Assunto delicado
2 de julho de 2010A Finlândia tomou uma decisão numa área em que muitos países europeus ainda são reticentes: vai construir dois novos reatores nucleares, a cargo das empresas Teollisuuden Voima (TVO) e Fennovoima.
O Parlamento finlandês aprovou a construção nesta quinta-feira (01/07). O governo argumenta que as novas instalações ajudarão a combater as mudanças climáticas e criarão novos empregos, o que é contestado por ambientalistas.
"Esta é uma das decisões mais importantes do meu governo, porque realmente aumenta a competitividade da Finlândia e irá criar novos empregos e, portanto, elevar o desenvolvimento econômico", declarou a primeira-ministra Mari Kiviniemi após a votação.
Contra a expansão
"Entre os tomadores de decisão finlandeses, há claramente uma maioria a favor da energia nuclear, mas, entre os cidadãos, a maioria é contra", disse a ministra do Trabalho, Anni Sinnemaeki, da Liga Verde, que se declarou desapontada com a decisão.
Entre os ambientalistas há o temor de que a decisão signifique um retrocesso nos investimentos em energias renováveis, como a eólica e a biomassa, incluindo os de outros países. "A Finlândia já está atrás nesse desenvolvimento e nós temos pouca energia eólica aqui em comparação com a Alemanha ou a Espanha", disse Juha Aromaa, do Greenpeace finlandês, à Deutsche Welle.
Outra preocupação reside na possibilidade de o país começar a exportar a eletricidade gerada a partir da energia nuclear, primeiramente para o Nord Pool, a bolsa de energia dos países nórdicos – Noruega, Dinamarca, Suécia e Finlândia.
"A expansão seria um veneno para nós", disse Lars Aagaard, diretor do consórcio de energia dinamarquês Dansk Energi ao jornal Die Tageszeitung. Ele argumenta que a exportação finlandesa poderia aumentar muito a oferta de energia, o que provocaria queda dos preços e faria com que os investimentos já planejados em energias renováveis não valessem mais a pena.
Há dez anos, quando o país discutia a expansão de seu programa de energia nuclear e a construção de uma nova planta – que atualmente está em andamento –, o governo apresentou um plano ambicioso de investimento em energias renováveis. Mas depois de uma década, praticamente nada aconteceu, dizem os críticos. Apenas 0,3% da eletricidade finlandesa é produzida a partir da energia eólica.
Ideia aceita
A Finlândia tem atualmente quatro reatores nucleares em operação e um em construção. O empreendimento da francesa Areva deve entrar em funcionamento em 2013, apesar de o projeto já ter sofrido atrasos e aumento nos custos. Aproximadamente 30% da eletricidade gerada no país provêm dos reatores nucleares.
Quando a unidade francesa estiver em operação, juntamente com as outras duas novas unidades planejadas, a capacidade de geração de eletricidade nas usinas nucleares vai triplicar. É possível que toda a demanda finlandesa seja atendida a partir de então.
Uma pesquisa feita em fevereiro último, encomendada pela associação industrial nacional, revela que 48% dos finlandeses têm uma atitude positiva quando o assunto é energia nuclear. O estudo mostrou ainda que 17% reagem mal ao tema e 29% se dizem neutros.
"As pessoas consideram o fato de que as usinas nucleares não emitem dióxido de carbono", disse Silje Holopainen, secretária da Sociedade Nuclear Finlandesa, à Deutsche Welle. "Nós estamos relativamente à frente nas pesquisas sobre como lidar com o lixo atômico, então as pessoas não veem realmente um problema nisso."
Holopainen nega a ideia de que a expansão nuclear vá prejudicar o desenvolvimento de energias renováveis. "Estamos investindo em energia eólica, mas acho que precisamos de muitos tipos diferentes de produção de energia", acrescentou.
Independência energética
O governo finlandês acelerou o ritmo para conseguir a permissão para construção dos reatores antes do recesso legislativo. A administração federal argumentou que a demanda por energia no país está crescendo, e que é preciso diminuir as taxas de importação de eletricidade da Rússia – 2009 foi o ano em que a Finlândia mais comprou energia russa, que corresponde a 15% do consumo finlandês.
"Antes de qualquer coisa, temos que ser capazes de substituir a importação de eletricidade da Rússia. Temos de ser independentes deles e não há sentido em pagar para a Rússia por uma eletricidade que podemos produzir aqui", alega o ministro de Finanças, Jyrki Katainen.
No entanto, Aromaa minimiza esse argumento, dizendo duvidar que a Finlândia vá um dia parar completamente de importar energia da Rússia. Segundo ele, os russos vendem eletricidade a 25 euros por megawatt, enquanto que o Nord Pool vende a 50 euros.
O ambientalista também aponta contradições no discurso do governo quanto ao aumento da demanda de energia. Aromaa afirma que a indústria pesada finlandesa, como produtoras de papel e aço, estão se mudando para fora do país, e que a economia local se baseia cada vez mais em serviços e alta tecnologia.
O consumo de eletricidade na Finlândia é o maior na União Europeia – mais do que o dobro do consumo per capita na Alemanha. Isso se deve parcialmente ao fato de que as temperaturas no inverno podem chegar a 50 graus abaixo de zero.
Autores: Kyle James / Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler