Com vacinas sobrando, Alemanha tenta agilizar doações
30 de julho de 2021Aproximadamente 60% da população da Alemanha já foi vacinada pelo menos uma vez contra a covid-19. Para a política nacional, isso significa um marco alcançado: até agora, "todos que estejam dispostos a se vacinar na Alemanha receberam uma oferta de vacina", consta do relatório do Ministério da Saúde de 26 de julho de 2021 sobre a campanha de vacinação.
Embora a disposição à inoculação tenha diminuído, aguardam-se mais cerca de 100 milhões de doses para o terceiro trimestre, de julho a setembro. A oferta supera a demanda, e há, portanto, doses disponíveis para doação.
O governo federal havia decidido doar a outros países pelo menos 30 milhões de doses até o fim de 2021. No começo de junho, seguiu-se a resolução de que seriam entregues os imunizantes da AstraZeneca e da Johnson & Johnson. Agora é hora de iniciar a operação internacional de doação, seguindo um plano central do Ministério da Saúde.
Um desafio é reunir e levar de volta aos depósitos federais tanto as doses que restaram nos centros estaduais de distribuição, quanto as já distribuídas entre médicos e postos de vacinação, e que não deverão mais ser utilizadas nos locais. Em seguida, segundo o Ministério, é preciso assegurar que os imunizantes "estejam qualitativamente impecáveis e apresentem uma certa data de validade".
Recentemente, alguns médicos se queixaram que doses urgentemente necessárias no exterior correm o risco de estragar na Alemanha. No entanto, "por razões legais", consultórios, municípios ou estados alemães não têm autonomia para doar as vacinas a outros países ou projetos, ressalva a pasta da Saúde.
Covax e doações bilaterais controversas
A partir de 2 de agosto, deverão ser enviadas as primeiras doses ao programa internacional Covid-19 Vaccines Global Access (Covax). A iniciativa, que visa reduzir a desigualdade de vacinas entre os países industrializados e os emergentes ou em desenvolvimento, deverá receber quatro de cada cinco doses doadas pela Alemanha e decidir a que regiões distribuí-las.
A agência humanitária da Igreja luterana alemã Brot für die Welt (Pão para o mundo) pede pressa: na África, por exemplo, apenas 1% da população está vacinada contra a covid-19, e "uma grave terceira onda custa muitas vidas humanas". Teria sido necessário, desde o início, equipar a Covax muito melhor do que tem sido o caso, critica a organização.
A Alemanha também doará 20% de seu excedente diretamente a países, sobretudo do oeste dos Bálcãs (3 milhões de doses), assim como à Ucrânia, Armênia e Namíbia, porém a ação ainda não tem data marcada para começar.
As doações bilaterais de vacinas contra o novo coronavírus são objeto de polêmica, suspeitas de servirem a fins estratégicos dos Estados doadores, numa espécie de "diplomacia da vacina". A Brot für die Welt vê a questão com pragmatismo: as doações bilaterais "podem não ser ideais, mas se forem realizadas em regiões onde não há outras vacinas, são melhor do que nada".
A agência eclesiástica considera os 30 milhões de doses que a Alemanha planeja doar uma boa coisa, "mas são apenas uma pequena parte", e "só uma ampliação das capacidades vai nos levar adiante", afirma.
Já foram dados os primeiros passos nesse sentido, com mais instalações de produção in loco. Contudo falta ainda a quebra de patentes, como reivindicam a Índia e a África do Sul desde outubro de 2020.