nos últimos anos. Hoje, o Brasil exporta minério de ferro, farelo de soja e o grão de soja para o bloco econômico asiático.

DW: Como o impasse diplomático poderia influenciar nas relações comerciais brasileiras?

Danielly Silva Ramos Becard: A pressão política feita pelo Brasil sobre o governo da Indonésia pode confrontar outros países da Asean. Os argumentos que levaram à condenação do brasileiro à pena de morte valem igualmente para outros países-membros que também aplicam a pena capital contra traficantes. Caso haja uma solidariedade desses países-membros com a Indonésia, o Brasil poderia sair prejudicado em diversos setores econômicos. Entretanto, nós não podemos prever uma reação direta da Asean, já que o bloco prioriza as relações econômicas.

Como você avalia a recente atitude do governo brasileiro com relação à Indonésia?

O Brasil defende historicamente princípios como a não intervenção nos assuntos internos de outro s países. E, ao mesmo tempo, defende princípios como a democracia e o respeito aos Direitos Humanos, o que em muito explica a postura atual do governo brasileiro, considerando que se trata de cidadãos brasileiros. A atitude da presidente Dilma Rousseff foi dúbia. O Brasil não tomou nenhuma decisão definitiva nas relações com a Indonésia. O credenciamento do novo embaixador no Brasil foi apenas adiado, mas mesmo assim o episódio foi considerado um constrangimento nas relações diplomáticas.

Brasilien Danielly Silva Ramos Becard EINSCHRÄNKUNG
Becard afirma que o Brasil mostra dificuldades em separar as agendas internas e externasFoto: privat

Existem normas jurídicas e diplomáticas que são ponderadas nas ações do governo brasileiro. Isso mostra que o desenvolvimento comercial no Brasil nem sempre é colocado em primeiro plano, prevalecendo assim valores e interesses político-sociais, mesmo que isso gere impactos internos e externos.

A situação entre o Brasil e a Indonésia demonstra a dificuldade de achar uma solução satisfatória para os interesses internos dos dois países, mas, na verdade, é uma circunstância que pode ocorrer com outros países. De fato, a presidente Dilma já recebe severas críticas quanto a seu desempenho nas relações exteriores. Neste caso específico, politizou-se uma situação que poderia ter sido contornada,mas que não depende só do Brasil.

Por exemplo, a China, maior país da Ásia oriental, recebe muitas críticas em relação à violação de direitos humanos, mas isso não impede que as relações comerciais ocorram. Apesar de ter uma agenda política extremamente complicada, a China não deixa de receber investimentos.

No caso da Indonésia, pode ser que as boas relações entre os países possam ser retomadas, caso o Brasil haja com rapidez. Fato que poderia evitar qualquer efeito na parte comercial. Impasses diplomáticos como esse acontecem com frequência entre países, mas a duração das desavenças depende dos jogos diplomáticos e, em particular, do apoio que o Itamaraty recebe do governo para resolver tais empecilhos.