Mulheres e a crise
17 de julho de 2009Para o comissário europeu de Assuntos Econômicos e Monetários, Joaquín Almunia, o pior da crise econômica já passou, mas as condições ainda não são favoráveis. "Esperamos neste ano uma contração da economia na casa dos 4%, o que é muito", disse à Deutsche Welle sua porta-voz, Amelia Torres.
Cinco milhões de pessoas perderam seus empregos nos 27 países da União Europeia, sendo que o desemprego pulou de 6,8% em 2008 para 8,9% neste ano. "Apesar de haver sinais de uma recuperação lenta, o mercado de trabalho ainda sofrerá impactos", avalia Torres.
Ao grande desafio de implementar medidas para solucionar o problema, soma-se um novo aspecto, que diz respeito aos sexos: diferentemente das anteriores, esta crise afetará não apenas os homens, já que as mulheres estão mais integradas do que nunca ao mercado de trabalho.
Elas ocupam 44% dos postos de trabalho na Europa e, segundo a Eurostat, órgão europeu de estatísticas, quando o desemprego começou a crescer em 2008, ele já afetava mais mulheres do que homens em 20 países da União Europeia (UE).
Igualmente afetados?
Um estudo realizado por Mark Smith, da Grenoble École de Management, em maio último – a pedido da Comissão Europeia e da Direção Geral de Emprego, Assuntos Sociais e Igualdade de Oportunidades – assegurava que o pior está por vir. E que serão elas, e não eles, os mais afetados: "Pois são as mulheres que se concentram em trabalhos flexíveis, de meio período, com salários menores e de curta duração", diz Smith.
A situação se agrava quando se leva em conta que, no caso de casais separados, é a mãe que chefia e sustenta a família. E, no caso de famílias com renda dupla, é a mulher – que tem, em média, a pior remuneração – que passa a sustentar o lar quando o homem é despedido.
Quem se sente segura?
Segundo Cristina Vicini, da Professional Women International, uma pesquisa não representativa entre as 3.500 afiliadas da associação indicou que apenas 20% têm a sensação de ter seu emprego garantido, embora tenham reduzido seus gastos. A pesquisa revelou também que 16% já perderam o emprego e 13% acreditam que ficarão desempregadas ainda em 2009. Outros 12% sentem-se seguras, mas não sairão de férias e se dedicam mais ao trabalho com medo de perdê-lo. Apenas 8% disseram que as condições haviam melhorado no último ano.
Outro fator preocupante é que não há previsão de crescimento nos setores tipicamente ocupados por mulheres. Como a educação, por exemplo, setor 78% ocupado por mulheres e que emprega 17% das mulheres da União Europeia, e as áreas social e de saúde, onde 71% das vagas são preenchidas por mulheres, ou seja, 11% da população feminina da UE.
No setor manufatureiro, onde 31% da força de trabalho é composta por mulheres, que juntas somam 13% das trabalhadoras da UE, está prevista uma redução de 43% dos postos de trabalho.
Crise torna direitos humanos "artigos de luxo"
"Nós temos reagido rapidamente com pacotes de estímulo: os governos estão investindo pesado para sustentar a atividade econômica e limitar o impacto no mercado de trabalho, e também estão investindo no setor público para compensar a falta de atividade no setor privado. As contribuições sociais foram reduzidas para que as companhias mantenham ou contratem empregados, sobretudo os menos capacitados", informa Torres.
"Todas as medidas são 100% neutras em relação ao gênero", alerta Myria Vassiliadou, secretária-geral do Lobby Europeu das Mulheres, que concentra 2.500 associadas nos 27 países-membros. O fato de os pacotes de recuperação terem focado principalmente a indústria automobilística e o ramo de construção significa, na opinião de Vassiliadou, que "os direitos humanos são artigos de luxo e, quando há uma crise, quem pode pensar neles?"
Retrocesso da igualdade
A crise econômica, que provocou uma redução de 5% do PIB europeu, e as medidas para solucioná-la – que não diferenciaram entre cidadãs e cidadãos – poderiam paralisar, ou até cancelar, os progressos alcançados pelas políticas para promover a igualdade dos gêneros. Segundo Smith, há um grande risco de que as "custosas medidas para apoiar a entrada das mulheres no mercado de trabalho" sejam repensadas.
Segundo a World Values Survey, em pleno século 21, cerca de 42% da população europeia ainda pensa que, se tiverem que optar, é o homem o legítimo titular do posto de trabalho. "Muitas vezes, as mulheres são as primeiras a serem colocadas na rua", acusa Vassiliadou. "Pois os empregadores acreditam que, segundo uma lei não escrita, há sempre um homem por trás de uma mulher."
O estudo de Grenoble recomenda que sejam observados os diferentes pontos de partida de ambos os sexos e que se aceite o fato de que as mulheres estão mais expostas à insegurança econômica. Para o Lobby Europeu das Mulheres, ao definir novas políticas, é preciso "reconhecer que existe um aspecto de gênero nesta crise e que ele é muito forte".
Autora: Mirra Banchón
Revisão: Rodrigo Abdelmalack