Conflito em Mianmar causa fuga em massa
7 de setembro de 2017Mais de 250 mil refugiados, a maioria da etnia muçulmana rohingya, entraram em Bangladesh desde outubro do ano passado, fugindo de um conflito em Mianmar, afirmou a ONU nesta quinta-feira (07/09).
Com a escala da violência entre o Exército e a minoria étnica, somente nas últimas duas semanas, cerca de 164 mil rohingya cruzaram a fronteira de Bangladesh. A fuga em massa superlotou acampamentos de refugiados, e a situação está à beira de uma crise humanitária.
Em Mianmar, a recente onda de violência deixou ao menos 414 mortos no oeste do país. O conflito começou no dia 25 de agosto, quando efetivos armados do Exército de Salvação Rohingya de Arakan (ARSA) atacaram cerca de 20 instalações governamentais no estado de Rakhine (antigo Arakan).
O comitê de informação do Escritório da Conselheira de Estado, a Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, reportou que desde o ataque morreram 371 rebeldes, 15 efetivos governamentais e 28 civis. Cerca de sete mil casas foram destruídas durante os combates, o que deixou mais de 26,5 mil deslocados internos.
Suu Kyi foi duramente criticada pelo silêncio perante a crise humanitária no estado de Rakhine, onde residem 1,1 milhão de rohingya. Em resposta, a Nobel da Paz assegurou que o governo protegerá os direitos de todas as pessoas e garantiu que não permitirá o terrorismo.
"Claro que nossos recursos não são completos e adequados como gostaríamos, mas estamos tentando fazer o melhor e garantir a todos a proteção da lei", ressaltou Suu Kyi, sem citar a fuga em massa da minoria muçulmana.
Suu Kyi criticou ainda a falsas informações em torno da atual crise e culpou terroristas pelo "iceberg de desinformação".
O conflito
Desde o início dos confrontos, o ARSA e as Forças Armadas trocaram acusações sobre violações dos direitos humanos. Ao grupo insurgente também é atribuída a autoria do ataque contra três postos de fronteira em 9 de outubro de 2016, que desencadeou uma violenta operação de represália do Exército.
As autoridades de Mianmar alegam que os rebeldes rohingya querem criar um estado muçulmano autônomo no país de maioria budista.
Os membros da etnia muçulmana, com raízes centenárias no país, sofrem uma crescente discriminação desde o surto de violência sectária de 2012, que deixou pelo menos 160 mortos e cerca de 120 mil pessoas confinadas em 67 campos de deslocados.
As autoridades de Mianmar classificam os rohingya de "bengaleses", ou seja, cidadãos do país vizinho Bangladesh. Apesar de alguns deles viverem há gerações no país, o governo do Estado majoritariamente budista lhes nega a cidadania. Qualquer membro da etnia rohingya que deixar Mianmar é tratado como migrante ilegal, caso queira voltar.
CN/efe/rtr/lusa/afp