A CSU e os homossexuais
24 de outubro de 2006A União Social Cristã (CSU) divulgou seu programa político, nesta segunda-feira (23/10), em Munique. O documento traz o reconhecimentos dos relacionamentos homossexuais, o que é visto por alguns como um despertar tardio à realidade e por outros como uma ameaça à família tradicional.
Na seção de oito páginas sobre política familiar, o partido rejeita a idéia de dar a relações homossexuais o mesmo fundamento legal que tem o casamento entre um homem e uma mulher, ou autorização a casais de gays ou lésbicas para adotarem crianças. A CSU está há décadas no poder na Baviera, em grande medida católica e amplamente conservadora. Mas, declara o partido, "admitimos [relacionamentos homossexuais], quando as pessoas envolvidas podem assumir responsabilidades e cuidar umas das outras".
Numa conferência de imprensa, onde o relatório foi apresentado, o presidente da bancada estadual do partido, Alois Glück, disse que a CSU tomou este novo posicionamento considerando que os relacionamentos gays refletem a realidade atual. "A mensagem é: a CSU tem uma visão realista e contemporânea da família, mas também orientada por valores," afirmou.
O gesto representa um esforço em admitir que os relacionamentos gays existem e que podem ter valor, mas o partido ainda se posiciona firmemente apoiado numa visão tradicional da família, com mãe, pai e filhos. "Queremos mostrar que respeitamos os valores vividos nestes relacionamentos," disse a vice-presidente do partido, Beate Merk, em entrevista à Rádio da Baviera, referindo-se a casais de mesmo sexo. "Mas, queremos deixar claro que só até certo ponto."
No último programa político da CSU, semelhante ao divulgado esta semana, de 1993, gays e lésbicas não eram mencionados.
A CSU e os gays
Hellmuth Pusch, líder da Associação de Lésbicas e Gays da Alemanha na Baviera, e outros grupos gays não acham que o partido tenha ido tão longe quanto deveria. Enquanto o novo posicionamento é uma ligeira mudança, Pusch diz que a Baviera e a CSU ainda estão distantes do restante da Alemanha no que se refere à aceitação da homossexualidade.
A Baviera é um dos Estados federados que foram ao Supremo Tribunal tentar bloquear a lei que permite o registro de relações homossexuais. E ainda é um dos únicos Estados que não registram estes relacionamentos no Cartório de Registro Civil como os casamentos heterossexuais, mas sim exigem que os casais gays procurem um tabelião.
"Mas, é um começo," afirma Pusch. "A CSU está pegando o caminho certo e isto é bem-vindo."
Eleitores em mente?
Enquanto alguns políticos da CSU talvez sintam ser hora de abandonar, ou pelo menos rever, alguns pontos de vista tradicionalistas, há quem veja motivos políticos por trás da decisão do partido. O diário taz, conhecido por suas manchetes espirituosas, intitulou sua história sobre a nova política "CSU doidinha por eleitores gays."
Embora isso possa ser um exagero, é fato que a CSU vem buscando ao longo de décadas dominar o cenário político da Baviera. O partido ainda teve 62% dos votos nas últimas eleições, mas as maiores cidades do Estado, como Munique, Nurembergue e Augsburg, são todas governadas pelo Partido Social Democrata (SPD).
"Em geral, um partido que formula políticas que não refletem a realidade da vida irá perder a cada dia mais eleitores," afirmou Alex Hochrein, chefe do LSU, um grupo que representa gays e lésbicas na União Democrata Cristã (CDU) e na CSU.
Conflito interno
A tentativa da CSU de animar gays e lésbicas não cai bem a todos do partido. Um grupo de oito parlamentares da CSU divulgou um relatório advertindo que o partido não deveria enfraquecer sua posição de privilegiar o casamento tradicional. De acordo com o documento, as crianças precisam de "pai e mãe em seus diferentes papéis".
Quatro dos oito deputados que expressaram seus sentimentos conservadores nasceram em ou após 1970. "Na CSU, não se pode julgar os políticos pela idade, mas se deve verificar de qual área eles procedem, rural ou urbana," acrescentou Hochrein. Enquanto membros das grandes cidades da Baviera advogam por mais aceitação, aqueles das regiões rurais têm idéias bem diferentes.
"No interior do país, que é muito católico e onde a Igreja tem uma influência enorme, mesmo uma mãe solteira ainda é, algumas vezes, vista como um escândalo," afirmou. "Este é o malabarismo que o partido tem que fazer."