Conib repudia mensagem do governo que remete a lema nazista
12 de maio de 2020A Confederação Israelita do Brasil (Conib) manifestou nesta segunda-feira (11/05) repúdio a um vídeo institucional publicado pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) para divulgar medidas adotadas pelo governo no combate à crise sanitária provocada pelo novo coronavírus, em que foi utilizada a mensagem "O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil".
Em nota, a Conib lembrou que a frase "O trabalho liberta" ("Arbeit macht frei", em alemão) está inscrita na entrada do antigo campo de extermínio de Auschwitz, utilizado pelos nazistas durante a Segunda Guerra.
"É conhecidíssima a relação desse mote com a mais infame instituição do Holocausto, o campo de extermínio de Auschwitz. Ali, no seu portão de entrada, uma placa com esses dizeres transmitia a mentira de que aquele era um local de trabalho e de possível liberdade – quando se tratava da principal fábrica de mortos do nazismo", disse o presidente da Conib, Fernando Lottenberg.
"É lamentável ver, mais uma vez, questões caras ao judaísmo e à humanidade em geral serem banalizadas e emuladas, ofendendo a memória das vítimas e dos sobreviventes, em um momento já tão difícil do nosso país e do mundo", concluiu Lottenberg.
O vídeo foi publicado pela Secom no fim de semana e surgiu em meio às críticas de falta de empatia do presidente Jair Bolsonaro em relação à quantidade de brasileiros mortos em decorrência do novo coronavírus, que passou de 10 mil no sábado, segundo dados do Ministério da Saúde.
"Parte da imprensa insiste em virar as costas aos fatos, ao Brasil e aos brasileiros. Mas o @govbr, por determinação de seu chefe, seguirá trabalhando para salvar vidas e preservar o emprego e a dignidade dos brasileiros. O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil", diz o texto que apresenta o vídeo e também aparece ao final dele, no perfil da Secom no Twitter.
O secretário da Secom, Fabio Wajngarten, defendeu-se e acusou críticos de "analfabetismo funcional" e de fazerem uma interpretação equivocada para "associar o governo ao nazismo", acrescentando que ele próprio é judeu.
"Abomino esse tipo de ilação canalha, sobretudo nos tempos difíceis pelos quais estamos passando. Esquecem os ensinamentos judaicos recebidos por mim e por boa parte da minha equipe, e da tradição de trabalho do povo judeu de lutar pela sua liberdade econômica", escreveu Wajngarten em sua conta no Twitter.
O responsável da Secom afirmou ainda que a comparação banaliza a história, considerando que "acusar injustamente de nazifascismo tira o peso do termo". "Se todos são nazifascistas, ninguém é, o que muito interessa aos criminosos, que passam a ser vistos como pessoas comuns", afirmou. "É a isso que se prestam alguns políticos e veículos da mídia na busca por holofotes a qualquer preço."
Esta não é a primeira vez que membros do governo Bolsonaro são acusados de usar referências nazistas. Em janeiro, o então secretário de Cultura, Roberto Alvim, foi exonerado por Bolsonaro, depois de ter feito um discurso em que copiou Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista. Após críticas, o ex-secretário defendeu que se tratava de uma "coincidência retórica" entre os discursos.
Em março do ano passado, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, fez uma comparação com o nazismo ao rebater críticas ao governo Bolsonaro feitas numa coluna em o jornalista alemão Philipp Lichterbeck para a DW. "Lamentável que um canal público alemão escreva isso do Brasil. Essa sua descrição se parece mais com o que a própria Alemanha fez com as crianças judias e tantos outros milhões de torturados e mortos em seus campos de concentração...", escreveu o ministro na época.
Mais recentemente, há algumas semanas, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi instado a pedir desculpas à comunidade judaica no país por ter comparado as medidas de distanciamento social impostas pelos governadores brasileiros para combater a covid-19 com os campos de concentração nazistas.
PV/lusa/ots
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