Com Jean Castex, França ganha mais um premiê conservador
3 de julho de 2020Às 10 horas da manhã desta sexta-feira (03/07), caixas de mudança chegaram ao Hôtel Matignon, a residência oficial dos primeiros-ministros. Paris pôde ver conservador Édouard Philippe sendo dispensado. O presidente Emmanuel Macron se despediu dele com palavras calorosas – e duas horas mais tarde veio o nome do substituto, o também conservador Jean Castex. Um alto funcionário, até o momento sem grande perfil público, assumirá o posto de chefe de governo.
Uma olhada na lista dos premiês franceses desde o início da Quinta República, em 1958, mostra que alguns não ficaram mais de um ano no cargo. Se algo dá errado, eles são afastados sem a menor cerimônia. Três anos foram um bom tempo para Philippe se segurar no cargo. Ele também fez seu trabalho excepcionalmente bem, aliviou a carga de Macron, e consta que ambos se entendiam bem. O governo resistiu politicamente tanto às batalhas de rua com os "coletes amarelos", quanto às intermináveis greves contra a reforma da Previdência.
Na França, o primeiro-ministro não é tanto um político autônomo, mas quem executa a política do presidente em exercício. Nesse ponto, é possível que tenha contado negativamente para Philippe o fato de ele acabar se tornando mais popular do que o próprio presidente. No fim da crise do coronavírus, o ex-premiê contava com 58% de popularidade, 20 pontos porcentuais à frente de Macron.
No entanto, há semanas já se especulava que no verão Macron efetuaria um recomeço político. Para tal, é comum que se deponha todo o governo, com o objetivo de, por meio de novas caras, convencer a opinião pública de uma mudança de direção.
O resultado das eleições municipais do último fim de semana deve ter reforçado ainda mais essa intenção do presidente, pois seu partido, o República em Marcha (LREM), sofreu uma dura derrota. O LREM, do qual Philippe também é membro, continua se apresentando como legenda presidencial e não conseguiu se firmar em governos municipais. Em vez disso, uma onda verde atravessou o país, com o partido Europa Ecologia - Os Verdes (EELV) conquistando as prefeituras de cidades importantes.
Tal cenário só fez aumentar a perplexidade em relação à figura do novo premiê. Jean Castex só ficou conhecido pela opinião pública por ter coordenado, nas últimas semanas, pela reabertura do país após a paralisação ditada pela covid-19. Ele foi chamado pela imprensa de "senhor desconfinamento".
Fora isso, o político de 55 anos – natural da região de Gers, no sudoeste da França – é um funcionário de segunda linha. Entre outras funções, foi secretário-geral adjunto do presidente conservador Nicolas Sarkozy entre 2011 e 2012, e, desde 2008, era prefeito da pequena Prades.
Com Castex, mais uma vez um representante da direita substitui um primeiro-ministro conservador que trabalhava com êxito. O perfil de Castex não inclui nem política social, nem ambiental. Observadores políticos de Paris reagiram com relativo desapontamento, e muitos tuitaram: "Mais do mesmo – a sensação de déjá-vu."
Castex frequentou escolas de elite parisienses, pertencendo, assim, à classe política tradicional da França. Certo está que ele não é a favor de uma ruptura com o trabalho governamental dos últimos três anos.
Com a escolha de Castex, Macron passou por cima da ministra da Defesa Florence Parly, a qual, enquanto mulher e socialista, teria sido um sinal de mudança política. E também deixou de lado seu ministro do Exterior, o socialista e altamente experiente Jean-Yves Drian, que conhece o aparato governamental como ninguém, e que também teria representado um guinada para a esquerda.
Em vez disso, o chefe de Estado escolheu um insider político, que, sem perfil próprio, terá acima de tudo a tarefa de implementar as intenções de Macron com o mínimo ruído possível, sem roubar dele as luzes da ribalta.
Há muito a fazer, pois será difícil a recuperação econômica da França após o colapso devido à pandemia. E o presidente perdeu terreno em todas as frentes: taxa de desemprego em declínio, mais investimentos e crescimento econômico – tudo se foi. Macron precisa recomeçar do ponto de partida, e para tal dispõe de menos de dois anos, até as eleições nos primeiros meses de 2022.
A prioridade é, se possível, conduzir o país sem danos adicionais para fora da atual fase aguda da crise do coronavírus. Entre os grandes projetos inacabados, consta ainda a reforma da Previdência, suspensa devido à eclosão da pandemia. Ela deverá acontecer, apesar de tudo, mas em forma abrandada: a partir de agora, Macron não pode mais se permitir contrariar o eleitorado.
Ao mesmo tempo, ele se vê diante de uma dívida estatal em franca expansão e das altas exigências dos franceses quanto aos gastos sociais. E por fim, precisa compensar a vitória dos verdes nas eleições municipais. A transformação da França em país ecologicamente sustentável, mais transportes públicos de curta distância, mais guinada energética: tudo isso custará muito dinheiro.
Seja como for, com a posse de Castex, Macron indica que o novo chefe de governo antes de tudo tem uma função: fazer seu trabalho em silêncio.
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