Temor de recessão
27 de outubro de 2008Os crescentes temores de uma recessão causada pela crise financeira fizeram com que, em outubro, a confiança dos empresários no desempenho da economia da Alemanha caísse para o menor nível desde maio de 2003.
O Índice Ifo, divulgado nesta segunda-feira (27/10) e que mede a confiança dos empresários alemães na economia do país, recuou de 92,9 pontos em setembro para 90,2 pontos em outubro. A maioria dos analistas havia previsto uma queda do índice, mas não tão acentuada.
"Os empresários alemães estão se preparando para uma desaceleração da atividade econômica", afirmou o presidente do Instituto Ifo, Hans Werner Sinn, ressalvando que a avaliação da conjuntura atual entre os empresários até melhorou. O que piorou foi a perspectiva para os próximos seis meses.
No cálculo do Índice Ifo são considerados dois componentes: um indicador que avalia a situação atual nas empresas e outro que mede a expectativa para os próximos seis meses. O primeiro teve ligeira alta, de 99,8 para 99,9 pontos entre setembro e outubro. O segundo caiu bruscamente, de 86,5 para 81,4 pontos no mesmo período. Para o cálculo do índice são ouvidos cerca de 7 mil empresários.
Volks salva o DAX
O pessimismo dos empresários encontrou eco na Bolsa de Frankfurt. O índice DAX subiu 0,91% nesta segunda-feira, para 4.334,64 pontos, mas isso por causa das ações da Volkswagen, que registraram forte alta devido à divulgação de novos detalhes sobre a aquisição da montadora pela Porsche.
Sem a "ajuda" das ações da Volkswagen, o DAX teria fechado em queda de 9%. Os papéis da maior montadora européia fecharam em alta de 146,62%, depois de terem se valorizado mais de 200% ao longo do dia.
No último final de semana, a Porsche divulgou que já detém 42,6% das ações da Volkswagen e tem opções de compra de mais 31,5%. A Porsche planeja ultrapassar a barreira dos 50% até o final deste ano.
As ações que mais se desvalorizaram no dia foram as do banco Postbank, que caíram 24,04%. Nesta segunda-feira, a instituição divulgou ter sido fortemente afetada pela crise financeira durante o terceiro trimestre do ano, que se encerrou com prejuízo de 449 milhões de euros. A principal causa do prejuízo são negócios com o banco americano Lehman Brothers, que quebrou.
O banco precisa de uma injeção de capital da ordem de 1 bilhão de euros. O valor é garantido pela empresa Deutsche Post, que controla o banco. De acordo com o presidente do Postbank, Wolfgang Klein, a empresa não fará uso do pacote de ajuda do governo alemão. "Decidimos seguir um caminho privado", disse Klein.
Montadoras paralisadas
Também a economia real deu novos sinais de que sente cada vez mais os reflexos da crise do mercado financeiro. Nesta segunda-feira, a montadora Daimler anunciou que dará férias coletivas a 150 mil funcionários na época do Natal. A produção será paralisada em todas as 14 fábricas na Alemanha por até quatro semanas.
Segundo a Daimler, trata-se de uma reação à insegurança do mercado automobilístico mundial. Outra montadora alemã, a BMW, suspendeu nesta segunda-feira a produção na sua unidade de Leipzig. As atividades serão retomadas na quinta-feira. Em novembro, será a vez das unidades de Regensburg e de Munique pararem por cinco dias. Também a fornecedora de autopeças Bosch deu férias coletivas a 400 funcionários em Reutlingen-Rommelsbach.
Para o especialista em indústria automotiva Ferdinand Dudenhöffer, da Universidade de Duisburg-Essen, muitos fornecedores de autopeças poderão não sobreviver à atual conjuntura. Isso significaria o corte de muitos postos de trabalhos. "O setor está diante de um ano muito negro", previu em entrevista à Deutsche Welle.
BCE planeja corte de juros
Autoridades monetárias também reagiram à crise. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, disse nesta segunda-feira que os juros básicos europeus poderão cair mais uma vez na próxima semana. Ele avaliou que os riscos de inflação diminuíram ainda mais desde 8 de outubro, quando vários bancos centrais reduziram suas taxas de juros, numa ação coordenada.
Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou nesta segunda-feira que dará uma ajuda financeira substancial à Hungria. O valor não foi revelado. No domingo, o FMI anunciara um empréstimo de 16,5 bilhões de dólares à Ucrânia. Na semana passada, a Islândia foi socorrida com um empréstimo de 2 bilhões de euros.