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CPI chega ao fim com pedido de indiciamento de Bolsonaro

18 de outubro de 2023

Após cinco meses de trabalhos, comissão parlamentar aprova relatório final que aponta ex-presidente como responsável pelos atos golpistas de 8 de janeiro. Texto pede que Bolsonaro e outras 60 pessoas sejam indiciadas.

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Parlamentares conversam durante sessão da CPI dos atos golpistas
Relatório foi aprovado por 20 votos a 11, sem abstenções, e é de autoria da senadora Eliziane Gama (à direita)Foto: Lula Marques/Agência Brasil

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro aprovou nesta quarta-feira (18/10) seu relatório final, que pede o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outras 60 pessoas, incluindo cinco ex-ministros.

O relatório foi aprovado por 20 votos a 11, sem abstenções, e é de autoria da senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPI. Com o aval ao texto, chega ao fim a comissão criada para apurar a invasão dos prédios dos Três Poderes em Brasília no início do ano, após cinco meses de trabalhos.

O documento deverá ser entregue na semana que vem à Procuradoria-Geral da República (PGR), ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Polícia Federal (PF), órgãos que poderão decidir por apresentar ou não denúncias contra os envolvidos.

Eliziane pede que Bolsonaro seja indiciado por quatro crimes: associação criminosa; golpe de Estado; abolição violenta do Estado democrático de Direito e emprego de ações para impedir o livre exercício de direitos políticos. Somadas, as penas podem chegar a 29 anos de prisão.

No documento de 1.333 páginas, a relatora afirma que "Bolsonaro nunca nutriu simpatia por princípios republicanos e democráticos". "Prova disso é a extensa documentação trazida ao conhecimento desta CPI e que comprova tais fatos", declarou.

"Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República e, desde o primeiro dia do seu governo, atentou contra as instituições estatais, principalmente aquelas que significavam, de alguma forma, obstáculo ao seu plano de poder", completa.

Alguns dos citados

Além de Bolsonaro, o texto pede o indiciamento de outras 60 pessoas, entre civis e militares, a exemplo dos ex-ministros e generais Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Walter Braga Netto (Casa Civil e Defesa), Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) e Paulo Nogueira (Defesa), além do general Freire Gomes (ex-comandante do Exército).

Ao mirar alguns dos principais atores do bolsonarismo, ela também pediu o indiciamento de Anderson Torres (ex-ministro da Justiça e então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal na época dos ataques), almirante Garnier Santos (ex-comandante da Marinha), tenente-coronel Mauro Cid (ex-ajudante de ordens e principal assessor de Bolsonaro), Filipe G. Martins (assessor para Assuntos Internacionais) e a deputada Carla Zambelli (PL-SP).

O que diz o relatório

No relatório, a senadora escreve que Bolsonaro "tem responsabilidade direta, como mentor moral, por grande parte dos ataques perpetrados a todas as figuras republicanas que impusessem qualquer tipo de empecilho à sua empreitada golpista".

Para Eliziane, o ex-presidente estava cercado por movimentos golpistas, que chegaram ao seu auge no último dia 8 de janeiro, quando uma turba de radicais de extrema direita marchou até Brasília, invadiu e depredou prédios públicos na Praça dos Três Poderes.

E a participação de Bolsonaro no episódio, de acordo com a senadora, foi evidenciada principalmente pelo depoimento do programador Walter Delgatti Neto, conhecido como hacker da Vaza Jato, condenado a 20 anos de prisão, e pela delação premiada de Mauro Cid, principal ajudante de ordens do ex-presidente.

Eliziane argumenta que Bolsonaro "já bradava contra as instituições mesmo no século passado, defendendo em vários momentos ações da ditadura militar. Para atingir seu intento, o então presidente da República instrumentalizou não somente órgãos, instituições e agentes públicos, mas também explorou a vulnerabilidade e a esperança de milhares de pessoas".

Em relação aos ex-ministros, a senadora diz que eles acolheram "subjetivamente às condutas criminosas de Jair Messias Bolsonaro e demais indivíduos em seu entorno, colaborando decisivamente para o desfecho dos atos de 8 de janeiro de 2023".

O 8 de Janeiro

Na tarde de domingo, 8 de janeiro de 2023, extremistas bolsonaristas invadiram o Congresso Nacional, a sede do Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto em Brasília.

Os golpistas, que estavam concentrados há semanas em frente ao Quartel-General do Exército, invadiram primeiro a sede do Congresso Nacional e depois se dirigiram para as sedes dos outros Poderes, deixando um rastro de destruição.

Eles se diziam insatisfeitos com o resultado da eleição de novembro de 2022, que terminou com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o então presidente Jair Bolsonaro (PL) por uma margem apertada.

Diversos golpistas já foram julgados pelo STF, com alguns deles tendo sido condenados a penas que variam de 14 a 17 anos de prisão pelos seguintes crimes: abolição violenta do Estado Democrático de Direito; associação criminosa armada; dano qualificado; deterioração do patrimônio tombado e golpe de Estado.

ek/rk (ots)