Com fama de misógino, Duterte é criticado após lei antiabuso
16 de julho de 2019O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, vem sendo fortemente criticado por grupos de defesa dos direitos das mulheres após endossar uma nova lei que visa combater o assédio sexual no país – algo que muitos consideram contraditório, tendo em vista seu comportamento abertamente misógino.
A legislação proíbe ações como contar piadas de conteúdo sexual, utilizar termos sexistas e fazer cantadas, assoviar e encarar mulheres de modo intrusivo em locais públicos – atos que o próprio presidente já foi acusado diversas vezes de cometer.
A chamada Lei de Lugares Seguros foi assinada em abril, mas foi apenas tornada pública nesta segunda-feira (15/07). As pessoas que forem pegas se comportando de maneira ofensiva em locais públicos, incluindo ruas, escolas, escritórios e bares, poderão receber multa ou até cumprir penas de prisão.
Atos como expor publicamente órgãos genitais, apalpar ou forçar o contato com outra pessoa poderão render seis anos de prisão ou multas de centenas de dólares.
Duterte, de 74 anos, já foi acusado diversas vezes de assédio sexual. Ele é conhecido por ter feito declarações sexistas e contado piadas sobre estupros em discursos públicos. Pouco antes de se tornar presidente, ele assoviou para uma repórter durante uma coletiva de imprensa transmitida para todo o país.
No ano passado, o presidente foi acusado de abuso de autoridade ao beijar uma cidadã filipina casada nos lábios, em frente a uma grande plateia na Coreia do Sul. Ele já ordenou publicamente soldados de seu país a atirarem na vagina de guerrilheiras comunistas.
Em 2016, Duterte chegou a dizer que desejava estuprar uma "linda" missionária australiana que sofreu agressões sexuais e foi morta em uma prisão filipina.
O porta-voz da presidência, Salvador Panelo, rejeitou as acusações de misoginia contra o presidente e disse que ele obedecerá a nova lei. "Quando ele conta uma piada, a intenção é fazer as pessoas rirem", afirmou Panelo. "Vocês, mulheres, deveriam saber que misoginia é algo diferente de fazer as pessoas rirem."
A jornalista e ativista filipina Inday Espina-Varona contou que a lei antiabusos já era aguardada há muito tempo. "Ela apenas escancara a verdade: ele [Duterte] acredita estar acima da lei", afirmou.
No Twitter, o partido político Gabriela, cuja plataforma é a defesa dos direitos das mulheres, escreveu que Duterte é o "mais descarado violador das intenções da lei, com suas típicas declarações macho-fascistas". "Nesse contexto, implementar essa lei será certamente um desafio", acrescentou a sigla.
RC/afp/ap/dpa
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