1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Mulheres e a crise

17 de julho de 2009

Especialistas alertam que a desigualdade entre os sexos e o fato de as medidas contra a crise não levarem em consideração a situação peculiar das mulheres deverão afetar presença feminina no mercado de trabalho.

https://p.dw.com/p/IreI
Mulheres já ocupam 44% do mercado de trabalho na EuropaFoto: picture alliance/chromorange

Para o comissário europeu de Assuntos Econômicos e Monetários, Joaquín Almunia, o pior da crise econômica já passou, mas as condições ainda não são favoráveis. "Esperamos neste ano uma contração da economia na casa dos 4%, o que é muito", disse à Deutsche Welle sua porta-voz, Amelia Torres.

Cinco milhões de pessoas perderam seus empregos nos 27 países da União Europeia, sendo que o desemprego pulou de 6,8% em 2008 para 8,9% neste ano. "Apesar de haver sinais de uma recuperação lenta, o mercado de trabalho ainda sofrerá impactos", avalia Torres.

Ao grande desafio de implementar medidas para solucionar o problema, soma-se um novo aspecto, que diz respeito aos sexos: diferentemente das anteriores, esta crise afetará não apenas os homens, já que as mulheres estão mais integradas do que nunca ao mercado de trabalho.

Elas ocupam 44% dos postos de trabalho na Europa e, segundo a Eurostat, órgão europeu de estatísticas, quando o desemprego começou a crescer em 2008, ele já afetava mais mulheres do que homens em 20 países da União Europeia (UE).

Online-Jobbörse unter Druck
Desemprego deve crescer entre o público femininoFoto: dpa - Bildfunk

Igualmente afetados?

Um estudo realizado por Mark Smith, da Grenoble École de Management, em maio último – a pedido da Comissão Europeia e da Direção Geral de Emprego, Assuntos Sociais e Igualdade de Oportunidades – assegurava que o pior está por vir. E que serão elas, e não eles, os mais afetados: "Pois são as mulheres que se concentram em trabalhos flexíveis, de meio período, com salários menores e de curta duração", diz Smith.

A situação se agrava quando se leva em conta que, no caso de casais separados, é a mãe que chefia e sustenta a família. E, no caso de famílias com renda dupla, é a mulher – que tem, em média, a pior remuneração – que passa a sustentar o lar quando o homem é despedido.

Quem se sente segura?

Segundo Cristina Vicini, da Professional Women International, uma pesquisa não representativa entre as 3.500 afiliadas da associação indicou que apenas 20% têm a sensação de ter seu emprego garantido, embora tenham reduzido seus gastos. A pesquisa revelou também que 16% já perderam o emprego e 13% acreditam que ficarão desempregadas ainda em 2009. Outros 12% sentem-se seguras, mas não sairão de férias e se dedicam mais ao trabalho com medo de perdê-lo. Apenas 8% disseram que as condições haviam melhorado no último ano.

Outro fator preocupante é que não há previsão de crescimento nos setores tipicamente ocupados por mulheres. Como a educação, por exemplo, setor 78% ocupado por mulheres e que emprega 17% das mulheres da União Europeia, e as áreas social e de saúde, onde 71% das vagas são preenchidas por mulheres, ou seja, 11% da população feminina da UE.

No setor manufatureiro, onde 31% da força de trabalho é composta por mulheres, que juntas somam 13% das trabalhadoras da UE, está prevista uma redução de 43% dos postos de trabalho.

Arbeitslose auf Jobsuche
Igualdade entre sexos fica abalada em tempos de criseFoto: Bilderbox


Crise torna direitos humanos "artigos de luxo"

"Nós temos reagido rapidamente com pacotes de estímulo: os governos estão investindo pesado para sustentar a atividade econômica e limitar o impacto no mercado de trabalho, e também estão investindo no setor público para compensar a falta de atividade no setor privado. As contribuições sociais foram reduzidas para que as companhias mantenham ou contratem empregados, sobretudo os menos capacitados", informa Torres.

"Todas as medidas são 100% neutras em relação ao gênero", alerta Myria Vassiliadou, secretária-geral do Lobby Europeu das Mulheres, que concentra 2.500 associadas nos 27 países-membros. O fato de os pacotes de recuperação terem focado principalmente a indústria automobilística e o ramo de construção significa, na opinião de Vassiliadou, que "os direitos humanos são artigos de luxo e, quando há uma crise, quem pode pensar neles?"


Retrocesso da igualdade

A crise econômica, que provocou uma redução de 5% do PIB europeu, e as medidas para solucioná-la – que não diferenciaram entre cidadãs e cidadãos – poderiam paralisar, ou até cancelar, os progressos alcançados pelas políticas para promover a igualdade dos gêneros. Segundo Smith, há um grande risco de que as "custosas medidas para apoiar a entrada das mulheres no mercado de trabalho" sejam repensadas.

Segundo a World Values Survey, em pleno século 21, cerca de 42% da população europeia ainda pensa que, se tiverem que optar, é o homem o legítimo titular do posto de trabalho. "Muitas vezes, as mulheres são as primeiras a serem colocadas na rua", acusa Vassiliadou. "Pois os empregadores acreditam que, segundo uma lei não escrita, há sempre um homem por trás de uma mulher."

O estudo de Grenoble recomenda que sejam observados os diferentes pontos de partida de ambos os sexos e que se aceite o fato de que as mulheres estão mais expostas à insegurança econômica. Para o Lobby Europeu das Mulheres, ao definir novas políticas, é preciso "reconhecer que existe um aspecto de gênero nesta crise e que ele é muito forte".

Autora: Mirra Banchón

Revisão: Rodrigo Abdelmalack